Nostalgia

Apesar da tecnologia, há quem não abra mão das cartas tradicionais

Rafael Paranhos
Rafael Paranhos
Publicado em 30/09/2016 às 9:31 | Atualizado em 03/11/2022 às 14:47
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Nem com o avanço tecnológico, as cartas escritas a mão foram deixadas na gaveta, resgatando a nostagia / Foto: Reprodução

Nem com o avanço tecnológico, as cartas escritas a mão foram deixadas na gaveta, resgatando a nostagia Foto: Reprodução

Com uma série de ferramentas tecnológicas cada vez mais presentes no cotidiano, enviar uma carta particular virou (quase) uma prova de amor. Qual foi a última vez que você mandou ou recebeu uma carta escrita a mão? Se você tem menos de 30 anos, talvez nem se lembre ou até mesmo nunca tenha recebido alguma correspondência ou um selo postal de cunho afetivo. Em tempos de redes sociais e mensagens instantâneas, há quem prefira utilizar fazer declarações "à moda antiga".

Mesmo com o lançamento de ferramentas digitais, ainda há gente como o museólogo Henrique Cruz, 32 anos, que ainda usa os recursos tradicionais. "Mesmo sendo jovem, prefiro uma ligação do que uma mensagem enviada via WhatsApp, por exemplo. Ou falar pessoalmente do que conversar pelas redes sociais. Apesar disso, utilizo a internet como ferramenta de trabalho para pesquisar documentos em arquivos", contou. Para ele, mesmo utilizando os meios clássicos, isso não significa que está desatualizado ou até mesmo deixando de se render à tecnologia. Muito pelo contrário, ele prova que essa atitude vai além quando o assunto é colocar a mão na massa.

Henrique, colecionador de selos e cartas, hobby conhecido como filatelista, reúne verdadeiras relíquias desde os oito anos de idade. Aos 13, ele foi motivado a participar da primeira mostra de sua coleção compilada em Belo Horizonte, no estado de Minas Gerais, justamente no aniversário da cidade. Desde então, o museólogo não parou mais, envolvendo-se em diversas exposições no Brasil e ao redor do mundo. 

Atualmente, ele reúne mais de 400 relíquias entre envelopes de cartas e selos da Segunda Guerra Mundial, sobretudo dos militares da Força Expedicionária Brasileira (FEB). Essa organização foi uma força composta por mais de 25 mil combatentes, responsáveis pela participação do País no conflito militar global. "Tenho cartas do século 20. Para um colecionador, o que interessa é a raridade do objeto e não a quantidade. Uma carta, por exemplo, pode ser rara por causa de um carimbo".

Quando a comunicação foge da tecnologia

Se compartilhar as fotografias registradas nas redes sociais durante uma viagem é indispensável, para Henrique, enviar cartões postais via Correios é um ato considerado fundamental. "Durante uma viagem que fiz à Itália, mandei cartões postais para um grupo de amigos e familiares como forma de recordação daquele momento", lembrou. No Dia dos Namorados, ele não hesitou em surpreender a ex-namorada com uma atitude inesperada. "Na época, eu morava no Rio de Janeiro, onde cursava mestrado, e ela aqui no Recife. Quis fazer uma coisa diferente, foi quando enviei um telegrama especial, e ela adorou a minha surpresa", relatou.

Já para o casal Andrezza Alice, 23, e Andréa Queiroz, 22, professoras de educação física, enviar cartas foi o meio de superar a saudade de um namoro a distância. Andréa cruzou as fronteiras para fazer um intercâmbio nos Estados Unidos. Mesmo utilizando as mídias sociais como Skype, WhatsApp e Facebook para estreitar as saudades, um contato "físico" foi uma alternativa para fugir da comunicação considerada "clichê" entre as duas. "No aniversário dela, mandei uma caixa de presentinhos bem brasileiros, entre comidas e ursinhos e, por que não?, uma carta escrita a mão cheia de mimos, beijinhos e o cheiro do perfume". A partir de então, Andréa tomou iniciativa de também enviar cartas para ela.

Para Andrezza, escrever uma carta demonstra que o destinatário é considerado especial. "Acredito que para a outra pessoa, isso demonstra o quanto você teve um tempo dedicado a ela, além de mostrar carinho, de ter a sua letra, o cuidado em escrever, de reescrever, errar, passar a limpo. Isso tudo parece que aproxima e vai além do tradicional texto postado no Facebook. Acho que escrever carta em tempos de redes sociais é você ter o carinho de dedicar seu precioso tempo em época de pessoas sem tempo", frisa.

Curiosidades sobre os selos

Depois da Inglaterra, o Brasil foi o segundo País no mundo a adotar os selos postais nas correspondências, chamado de "Olho de Boi", segundo os Correios. A série tinha três peças ? com valores gravados de 30, 60 e 90 réis ? e começou a circular em 1843.

Desde então, milhares foram confeccionados até os dias atuais. Ao longo de um ano, pelo menos 15 selos são emitidos em alusao às datas comemorativas e especiais.

Há inúmeros formatos diferentes de adesivos postais, inclusive com aromas. Só para você ter uma ideia, a cartela de selos “Parques Nacionais - Prevenção a Incêndios Florestais” é aromatizada com cheiro de madeira queimada, fazendo alusão às queimadas. Essa invenção recebeu o Prêmio Asiago de Arte Filatélica, na categoria Proteção Ambiental, concedido pela Academia Olímpica de Vicenza, da Itália.

O preço dos adesivos postais pode variar de centavos e até custar uma fortuna. O selo regular, por exemplo, custa R$ 1 centavo e o mais caro, US$ 2 milhões. Esse último foi emitido pela Guiana Inglesa em 1856, classificado como 'One Cent Magenta'. São pelo menos cinco tipos de selos, entre regulares, comemorativos, especiais, promocionais e personalizados. Veja quais são elas na galeria abaixo:

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Arte: Guilherme Castro - Fonte: Correios
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'Sua ideia pode virar um selo'

Até o dia 30 de novembro, os Correios vão receber sugestões de temas que serão emitidos entre os anos de 2018 e 2019. Caso estejam de acordo com os critérios da portaria, as propostas serão encaminhadas para o Ministério da Comunicação, que definirá as que serão transformadas em selos.

Segundo a entidade, a instituição recebeu mais de 1,3 mil sugestões por ano através do programa “Sua ideia pode virar selo”. Diversos temas como cultura popular, fauna, flora, meio ambiente e turismo também podem ser sugeridos.

Para participar do projeto, o interessado deve preencher o cadastro disponível no site dos Correios.