Comportamento animal

Especialista desmistifica fama de mau de cães de grande porte após ataques

Julliana de Melo
Julliana de Melo
Publicado em 19/01/2016 às 20:03
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Aina Bosch defende que todos os animais podem ser dóceis, se bem treinados / Foto: Carol Albuquerque/divulgação

Aina Bosch defende que todos os animais podem ser dóceis, se bem treinados Foto: Carol Albuquerque/divulgação

Dois casos violentos, somente nesta semana, envolvendo ataques cães com fama de agressivos fizeram reacender o debate em torno de determinadas raças. Pitbull e rottweiler, por exemplo, são os animais mais temidos por quem acredita que os traços genéticos se sobressaem à educação dada aos pets.

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Para a treinadora e veterinária comportamental, Aina Bosch, não é correto responsabilizar os cães, independente da raça, por acidentes como os que vitimaram um bebê de 11 meses, no Recife, e um adolescente de 14 anos, em Olinda. “Nas duas situações é possível identificar que o problema está na socialização do animal. No caso do pitbull, ele estava amarrado com uma corrente, e o dos rottweilers dá para entender que são cães de aluguel”, pontuou a especialista que ainda ressaltou: “As questões genéticas existem e são importantes, mas não são relevantes se bem treinados.”  

Ela alerta também que qualquer animal pode se tornar agressivo ou dócil de acordo com treinamento que lhe é dado. E o que poucos sabem é que a maioria dos tutores de animais de estimação criam os bichinhos da forma errada. “Parte da socialização correta de um animal envolve apresentar ele ao maior número possível de pessoas, animais, cheiros e sons diferentes para que ele possa se acostumar com diversas situações”, explicou Aina que trabalha com comportamento animal há cerca de dez anos.

A especialista relaciona o preconceito contra algumas raças ao tamanho e peso desses animais, mas revela que numa única ninhada haverá animais com diversos temperamentos diferentes. Por exemplo, mesmo entre os labradores - cães famosos pela docilidade - alguns poderão ser indicados para viver com idosos, crianças, ou terão um comportamento menos calmo. É só lembrar do filme ‘Marley e eu’.

É importante lembrar que os animais medrosos podem ser mais perigosos do que os com fama de agressivos, pois eles podem atacar de surpresaAina Bosch, veterinária comportamental
O que Aina Bosch ensina também é que, na hora de adotar um cão, conhecer o histórico familiar também pode evitar incidentes. Segundo ela, decendentes de animais treinados para serem “malvados” tendem a apresentar sinais de agressividade que precisam se combatidos com treinamentos. A orientação, no entanto, não vale para o famosos vira-latas. Esse animais, por serem historicamente errantes, se adaptam melhor ao convívio com os seres humanos. “Os cães sem raça definida tendem a ser mais dóceis e companheiros por causa de uma carga genética baseada em pais que viveram nas ruas, sobrevivendo a uma seleção natural”, comentou a veterinária comportamental.

Para evitar casos de agressividade dos animais de estimação, independente da raça, a principal orientação é dar carinho e atender as necessidades básicas do pet, entre elas: passear! “Poucos são os tutores que saem para passear com os cães. Independente do tamanho, todos precisam passear. Alguns mais do que os outros, mas todos precisam gastar a energia. Tem cão que precisa se exercitar por 40 minutos duas vezes ao dia, por exemplo.”

PIT BULL ACABOU COM MEDO DE CACHORRO - O empresário Hugo Torres, 25 anos, era criança quando foi atacado pelo poodle de um amigo e desenvolveu medo de cães. Em outra ocasião, no entanto, foi à fazenda de um outro colega quando foi recepcionado por um pitbull. “Ele veio correndo em nossa direção e logo pensei que ia levar outra mordida, mas ao invés disso ele só estava com saudade do dono e os dois ficaram brincando enquanto o cachorro só fazia lamber meu amigo”, relembrou ele. De acordo com Hugo, esse foi um momento decisivo para que vencesse seu medo de animais e buscasse mais informações sobre uma das raças mais temidas. 

Hugo (E) e Lara saem para se exercitar duas vezes ao dia

Hugo (E) e Lara saem para se exercitar duas vezes ao diaFoto: acervo pessoal

Hoje, Hugo Torres divide seu apartamento com a pitbull Lara, de 7 anos. Os dois são companheiros de passeios e corridas que ajudam a gastar todo energia que a cadela tem. “Lara passeia duas vezes por dia, até porque ela mora num lugar pequeno. Ela é muito dócil, meu amigos e vizinhos adoram brincar com ela. Na rua as pessoas que não têm medo passam a mão. Muito tranquila mesmo”, contou ele que culpa as pessoas por usarem a força do pitbull para o mal.

“O pitbull é uma raça que sofre muito com um estigma. É um absurdo com o que conseguem fazer com ele. São as pessoas que conseguem fazer com que se tornem agressivos. Mas isso pode acontecer com qualquer cachorro, assim como o poodle que me mordeu quando criança”, finalizou.

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