Violência toma conta das ruas de Ouro Preto e amedronta moradores

Localizado estrategicamente às margens da PE-15, uma das principais vias de Olinda, na Região Metropolitana do Recife, o bairro de Ouro Preto vem sofrendo com a crescente insegurança. A localidade que era considerada pelos moradores como uma das mais tranquilas da cidade agora vive uma rotina de medo. Diariamente, através de um grupo fechado do Facebook chamado de "Já fui assaltado em Ouro Preto", os moradores relatam casos de assaltos, roubos, furtos, arrombamentos e até tentativas de abuso sexual. Um dos administradores da ferramenta, Allan Negreiros, de 27 anos, conta que há dias em que chegam entre 15 e 20 posts contando crimes no bairro.

As pessoas hoje quando veem uma moto na rua ficam apavoradasAllan Negreiros, morador há 27 anos

"O espaço - que tem mais de 9 mil membros - foi criado por Edyja Costa em 2015 com a intenção de debater a segurança pública e os casos de assalto dentro do bairro. Também queríamos identificar os locais de maior vulnerabilidade. Hoje sabemos que os crimes mais comuns são assaltos e o perfil das vítimas é sempre o mesmo: pessoas saindo para trabalhar ou chegando em casa e estudantes saindo das escolas", contou Allan que é estudante de Direito e mora em Ouro Preto desde que nasceu.

Allan ainda lamenta o fim da tranquilidade: "Isso está pior de um ano para cá. As pessoas hoje quando veem uma moto na rua ficam apavoradas. Era um bairro relativamente calmo, as pessoas ficavam nas ruas, as crianças brincando. Hoje em dia estão todos mais reservados."


Postagem feita para aliviar as tensões no grupo "Fui assaltado em Ouro Preto". Foto: reprodução

O quarto bairro mais populoso de Olinda, Ouro Preto tem 30.644 habitantes, sendo a maioria formada por mulheres (16.745) e uma área de 3,3 km². Em número de moradores, a localidade só fica atrás de Rio Doce, Jardim Atlântico e Peixinhos. Os dados são do Censo 2010 realizado pelo IBGE e compilados através do site populacao.net.br. 

Ouro Preto ainda é popularmente "subdividido" em pelo menos quatro partes: Argentina, Jatobá I, Jatobá II, Coahb/Embrião e Zona Rural. O tamanho do bairro e da população, o perfil econômico dos moradores (classe média) e o grande número de entradas/saídas do bairro são alguns dos fatores que podem favorecer a ação de bandidos. Esta é a visão do Major Pereira, comandante do 1º Batalhão da Polícia Militar (BPM), responsável pela segurança de Olinda (exceto Cidade Alta). Apesar de reconhecer algumas dificuldades, ele explica que não tem medido esforços para tentar reduzir os índices de violência no bairro.

Ouro Preto é o quarto bairro mais populoso de Olinda com 30.644 habitantes, sendo a maioria formada por mulheres

"Nós temos quatro automóveis e três motos fazendo a segurança de Ouro Preto. Fazemos rondas diariamente, 24h por dia. Temos um posto policial onde as pessoas podem pedir apoio e de onde são acionados os policiais que estão nas ruas. Além disso, temos um serviço de inteligência atuando para identificar criminosos e pontos de maior necessidade do nosso apoio", detalhou o Major Daniel.

Apesar do trabalho da PM, os casos de violência acontecem a qualquer hora e lugar e já está amedrontando até que está dentro de casa, como comentou uma moradora que se intitula de Lourdes de Ouro Preto: "Sábado, dia 28.01, entrou bandido as 16h30 na minha casa, na hora do chá de faldas. Até hoje estamos esperando a polícia. Deus nos livrou. Ele [o bandido] pegou dois celulares. Muitas mulheres, todas gritando, ele sumiu com o outro bandido que esperava numa moto. Casa de muro alto, à luz do dia. Onde vamos parar se na própria casa não estamos seguros?", desabafou ela num dos posts do grupo no Facebook.

Insegurança em Ouro Preto é reflexo de uma Olinda mais violenta

• Operação Padrão da PM gera sensação de insegurança no interior de PE
• Governo do Estado toma medidas impopulares contra insegurança
• Após arrastão, moradores e turistas relatam clima de insegurança em Olinda

O sentimento de insegurança vivido pelos moradores de Ouro Preto é compartilhado pelos olindenses de maneira geral já que a cidade está cada vez mais violenta. Entre 2015 e 2016, por exemplo, houve um aumento de 49,5% no número de Crimes Violentos contra o Patrimônio (CVP)  que engloba roubo, extorsão com restrição da liberdade da vítima e roubo com restrição da liberdade da vítima. 

Os dados são da Secretaria de Defesa Social (SDS) de Pernambuco que ainda mostram o crescimento no número de Crime Violento Letal Intencional (CVLI), que reúne homicídios, latrocínios, lesão corporal seguida de morte), furtos e estupros. O comparativo entre os dois anos anteriores estão expostos no quadro a seguir. Os dados de janeiro de 2017 ainda não foram divulgados pelo governo estadual.

A Secretaria de Defesa Social, por sua vez, posicionou-se através de nota sobre o aumento da violência em Olinda, no Grande Recife: "A SDS informa que vem ajustando a atuação das polícias em Olinda de modo a aumentar o policiamento ostensivo nos bairros da cidade, com a expectativa do fim da Operação Padrão, e também aumentar resolutividade dos inquéritos. Com mais presença nas ruas e intensificação do trabalho de inteligência, os moradores e os turistas que vistam o município poderão ter mais segurança e tranquilidade nas vias públicas, de modo a dar maior sensação de segurança aos moradores e turistas que visitam o município."