Dia Nacional da Adoção

''A gente tinha que se encontrar'', diz mãe que adotou irmãos antes de ter bebê

MARÍLIA BANHOLZER
MARÍLIA BANHOLZER
Publicado em 25/05/2016 às 10:55
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Retrato de família: Carolina Cavalcanti com seus três lindos filhos / Foto: cortesia

Retrato de família: Carolina Cavalcanti com seus três lindos filhos Foto: cortesia

"Nossas almas tinham que se encontrar". É assim que a empresária Carolina Cavalcanti, 36 anos, define sua relação com os filhos Mateus, 8, e Adriano, 10. Os dois meninos paraibanos foram adotados pela pernambucana que não podia engravidar, mas que queria, acima de tudo, ser mãe. Aos 26 anos, casada há cerca de dois, Carolina descobriu uma endometriose que, segundo os médicos, a impediria de ter uma gestação natural. Após dois anos e três tentativas de inseminação, ela decidiu entrar para o Cadastro Nacional de Adoção (CNA).

"Fui muito criticada, inclusive por pessoas da minha família, ao decidir desistir dos tratamentos de engravidar e partir para a adoção. Muitos diziam que eu era muito jovem [tinha 28 anos], que podia seguir com as tentativas pelo menos até os 35 anos, mas eu entendi nesse processo todo que o que eu queria não era engravidar, mas sim ser mãe", contou Carolina.

A história da adoção dos dois meninos foi um tanto incomum. Há oito anos, Carolina já havia entrado no CNA e iniciado os preparativos de um enxoval para um bebê que ainda não existia. Como não sabia o sexo da criança que adotaria, comprava tudo nas cores verde, amarelo, branco. Até que em um belo dia, uma pessoa amiga da família falou para a empresária sobre uma criança que acabara de nascer na Paraíba e que a mãe biológica estava disposta a "doá-la".

Carolina não pensou duas vezes, cuidou dos últimos detalhes e partiu em direção ao seu filho. "Encontrei Mateus quando ele tinha apenas dois dias de vida", relembrou. O processo é conhecido como adoção consensual, ou consentida, mas hoje não é mais permitido. Nessas situações, a mãe biológica assinava um termo em que abria mão da guarda da criança em nome de alguém até que a Justiça passasse para a família adotiva todos os direitos sobre a criança.

Esse poderia ser uma caso "comum" de adoção não fosse pelo irmão mais velho do recém-nascido. Quando Mateus foi adotado, Adriano tinha cerca de dois anos e morava com a avó. Um ano após iniciar o processo de guarda-definitiva do seu filho, Carolina conheceu Adriano. O menino estava subnutrido, com marcas de queimaduras de cigarro, piolhos. Tentou levá-lo para casa também, mas recebeu a negativa da família biológica. Cerca de nove meses depois recebeu uma ligação que mudaria essa história.

"A família biológica entrou em contato comigo pedindo que eu levasse o Adriano também. Ele tinha três anos e meio e o irmão, Mateus, que já morava comigo, tinha um ano e nove meses. Não tive dúvidas, fui para Paraíba buscar ele também. No caminho de volta para casa, ainda no carro, Adriano já me chamou de mamãe", detalhou ela. Hoje a família tem uma nova integrante. Sete anos após os processos de adoção, Carolina engravidou naturalmente de uma menina que está com um aninho. A bebê ganha os cuidados e carinhos dos irmãos, que a chamam de "milagre", já que a mamãe não podia engravidar.

Crianças brancas, do sexo feminino e com pouca idade - até 3 anos - formam o perfil mais buscado para adoção

Hoje a mulher que não podia engravidar tem três filhos, cada um com seu jeito e suas peculiaridades. São histórias diferentes que completam uma família que se ama apesar dos preconceitos em que ainda esbarram. "Eu contei para os dois que eles são adotivos e eles entenderam. Nunca tive problemas com eles com relação a isso. Na verdade, os meninos mesmo conversam com outras pessoas, como coleguinhas da escola, sobre isso. Dizem que eles foram trazidos por mim e tudo mais. O preconceito vem de outras pessoas, que veem eles diferentes de mim na cor da pele, por exemplo", pontuou Carolina.

"Tinha que ser assim, a gente tinha que se encontrar. Deus fez eu ter dificuldade para engravidar, adotar o Mateus, voltar para trazer o Adriano e só depois de anos engravidar por vias naturais. Meus filhos são crianças como todas as outras, com os conflitos comuns às suas idades, brigam, brincam, amam uns aos outros. Não tem diferença nenhuma entre eles ou a minha filha biológica", decretou a mãezona Carolina Cavalcanti.

Ela ainda acrescenta: "Mesmo um filho biológico, você precisa adotar ele no seu coração. Não é porque você deu à luz uma criança que você vai ser mãe. No caso dos filhos adotivos, você se torna mãe quando adota. Até pós-parto você tem, que é o período de adaptação". Defensora da adoção, Carolina opina também que os mitos em torno do tema o tornam um tabu. "Muitos acreditam que as crianças adotadas serão problemáticas, mas isso não é verdade. Eles, na verdade, são muito amorosos. Recebo cartões deles declarando que me amam e dizendo obrigado por ter me trazido."

ADOÇÃO NO BRASIL - No dia 25 de maio é celebrado o Dia Nacional da Adoção, no Brasil. A data foi criada pela Lei n. 10.447, de 9 de maio de 2002, e é importante para esclarecer mitos e tirar dúvidas sobre o tema. Hoje, o País conta com pouco mais de 6.500 crianças inscritas no Cadastro Nacional de Adoção, no qual também há quase 39 mil pessoas interessadas em adotar uma criança. Apesar do número de indivíduos dispostos a cuidar e amar uma criança ser seis vezes maior que o número de pequenos à espera de um lar, o processo de adoção pode durar mais de três anos.

Burocracia do sistema e requisitos impostos pelos futuros pais são os principais entraves para a relização de sonhos. Atualmente, crianças brancas, do sexo feminino e com pouca idade - até 3 anos - formam o perfil mais buscado para adoção, mas esse grupo corresponde a menos de 5% do total de pequenos disponíveis.

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