Comportamento machista é algo ainda muito enraizado na sociedade brasileira. Foto: Agência Brasil
O Grupo de Trabalho Gênero e Sexualidade do Conselho Regional de Psicologia de Pernambuco nos lembra que o machismo é uma das normas de gênero e sexualidade que sempre tomaram conta da nossa sociedade. É aquele tal de "isso é coisa para homem" e "isso é coisa para mulher". "Vale ressaltar que infelizmente a realidade nas famílias 'tradicionais' brasileiras é de que não só educam as crianças a partir de parâmetros sexistas, mas também cisheteronormativos. Isso significa dizer que não só se educa homens para exercerem modelos de masculinidades autoritárias e dominadoras e mulheres para exercerem feminilidades submissas, mas também educam-os para enquadrarem-se nas normas cisheterossexuais."
E quem não se enquadra nisso sofre. E muito. Tanto na família quanto na escola quem tem o comportamento 'diferente' não obstante é visto como à margem da normalidade. "A evasão/expulsão escolar não tem índices tão altos entre pessoas trans por acaso". E o GT cita como exemplo a PL 26/2016, conhecida como PL da "Caça aos Livros", que quer proibir publicações que debatem diversidade e igualdade de gênro nas escolas.
As primeiras lições, no entanto, podem começar em casa. Sabe o "isso é coisa de homem" dito ali em cima? Para as crianças é traduzido como "isso é brincadeira de menino". Pois é justamente esses rótulos que deveriam acabar, na opinião dos psicólogos que compõem o grupo. E pode ser apreendido facilmente através da mais tradicional atividade infantil. " Independente do sexo/gênero da criança, o brincar na diversidade é de extrema importância." Caso não tenham compreendido: os meninos deveriam brincar de boneca e as meninas de carrinho. "Esse brincar - de boneca especificamente -, quando retirado das possibilidades de atividades dos meninos, não os permite ensaiar o cuidado de pessoas, atividade culturalmente definida como feminina."
Papai e mamãe também podem ajudar da mesma forma: não definindo funções para um porque é a lança de Marte e da outra porque é o espelho de Afrodite. O melhor exemplo é o cuidar das próprias crianças. "O cuidado das crianças é tarefa do "papai" também. Essa divisão de atividades e cuidados também pode contribuir nesse processo, pois desconstrói a ideia de que a responsabilidade com os pequenos seja apenas da mãe", ensinam.
Luana conseguiu bons resultados com o filho Marco.Foto: Arquivo Pessoal
E o resultado não demorou. Até o ano passado, Marco era um menino temperamental, que brigava muito, segundo a própria mãe. Com os exemplos em casa e as conversas, o jogo virou a tal ponto que agora ele é conhecido na escola como o defensor das meninas. "Ele parou de bater nos meninos e depois passou a defender as meninas, inclusive já é conhecido assim pelas outras mães", diz Luana.
O Grupo de Trabalho Gênero e Sexualidade defende que essa visão também seja compartilhada pelas escolas. Até porque, na avaliação deles o problema é estrutural da socidade e entra tudo dentro da mesmo balaio. "A escola é um espaço fundamental de educação e socialização entre as crianças. Desta forma, é necessário que a desconstrução do machismo não venha apenas de dentro de casa, mas também das escolas. É nela onde, geralmente, os papeis de gênero são reforçados. Observamos muitas vezes que várias atividades são separadas por “grupo de meninos” e “grupo de meninas”, apresentando uma divisão desigual do acesso aos esportes por exemplo."