Chuvas

Parentes de vítimas das chuvas no Recife e Olinda tentam seguir após tragédia

Wladmir Paulino
Wladmir Paulino
Publicado em 31/05/2016 às 16:08
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Em Águas Compridas, deslizamento deixou local onde havia casas quase irreconhecível / Foto: Priscila Miranda/NE10

Em Águas Compridas, deslizamento deixou local onde havia casas quase irreconhecível Foto: Priscila Miranda/NE10

Familiares, amigos e vizinhos das vítimas das chuvas que derrubaram barreiras e casas no Recife e Olinda na última segunda (30) precisam reconstruir o que a tragédia destruiu e seguir em frente para superar as perdas. Na manhã desta terça (31), o NE10 percorreu os dois pontos, um em Passarinho, Zona Norte do Recife, e o outro em Águas Compridas, Olinda, locais onde barreiras desabaram, matando duas mulheres e duas crianças. 

Na capital pernambucana, uma menina de quatro anos morreu soterrada após a casa em que estava desabar com a queda de uma barreira. O acidente aconteceu na Rua Visconde Garrett. “Eram umas 3h50 da manhã. Todo mundo dormindo quando ouvimos o barulho. Os vizinhos chamaram a gente. Os Bombeiros chegaram uns 30 minutos depois. Já a Defesa Civil demorou um pouco mais pra chegar”, relembra José Paulo e Rosângela Araújo de Azevedo, irmãos e enteados do irmão da mãe da criança de 4 anos que morreu soterrada. Eles moram bem próximo à casa da vítima, que estava dormindo com os pais na casa que desabou.

Segundo eles, nunca viram nada parecido. “Foi a primeira vez que isso aconteceu. Não lembro de outra barreira ter caído por aqui”, afirma Rosângela. Os irmãos acreditam que uma obra irregular pode ter causado a queda da barreira. “Cavaram uma base. Ela encheu com a água e derrubou a barreira”, comenta João Paulo. O enterro da garota aconteceu na tarde desta terça (31), no Cemitério de Casa Amarela, Zona Norte do Recife.

De acordo com a Defesa Civil, desde ontem estão sendo colocadas lonas para evitar mais desabamentos com as próximas chuvas. Cerca de 3 mil metros já foram distribuídos na área.

LONAS Defesa Civil precisou colocar mais de 3 mil metros de lona nas barreiras de Passarinho. Foto: Priscila Miranda/NE10

Em Águas Compridas, Olinda, outras três pessoas morreram também vítimas de soterramento, duas mulheres e uma criança de 8 anos. Dona Joanita de Souza é avó dos filhos de Barbara Patrício, 22 anos, uma das vítimas do soterramento. Ela conta que, por pouco, as crianças de 5 e 3 anos também não estavam entre os mortos das chuvas. “Ela deixava os meninos comigo nos finais de semana. A última vez que vi Bárbara foi no domingo. Ela saiu no sábado e, no domingo, de tarde, acenou para mim que viria buscá-los. Eu disse que não, que eles dormiriam na minha casa e que ela viesse no outro dia buscar”, afirma. Ela diz que ainda não sabe com quem ficará a guarda das crianças. “Não sei se o pai vai ficar, mas o que eu puder fazer por eles eu vou fazer”, disse a avó dos órfãos maternos.

Além de Bárbara, a tia dela, Alexsandra, 35 anos, e o filho da tia, de 8 anos, morreram. O companheiro de Bárbara, Joedson Barbosa da Silva, 29, que estava com ela na hora do desabamento, foi internado no Hospital Miguel Arraes na segunda e, segundo a assessoria do Hospital, teve alta médica hoje.

Morador de Águas Compridas há quase cinco décadas, o vizinho das vítimas, Edilson Araújo, conta que há muito tempo não via uma tragédia assim acontecer na região. “A última, que derrubou quase tudo por aqui, foi há 41 anos”, conta. Ele conta que, além da falta de apoio da Prefeitura de Olinda para executar ações preventivas no bairro, a população também tem culpa pela tragédia. “As pessoas deixam o lixo lá em cima do morro, sabendo que tem casa embaixo. E as bocas de lobo estão muito entupidas”, constata.

LAMA Em Águas Compridas, desabamento provocou grande quantidade de barro e lama no bairro. Foto: Priscila Miranda

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