Insegurança

Crônica de uma fuga anunciada

Thiago Vieira
Thiago Vieira
Publicado em 23/01/2016 às 18:10
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Número de fugitivos ainda não foi divulgado pela Seres / Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem

Número de fugitivos ainda não foi divulgado pela Seres Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem

Duas fugas em massa em dois dos maiores presídios de segurança máxima de Pernambuco. O mês de janeiro foi de medo por parte da população devido à volta ilegal de detentos da penitenciária Barreto Campelo, em Itamaracá, no Grande Recife, que culminou na fuga de 53 detentos no último dia 20, e no Complexo Prisional do Curado, na Zona Oeste do Recife, onde os números ainda não foram divulgados pela Secretaria Executiva de Ressocialização de Pernambuco (Seres). Apenas três dias separam os dois ocorridos, mas a vulnerabilidade do sistema e o risco de uma fuga desta proporção podia ser prevista e deveria ser evitada.

Pela manhã, antes do caos no Curado, a Secretaria de Justiça e Direitos Humanos, durante uma coletiva de imprensa, afirmou que ações seriam feitas para evitar novas fugas na Penitenciária Barreto Campelo. O que o secretário da pasta, Pedro Eurico, não contava era que uma nova fuga, praticamente nos mesmos moldes da primeira (tudo em menos de uma semana), estaria em curso.

Enquanto isso, o presídio de Itaquitinga, na Zona da Mata Norte, que poderia reduzir os conflitos no sistema prisional do Estado, ainda é uma promessa. O governador Paulo Câmara prometeu finalizar presídio de Itaquitinga há exatamente um ano da fuga deste sábado. Leia mais sobre o assunto no Blog de Jamildo.

Em levantamento divulgado em outubro de 2015 pela Organização Não Governamental Humans Rights Watch, os presídios de Pernambuco possuíam 3 vezes mais presos do que a capacidade do sistema carcerário do Estado. A superlotação é um problema antigo e que pouco evoluiu ao longo dos anos, deixando a segurança do presídio é vulnerável. Segundo o mesmo relatório, Pernambuco apresentava a pior relação entre agentes penitenciários e detentos do País, contando com um profissional para cada 30 reclusos. A média nacional é de uma para oito.

Sérgio Bernardo/ JC Imagem
- Sérgio Bernardo/ JC Imagem
Sérgio Bernardo/ JC Imagem
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Sérgio Bernardo/ JC Imagem
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Sérgio Bernardo/ JC Imagem
- Sérgio Bernardo/ JC Imagem
Em novembro do ano passado, a mesma Barreto Campelo registrou duas tentativas de fuga com a utilização de explosivos. Na primeira, 6 detentos escaparam. Ainda assim, uma nova explosão aconteceu alguns dias depois. Nesta, a polícia conseguiu evitar a fuga. A prova real de que os presos em Itamaracá tentavam a todo custo derrotar a segurança do Barreto Campelo já havia sido anunciada. Pouco foi feito. No início deste ano, segundo matéria publicada pela Ronda JC, o secretário-executivo de Ressocialização, Éden Vespaziano, recebeu uma mensagem em que avisava da possibilidade de uma explosão no presídio. O resultado foi a negligência do caso e 53 bandidos de alta periculosidade fugindo. Cerca de 14 foram recuperados até o momento.

Dois detentos entraram em confronto nesta manhã, em Palmares

Dois detentos entraram em confronto nesta manhã, em PalmaresFoto: colaboração

Neste sábado, o caos se instaurou nas áreas próximas ao Complexo do Curado e o cenário de guerra se repetiu com tiroteios, helicópteros, deixando saldo de feridos e, pelo menos, um morto - ainda sem confirmação oficial. Fotos de um detento morto e vários baleados circulam pelas redes sociais. A delegada Vilaneida Aguiar confirmou a morte de um fugitivo na frente do Complexo Prisional:

A polícia confirmou que a explosão de parte do muro do Complexo Prisional do Curado, seguida de uma fuga em massa, com perseguição e troca de tiros, deixou duas vítimas fatais. Um dos corpos está em frente a uma residência, próximo ao complexo. E a outra vítima chegou a ser socorrida, mas morreu no Hospital Otávio de Freitas. A delegada Vilaneida Aguiar está no local fazendo as primeiras diligências e negou a informação de que moradores do entorno do presídio tenham sido feitos reféns. Confira a entrevista dela no vídeo abaixo.

Publicado por TV Jornal em Sábado, 23 de janeiro de 2016

As duas provas que escancararam a falta de segurança no presídio já foram dadas, seguindo uma sequência de tentativas de fugas e confusões. Uma delas, aconteceu na manhã deste sábado (23) no presídio Rorinildo da Rocha Leão, em Palmares, onde dois detentos entraram em confronto, levando um deles a ser internado no hospital regional com ferimentos.

A partir de agora, além da atrasada reforma no sistema prisional pernambucano, o Estado tem o desafio de tirar mais uma vez os bandidos de alta periculosidade do convívio social. 

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