Tradição

Por que ganhamos doces no dia de São Cosme e Damião?

Giovanna Torreão
Giovanna Torreão
Publicado em 27/09/2016 às 13:52
Leitura:

Explicação para costume de entregar doces às crianças está no sincretismo religioso / Arte: Guilherme Castro / NE10

Explicação para costume de entregar doces às crianças está no sincretismo religioso Arte: Guilherme Castro / NE10

Maria-mole, pirulito e confeito. A distribuição de doces para as crianças no dia de São Cosme e São Damião, comemorado nesta terça-feira (27), é uma tradição antiga. Os padroeiros da cidade de Igarassu, na Região Metropolitana do Recife, são considerados protetores dos gêmeos e das crianças e a explicação para este costume pode estar no sincretismo religioso.

"Quando os africanos chegam ao Brasil como escravos eles são proibidos de praticar sua religião e rituais. Dessa forma, eles começaram a associar suas entidades à figuras do catolicismo. Assim, São Cosme e Damião foram associados à entidades crianças, para as quais eram ofertadas doces", explica a historiadora e professora da Faculdade dos Guararapes (FG), Marcela Martins. Segundo a docente, a partir de então, a religão católica aderiu à tradição, que se tornou mais forte com o tempo.

Tradição costumava movimentar as ruas e lojas

Tradição costumava movimentar as ruas e lojasFoto: Gabriela Medeiros / NE10

Em 1986, a saúde do mãe motivou a dona Eliete Moraes, hoje com 86 anos, a prometer aos milagreiros a distribuição de guloseimas. “A partir daquele ano, ela começou oferecer os doces às crianças, e a promessa dura até o fim da vida dela. Ao lado dela, eu e minha mãe ajudam na montagem e distribuição, lembro de ter uns 6 anos e já colaborar montando os saquinhos", explica a professora Gabriela Medeiros.

A família já chegou a montar 400 saquinhos com cerca de 12 itens, entre pirulito, chiclete, bombom, jujuba e até cocada. "Entregamos os doces às crianças de até 10 anos e, segundo a tradição, meninas que já menstruaram também não podem receber, pois já são 'mocinhas'", explica. Geralmente, mãe, filha e neta costumam oferecer os doces em escolas. "Já tentamos fazer a entrega na rua, mas acabava dando confusão, com os pequenos querendo pegar mais de um saquinho. Então, pela organização, optamos pelas escolas", conta.

Tradição e comércio

A família de Gabriela Medeiros já chegou a montar 400 saquinhos para distribuir

A família de Gabriela Medeiros já chegou a montar 400 saquinhos para distribuirFoto: Gustavo Belarmino / NE10

A corrida pelos doces de São Cosme e Damião costumava ser uma tradição que movimentava as cidades, mas que parece ter perdido a força. Ao menos é o que sentem alguns lojistas. "A procura não é mais a mesma de antigamente. Aqui na minha loja, se vieram 10 pessoas na manhã desta terça-feira procurando por doces especialmente para a data, foi muito", lamenta o comerciante Josemir Miranda, da T&T Bomboniere, no bairro de Areias, Zona Oeste do Recife. Ele explica ainda que antigamente eram feitos até kits prontos para o dia São Cosme e Damião, mas que deixaram de ser vendidos diante da baixa procura.

Josemir Miranda listou algumas razões que acredita terem provocado a mudança de comportamento, baseado no que vê na loja. “ Com o passar dos anos, acho que as pessoas foram perdendo o interesse. Os jovens não se importam tanto, foram deixando para trás esse costume, e as pessoas de outras religiões, como os evangélicos, não acreditam na tradição", conta o comerciante.

Festa

Em Igarassu, na Região Metropolitana do Recife, a festa começou no dia 18 de setembro e termina nesta terça-feira (27). A celebração desta terça teve início às 4h com espocar dos fogos e repicar dos sinos e a última missa está marcada às 19h30, na Paróquia de São Cosme e São Damião. O Acerbispo Dom Fernando Saburido também participa da festa celebrando a Missa Campal às 16h.

São Cosme e Damião

São Cosme e São Damião eram irmãos gêmeos e médicos, que viveram no Oriente. Após a conversão, eles passaram a ser missionários, mas foram perseguidos, presos e decapitados, por se recusarem a abandonar a fé. Eles são padroeiros dos farmacêuticos, médicos e das faculdades de medicina, além de serem considerados protetores dos gêmeos e das crianças. 

Mais lidas