Insegurança

Na periferia do Recife, mulheres sentem ainda mais medo da violência

Priscila Miranda
Priscila Miranda
Publicado em 14/09/2016 às 11:31
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No Alto do Mandu, Zona Norte do Recife, mulheres se sentem inseguras com a violência / Foto: Priscila Miranda/NE10

No Alto do Mandu, Zona Norte do Recife, mulheres se sentem inseguras com a violência Foto: Priscila Miranda/NE10

Os recentes casos de estupro envolvendo jovens na Zona Norte do Recife deixaram em alerta milhares de mulheres na capital pernambucana. Além de conviverem com o medo diário do risco de assaltos, elas se sentem ainda mais inseguras com a possibilidade de sofrer assédio e violência sexual.

Os últimos dois acontecimentos que tiveram grande repercussão entre a população e a mídia aconteceram em bairros de classe média alta da Zona Norte do Recife, mas é na periferia onde os moradores sentem ainda mais medo da violência. O NE10 visitou alguns locais na Zona Norte recifense nesta quarta-feira (14) para saber das mulheres o que elas têm feito para se proteger da violência. Confira:

“De manhã, só saio às 5h para o trabalho para não andar nas ruas escuras”

A diarista Juliana Prazeres, 32 anos, mora no Vasco da Gama e trabalha próximo de casa. Vai a pé para a casa dos patrões e não sai de madrugada por medo, pois já sofreu assédio enquanto caminhava sozinha. “Nunca saio antes das 5h, porque ainda está tudo escuro. Uma vez estava passando na rua e um homem de bicicleta veio e gritou comigo ‘gostosa, quero dar uma chupada em você’. Fiquei muito assustada e fingi que não era comigo”, relembra. Juliana, que tem uma filha de 14 anos, orienta a adolescente a andar sempre em alerta na rua. “Peço para ela não falar com estranho, se alguém vier mexer com ela, entrar em algum lugar e se esconder”, diz. Ela sente que o policiamento não é suficiente onde mora. “É péssimo. Ontem mesmo teve tiroteio na minha rua”, comenta.

Dinorá evita sair na rua sozinha

Dinorá evita sair na rua sozinhaFoto: Priscila Miranda/NE10

“Só faço caminhadas na rua com a companhia do meu filho”

Dinorá Neves, 50 anos, mora no Alto do Mandu em uma rua considerada “calma” para os padrões do bairro. “Depois de duas ruas daqui, eu nem frequento porque sei que tem muito assalto de moto”, diz. Costuma fazer exercícios físicos pela manhã e, durante as caminhadas diárias, por volta das 5h30, ela precisa da companhia do irmão. “Só vou com meu filho, que é professor de educação física. Se ele não estiver, espero dar umas 6h15 para poder caminhar sozinha”, explica. Ela afirma que nunca sofreu nenhum tipo de violência, mas conhece inúmeros casos que a deixam muito assustada. “Minha nora sofreu um assalto no Parnamirim recentemente. Estava com o carro parado no sinal e um homem a abordou na moto e levou o celular dela”, diz.

Paloma anda com atenção nas ruas com a filha Luana

Paloma anda com atenção nas ruas com a filha LuanaFoto: Priscila Miranda/NE10

“Um homem abusou de uma mulher na rua porque ela não tinha celular para ele roubar”

A estudante Paloma Souza levou um susto ao ser abordada pela reportagem no Alto do Mandu. Estava acompanhada da filha Luana, de 7 anos, e contou que se sente bastante amedrontada ao andar na rua, algo que ela não pode deixar de fazer. “Saio com medo e volto com medo. Minha rotina é o dia inteiro fora de casa, saio às 6h e só volto às 23h30 da aula da faculdade, de ônibus. Já aconteceu assalto na parada em que eu pego ônibus”, comenta. Ela relembra que, há cerca de um mês, uma mulher sofreu violência sexual após uma tentativa de assalto próximo à casa dela. “O homem estava de moto e pediu o celular dela. Como ela não tinha, ele mandou ela tirar a roupa e ficou mexendo nela”, diz.

Através de nota enviada pela assessoria de comunicação, a Polícia Militar de Pernambuco informou que "no que compete a Corporação, através dos batalhões e companhias operacionais, intensificou o policiamento ostensivo nas localidades onde foram registradas as ocorrências de estupro. Com a entrega pelo Governo de Pernambuco das 100 novas viaturas para a PM, o policiamento motorizado foi reforçado aumentando o patrulhamento na RMR", informa a nota.

VEJA OS NÚMEROS DE TELEFONES PARA DENUNCIAR O AGRESSOR E BUSCAR AJUDA:

» Centro de Referência Clarice Lispector: (81) 3355-3008 / 3009 / 3010

» Centro de Referência da Mulher Maristela Just: (81) 3468-2485

» Centro de Referência da Mulher Márcia Dangremon: 0800.281-2008

» Centro de Referência Maria Purcina Siqueira Souto de Atendimento à Mulher: (81) 3524-9107

» Centro de Referência Dona Amarina: (81) 3551-2505

» Serviço de Apoio à Mulher Wilma Lessa - Telefone: (81) 3184.1740

» Central de Atendimento Cidadã Pernambucana: 0800-281-8187

» Central de Atendimento à Mulher do Governo Federal: 180

» Polícia: 190 (se a violência estiver ocorrendo)

» Disque-denúncia: 180 (pode ser usado também por familiares e vizinhos)

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