Julgamento

PMs são condenados a 96 anos de prisão pela morte de adolescente no Carnaval de 2006

Benira Maia
Benira Maia
Publicado em 22/05/2015 às 15:38 | Atualizado em 14/08/2020 às 13:51
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Imprensa não foi autorizada a fotografar dentro da sessão do júri que durou três dias / Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem

Imprensa não foi autorizada a fotografar dentro da sessão do júri que durou três dias Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem

O juiz Ernesto Bezerra Cavalcanti proferiu na tarde desta sexta-feira (22), no Fórum Desembargador Rodolfo Aureliano, na Ilha Joana Bezerra, área central do Recife, o resultado do julgamento de quatro dos oito policiais militares acusados de matar afogados dois jovens e tentar assassinar outros 13 durante o Carnaval de 2006.

O sargento Aldênis Carneiro da Silva e os soldados José Marcondi Evangelista e Ulisses Francisco da Silva foram condenados, cada um, a 96 anos de prisão pelo homicídio triplamente qualificado de Diogo Rosendo Ferreira, 15 anos, além de nove tentativas de assassinato. O policial Irandir Antônio da Silva foi absolvido, uma vez que ficou comprovado que ele permaneceu dentro da viatura, a 300 metros de distância, durante o crime.

A defesa anunciou que vai recorrer da sentença. Os suspeitos vão aguardar em liberdade até que se esgotem todos os recursos cabíveis, no entanto, os três já foram expulsos da Polícia Militar.

O júri, que teve início na quarta-feira (20), também decidiria o futuro do tenente Sebastião Antônio Felix, que teve seu julgamento adiado para o dia 16 de julho. Por causa disso, a morte da segunda vítima fatal, Zinael José Souza da Silva, na época com 17, também não foi julgada. 

Sem querer mostrar o rosto, mãe do garoto Diogo disse estar com o coração em paz

Sem querer mostrar o rosto, mãe do garoto Diogo disse estar com o coração em pazFoto: Sérgio Bernardo/JC Imagem

Os outros três soldados acusados preferiram ter seus julgamentos em momentos diferentes, ainda sem data definida. Além da morte de Zinael, esse segundo ciclo de policiais também será julgado pela tentativa homicídio contra outros três jovens que faziam parte do grupo.

Para o promotor do caso, André Rabelo, esse julgamento deve servir de exemplo nas próximas abordagens policiais. "Que isso sirva de exemplo para que outros policias militares pensem duas vezes na hora que forem abordar outras pessoas. Esse profissionais precisam ter modos, ser melhor preparados. Espancar, torturar, nada disso deve ser feito mesmo que se trate de um bandido. A sociedade não aceita mais esse tipo de situação e o Ministério Público está atento", afirmou.

ENTENDA O CRIME - Diogo e Zinael estavam com outros 13 amigos quando os acusados os abordaram durante o Carnaval de 2006, no Recife Antigo. Na ocasião, a polícia procurava um grupo de rapazes que estava realizando arrastões durante a festa de Momo da capital pernambucana.

Durante a abordagem, os jovens foram levados em duas viaturas, em dois momentos diferentes - porém na mesma noite, até a Ponte Joaquim Cardoso, nos Coelhos, onde foram espancados com cacetetes de madeira, torturados com chutes nos órgãos genitais e pedradas. Em seguida, os policiais teriam os ameaçado com armas de fogo para que eles atravessassem o Rio Capibaribe a nado.

Uma das vítimas, Diogo Resende, teria gritado que não sabia nadar e, mesmo assim, teve que se jogar na água. Os corpos dos dois jovens foram encontrados dois dias depois do crime, boiando no bairro da Torre, Zona Oeste do Recife. O Instituto de Medicina Legal (IML) atestou que a dupla morreu por afogamento. 

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