Envenenamento

Chumbinho já matou 15 pessoas em Pernambuco este ano

Julliana de Melo
Julliana de Melo
Publicado em 30/06/2016 às 20:29
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Chumbinho tem venda proibida pela Anvisa desde 2012 por causa do grande número de envenenamentos / Foto: Renato Spencer/Acervo/ JC Imagem

Chumbinho tem venda proibida pela Anvisa desde 2012 por causa do grande número de envenenamentos Foto: Renato Spencer/Acervo/ JC Imagem

A confirmação de que o empresário Paulo Cesar Morato, encontrado morto em um motel de Olinda, no Grande Recife, foi vítima de envenenamento por chumbinho reacende o debate sobre o veneno que está banido do mercado brasileiro desde 2012. Mas mesmo com a venda proibida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), pelo menos 70 pessoas deram entrada, de janeiro a abril deste ano, em unidades de saúde de Pernambuco vítimas de intoxicação pelo produto. Deste total, 15 pessoas morreram.

Os dados são do Centro de Assistência Toxicológica de Pernambuco (Ceatox) que ainda registrou 36 mortes em 2015 e outras 18 em 2014. Segundo a toxicologista Lucineide Porto, coordenadora do serviço vinculado à Secretaria de Saúde do Estado, o chumbinho pode contaminar uma pessoa no simples contato com a pele, inalação ou ingestão. 

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"O chumbinho, quando foi proibido, era composto por Aldicarbe, hoje esses produtos clandestinos são uma junção de diversos agrotóxicos agrícolas. Ou seja, um chumbinho não é igual ao outro porque depende da pessoa que o fez", explicou Lucineide Porto sobre a origem do produto.

A especialista ainda alerta que não há como determinar qual dosagem pode ser letal, já que variáveis como o composto usado na elaboração do chumbinho, o tempo de exposição ao produto e a forma de contaminação são determinantes. É sabido, no entanto, que a vítima pode falecer em questão de minutos ou horas. "O importante é que uma pessoa intoxicada por chumbinho deve ser levada para uma urgência imediatamente para que sejam tomadas as medidas necessárias para reverter o quadro de envenenamento", alertou.

Ela ainda pontuou que não é indicado oferecer qualquer outra substância para a pessoa intoxicada e que cada corpo reage de uma forma diferente ao envenenamento. "O chumbinho causa problemas no sistema nervoso, respiratório, cardiovascular, digestivo. Depois da ingestão, a pessoa pode apresentar aumento ou diminuição dos batimentos cardíacos, dor abdominal, distúrbios neurológicos e dificuldade de respirar”, enumerou a coordenadora do Ceatox.

A toxicologista detalhou alguns cuidados necessários, ainda em casa, até a chegada do transporte para uma unidade de saúde: deixar o paciente em lugar seguro, manter as vias aéreas livres e ter cuidado para o paciente não se machucar devido a convulsões que podem aparecer. “A unidade de saúde deve entrar em contato com o Ceatox para que seja analisado o melhor tratamento, por isso é importante estar de posse do frasco do raticida que apontem quais compostos foram usados naquela composição”, avisou.

Na época em que foi proibido pela (Anvisa), o produto, que é um organofosforado, tinha como base um composto chamado de Aldicarbe, que era vendido pela Bayer S/A com o nome de Temik 150. O composto, usado como o agrotóxico para o controle de pragas em plantações de feijão, cebola, batata e outros produtos, ficou popularizado como raticida, mas também ficou relacionado a casos de intoxicação de humanos e animais domésticos.

Com o objetivo de eliminar ratos em sua residência, uma moradora de Olinda, que não será identificada nesta reportagem, buscou chumbinho em um armazém de construção perto de casa. Ao chegar no estabelecimento e perguntar pelo produto encontrou uma certa resistência do vendedor que preferiu usar codinomes para conversar sobre o raticida clandestino. Ao final da negociação, o composto foi vendido pelo preço de R$ 6.

"Cheguei e perguntei por chumbinho. Sei que é proibido mas que todo mundo vende. O atendente ficou meio nervoso porque falei na maior naturalidade, na frente de outras pessoas, mas depois de algumas brincadeira, trocando o nome do produto, saí de lá com o veneno do rato", contou a olindense.

Aquele que vende este tipo de veneno comete um crime contra a saúde pública, com pena que vai desde multa até três anos de prisão, além do fechamento da loja. Como o produto é vendido de forma clandestina, o combate à comercialização depende de denúncias da população junto à Polícia Militar de Pernambuco (ligue 190).

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