Comportamento

Desculpe o transtorno, preciso falar do machismo

Wladmir Paulino
Wladmir Paulino
Publicado em 16/09/2016 às 10:05
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Comportamento machista é algo ainda muito enraizado na sociedade brasileira. / Foto: Agência Brasil

Comportamento machista é algo ainda muito enraizado na sociedade brasileira. Foto: Agência Brasil

... E falar dele cedo para que estudantes de medicina e empresárias não sejam estupradas nem adolescentes sejam arrastadas pelos cabelos de um bar e tomem três tiros de ex-namorados. O remédio contra esse comportamento é bem mais simples do que se imagina, não amarga nem é preciso injeção. É logo ali na infância e atende pelo nome de EDUCAÇÃO (leia especial sobre o assunto). A depender da forma como você vai educar aquele bebê que dorme serenamente no quarto ao lado ou brinca aí ao seu lado ele vai aprender que existe um limite, que a menina do lado não é nem nunca será sua propriedade. O desafio para os pais e professores é questionar os valores da socidade e despertar outros nas crianças, seja ela do sexo masculino ou feminino.

O Grupo de Trabalho Gênero e Sexualidade do Conselho Regional de Psicologia de Pernambuco nos lembra que o machismo é uma das normas de gênero e sexualidade que sempre tomaram conta da nossa sociedade. É aquele tal de "isso é coisa para homem" e "isso é coisa para mulher". "Vale ressaltar que infelizmente a realidade nas famílias 'tradicionais' brasileiras é de que não só educam as crianças a partir de parâmetros sexistas, mas também cisheteronormativos. Isso significa dizer que não só se educa homens para exercerem modelos de masculinidades autoritárias e dominadoras e mulheres para exercerem feminilidades submissas, mas também educam-os para enquadrarem-se nas normas cisheterossexuais."

E quem não se enquadra nisso sofre. E muito. Tanto na família quanto na escola quem tem o comportamento 'diferente' não obstante é visto como à margem da normalidade. "A evasão/expulsão escolar não tem índices tão altos entre pessoas trans por acaso". E o GT cita como exemplo a PL 26/2016, conhecida como PL da "Caça aos Livros", que quer proibir publicações que debatem diversidade e igualdade de gênro nas escolas.

As primeiras lições, no entanto, podem começar em casa. Sabe o "isso é coisa de homem" dito ali em cima? Para as crianças é traduzido como "isso é brincadeira de menino". Pois é justamente esses rótulos que deveriam acabar, na opinião dos psicólogos que compõem o grupo. E pode ser apreendido facilmente através da mais tradicional atividade infantil. " Independente do sexo/gênero da criança, o brincar na diversidade é de extrema importância." Caso não tenham compreendido: os meninos deveriam brincar de boneca e as meninas de carrinho. "Esse brincar - de boneca especificamente -, quando retirado das possibilidades de atividades dos meninos, não os permite ensaiar o cuidado de pessoas, atividade culturalmente definida como feminina."

Papai e mamãe também podem ajudar da mesma forma: não definindo funções para um porque é a lança de MarteImage and video hosting by TinyPic e da outra porque é o espelho de AfroditeImage and video hosting by TinyPic. O melhor exemplo é o cuidar das próprias crianças. "O cuidado das crianças é tarefa do "papai" também.  Essa divisão de atividades e cuidados também pode contribuir nesse processo, pois desconstrói a ideia de que a responsabilidade com os pequenos seja apenas da mãe", ensinam.

Luana conseguiu bons resultados com o filho Marco.

Luana conseguiu bons resultados com o filho Marco.Foto: Arquivo Pessoal

É dessa forma que a jornalista Luana Ponsoni e o administrador Marco Bressan desconstroem ideias machistas que poderiam influenciar o filho caçula Marco Bressan Neto, de 5 anos. O garoto já assume pequenas responsabilidades do dia a dia que normalmente uma mulher faria por ele. "Ele arruma os brinquedos e forra a própria cama. É claro que não fica perfeito, mas é do jeito dele", conta. Quando é algo mais complexo ele tem o exemplo paterno. "Digo a ele: seu pai não cozinha? Não lava a louça? Todos fazem".

E o resultado não demorou. Até o ano passado, Marco era um menino temperamental, que brigava muito, segundo a própria mãe. Com os exemplos em casa e as conversas, o jogo virou a tal ponto que agora ele é conhecido na escola como o defensor das meninas. "Ele parou de bater nos meninos e depois passou a defender as meninas, inclusive já é conhecido assim pelas outras mães", diz Luana.

O Grupo de Trabalho Gênero e Sexualidade defende que essa visão também seja compartilhada pelas escolas. Até porque, na avaliação deles o problema é estrutural da socidade e entra tudo dentro da mesmo balaio. "A escola é um espaço fundamental de educação e socialização entre as crianças. Desta forma, é necessário que a desconstrução do machismo não venha apenas de dentro de casa, mas também das escolas. É nela onde, geralmente, os papeis de gênero são reforçados. Observamos muitas vezes que várias atividades são separadas por “grupo de meninos” e “grupo de meninas”, apresentando uma divisão desigual do acesso aos esportes por exemplo."

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