Solidariedade

Campanha no Facebook arrecada absorventes para detentas da Colônia Penal Feminina do Recife

Maria Luiza Veiga
Maria Luiza Veiga
Publicado em 26/08/2015 às 19:00
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Em Pernambuco, ao todo, existem 1.699 reeducandas, segundo a Seres / Foto: Guga Matos/JC Imagem

Em Pernambuco, ao todo, existem 1.699 reeducandas, segundo a Seres Foto: Guga Matos/JC Imagem

Uma campanha de arrecadação de absorventes para as detentas da Colônia Penal Feminina do Recife, antigo presídio do Bom Pastor, foi lançada no Facebook. A página "Arrecadação para as presidiárias do Recife" tem mais de 800 confirmações de participação no projeto, iniciado este mês. Em parceria com o Além das Grades, grupo de extensão da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) formado por alunos de direito de faculdades do Recife, as jovens Mariana Vieira, Nayara Guimarães, Ingrid Natasha Siqueira, Melissa Baraúna e Anny Christye Souza foram motivadas a realizar a ação após lerem o livro "Presos que Menstruam", que mostra a realidade de penitenciárias em São Paulo, na qual detentas já usaram até miolo de pão como tampão no período menstrual. Mas, afinal, como essa questão funciona nos presídios femininos do Recife?

Em Pernambuco, ao todo, existem 1.699 reeducandas segundo dados da Secretaria Executiva de Ressocialização (Seres). O número é dividido entre a Colônia Penal Feminina de Abreu e Lima  - conhecida pelas detentas como Cotela, fazendo alusão ao presídio masculino Centro de Observação Criminológica e Triagem Professor Everardo Luna, o Cotel -, no Grande Recife; a Colônia Penal Feminina de Buíque, no Sertão; e a Colônia Penal Feminina do Recife.  A secretaria afirma que todas as presas recebem produtos de higiene pessoal (como os absorventes) por parte do Estado e também é autorizada a entrada de familiares com produtos desse tipo. Já para as que não têm visitantes, a Seres conta que existe o Programa de Assistência e Amparo, alimentado por doações de instituições de caridade. 

Após questionamento do NE10 à secretaria sobre a necessidade do presídio - e das detentas sem familiares - de doações já que, segundo a pasta, o Estado fornece tais produtos, a assessoria afirmou que "as reeducandas não gostam dos fornecidos pelo Governo e preferem usar os doados". Em contrapartida, ex-detentas do Bom Pastor negam que seja lhes dado algo "além de comida". Preferindo não se identificar por medo de retaliação, V*, 44 anos, em liberdade há três meses após 3 anos e 8 meses de prisão por tráfico de drogas, nega ter recebido absorventes por parte do governo. "Não dão papel higiênico, sabonete, imagine absorvente?!. Você só ganha essas coisas de lá quando é época de Natal; num kit. O resto do ano você só tem direito a uma galinha cheia de pele, feijão duro. Se não tiver família, fica ao relento", diz ela, que passou 1 ano na "Cotela" e o resto da pena no Bom Pastor.

V* contou que não há suporte algum às presas, nem mesmo quando estão doentes. "A gente fica gritando na cela de dor e ninguém aparece; todas se mobilizam, começam a bater na parede, bater coisas para chamar a atenção deles (agentes penitenciários). Eu fiquei com depressão quando cheguei lá - passaram anos e nunca me levaram nem pra ver um médico. Se você pedir um remédio para dor de cabeça de dia, só entregam já de noite."  

A Seres afirma que "existem profissionais de saúde como médico ginecologista, enfermeiras e técnicas de enfermagem" e que o "serviço de saúde funciona em regime ambulatorial e com a realização de campanhas preventivas". Segundo eles, três vezes por semana são realizados exames preventivos e ginecológicos por unidade para verificar o estado geral de saúde das reeducandas e, "caso seja necessário, elas são encaminhadas para consultas externas com especialistas". 

A ex-presidiária R*, 45, saiu do Bom Pastor há 3 anos, onde cumpriu pena de um ano e meio por furto. Segundo ela, só se consegue ir ao médico 'fazendo as amizades': "Se você tiver suas amizades na direção da Colônia e com os agentes, ai você consegue as coisas, consegue uma consulta. Se não, morre de dor dentro da cela". Sobre as doações, ela conta que nem tudo chega às detentas. "As coisas boas que eles pegam nas doações botam pra vender na cantina - uma espécie de 'loja de conveniência' para elas. Lá as coisas são mais caras até que aqui fora e você paga com o dinheiro que ganha trabalhando lá dentro ou recebendo da família", conta.

DOAÇÕES - Quem quiser doar absorventes e demais produtos de higiene pessoa, basta acessar a página "Arrecadação para as presidiárias do Recife", no Facebook, e falar com organizadoras das doações. Elas estão recebendo em suas faculdades (Aeso Barros Melo, Universidade Católica de Pernambuco, Universidade Federal de Pernambuco) e se dividiram para receber também no Centro da Cidade, Derby, Pina, Boa Viagem , Piedade, Olinda, Paulista, Camarabige e Paudalho. São aceitos absorventes externos e íntimos, além de demais produtos de higiene pessoal. Para outras doações, procurar a Seres.

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