Solidariedade

Um dia em homenagem àqueles que dão, sobretudo, amor

Ana Maria Miranda
Ana Maria Miranda
Publicado em 28/08/2015 às 13:09
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O casal Bárbara, 20, e Bruno, 33, são os mais jovens do voluntariado do Hospital de Câncer / Foto: Ana Maria Miranda/NE10

O casal Bárbara, 20, e Bruno, 33, são os mais jovens do voluntariado do Hospital de Câncer Foto: Ana Maria Miranda/NE10

Vontade de ajudar as pessoas é o único pré-requisito obrigatório para fazer trabalho voluntário. Conhecimentos prévios e habilidades podem ajudar na hora de escolher atividades específicas, mas, muitas vezes, o que as pessoas precisam mesmo é de apenas alguém para ouvi-las. Comemorado nesta sexta-feira (28), o Dia Nacional do Voluntariado foi instituído para homenagear as pessoas que disponibilizam tempo para fazer o bem.

A cidade do Recife contabiliza 30,4 mil voluntários cadastrados na plataforma Transforma Recife, que faz a intermediação entre organizações e pessoas com interesse em fazer voluntariado. O Movimento Pró-Criança, o Grupo de Ajuda à Criança Carente Com Câncer (GAC) e Associação de Apoio à Criança com Deficiência (AACD) são algumas das 340 organizações cadastradas. Por mês, o "voluntariômetro", painel instalado na Avenida Agamenon Magalhães, na área central do Recife, contabiliza 50 mil horas trabalhadas por voluntários. O equipamento registra 150.134 horas, desde que foi inaugurado, em junho deste ano.

Manicure Elizabete Barbalho, 59, seguiu o caminho dos voluntários após ter câncer

Manicure Elizabete Barbalho, 59, seguiu o caminho dos voluntários após ter câncerFoto: Ana Maria Miranda/NE10

"Quem quer ajudar e não sabe como pode utilizar a plataforma para encontrar vagas de trabalho voluntário na cidade", afirma o coordenador do Transforma Recife, Fábio Silva. Para se cadastrar no programa, é preciso acessar o site e preencher com dados pessoais. O pretendente sinaliza as áreas de interesse e participa de seleções para preencher as 10 mil vagas disponíveis.

O Dia do Voluntariado não passou em branco no Hospital de Câncer de Pernambuco (HCP), onde o grupo Rede Feminina de Combate ao Câncer preparou uma festa para agradecer o apoio dos 205 integrantes. Apresentações culturais, serviços de beleza, café da manhã e uma missa campal fizeram parte da programação. 

"Você se sente motivado, porque vê que um pequeno gesto muda a vida das pessoas", conta a coordenadora da rede, Maria da Paz, 58 anos. Ela descobriu o trabalho voluntário quando acompanhava o tratamento de câncer do pai. Segundo Maria da Paz, o grupo de voluntários da Rede Feminina é composto, majoritariamente, por mulheres aposentadas. "Muitas delas ficam ociosas, já tomam muitas remédios, então sentem essa necessidade de ocupar o tempo, de se movimentar",  diz. O grupo também acolhe homens, em menor quantidade. Ao todo, são 25 homens e 180 mulheres.

Aposentada Irene dos Santos, 83, é voluntária em três organizações

Aposentada Irene dos Santos, 83, é voluntária em três organizaçõesFoto: Ana Maria Miranda/NE10

Foi também a partir de uma experiência pessoal que a aposentada Irene dos Santos, 83, decidiu ser voluntária. O seu câncer foi tão agressivo que ela precisou fazer mastectomia e usa a história para ajudar outras mulheres que estejam passando pelo mesmo problema. "Me senti privilegiada de escapar do câncer, então prometi que enquanto estivesse viva, lutaria", explica. 

"Eu gosto de conversar, orientar, às vezes passo hidratante nelas, porque costumam perder a autoestima. Não é porque perde a mama que deixa de ser mulher. A melhor coisa é dar amor sem esperar recompensa", ensina. Além do HCP, dona Irene atua como voluntária na ACCD e na creche Paulo de Tarso, na Vila do Ipsep, Zona Sul do Recife.

A estudante de enfermagem Bárbara Tavares, 20, e o servidor público Bruno Bittencourt, 33, são os mais jovens do grupo. A moça decidiu ajudar após um amigo falecer durante o tratamento contra o câncer. "O jovem tem mais altivez, pode fazer muitas coisas ao mesmo tempo. É possível conciliar e se dedicar", opina ela. "Eu senti a necessidade de fazer o bem para alguém", completa o namorado Bruno. 

A manicure Elizabete Barbalho, 59, ainda se recupera de um câncer e, há seis anos, é voluntária no HCP. "Estou amando. Sou muito comunicativa e acho muito gratificante saber que estou ajudando alguém. Quando estava em tratamento, recebia carinho e dedicação dos voluntários, então faço agora do mesmo jeito", explica. A voluntária contou que certa vez uma paciente segurou sua mão e pediu para que ela não a deixasse só. "Foi de partir o coração, fiquei até ela dormir", revela.

Para Susana Leal, co-fundadora e membro do Núcleo Executivo Voluntário no Observatório do Recife, o voluntariado é importante porque "é uma oportunidade da sociedade contribuir com o desenvolvimento social". De acordo com ela, é uma questão de exercer o direito de cidadania. "A partir do momento em que a pessoa começa a contribuir com alguma entidade voluntariamente, esta entidade passa a contar com o trabalho dela", afirma.

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