Águas da chuva

Transtornos causados pelas chuvas são "tradição" em bairros da RMR

Renata Dorta
Renata Dorta
Publicado em 09/03/2015 às 12:37
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Bairros como Afogados, no Recife, e Aguazinha e Peixinhos, em Olinda, vivem o drama da chuva até no nome / Fotos: Marília Banholzer/NE10

Bairros como Afogados, no Recife, e Aguazinha e Peixinhos, em Olinda, vivem o drama da chuva até no nome Fotos: Marília Banholzer/NE10

A chuva forte que caiu na madrugada desta segunda-feira (9) causou diversos contratempos no Grande Recife. De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) no Recife foram registrados acúmulos de 55 mm de água pluvial em apenas seis horas – das 0h às 6h. Os alagamentos deixaram ruas e avenidas intransitáveis e causaram caos no trânsito neste início de semana. Embora algumas pessoas tenham sido surpreendidas pelas “águas de março fechando o verão”, em algumas comunidades os transtornos são comuns,  é o caso de bairros como Afogados, no Recife, e Aguazinha e Peixinhos, ambos em Olinda. Ironicamente, as localidades são batizadas com nomes “aquáticos”.

Em Afogados, o lixo é o maior inimigo dos moradores da Rua Potiraguá. Os resíduos entopem a galeria de águas pluviais, o que prejudica o escoamento da chuva. Para evitar os prejuízos, os moradores passaram a construir muretas na entrada das casas, com o objetivo de evitar a invasão de água e lama nas residências. Morador da via há mais de 20 anos, o aposentado Manoel Ferreira, 67 anos, reclama que a população precisa ser mais educada e denuncia os garis que fazem a varrição da rua. “Eu já vi e reclamei, inclusive, do pessoal da prefeitura (do Recife) que varrem aqui e empurram o lixo para a galeria. Assim não tem limpeza que dê jeito”, avaliou.´


Moradores controem barreiras para evitar a invasão das águas da chuva em Afogados

A reportagem do NE10 entrou em contato com a Empresa de Manutenção e Limpeza Urbana do Recife  (Emlurb) a respeito dos serviços inadequados de varrição e retirada do lixo na Rua Potiraguá. A Emlurb informou que investigará a denúncia e, caso seja constatada a irregularidade, tomará medidas administrativas cabíveis. A empresa ainda esclarece que a varrição na rua é realizada todas sextas-feiras.

Já em Olinda, os moradores da Estrada de Aguazinha e da Rua Santo Amaro, em Aguazinha, reclamam que a gestão municipal prometeu calçar as duas vias e implantar sistemas de drenagem. Segundo eles, quando chove a água entra na casa das pessoas levando lixo e lama. Além disso, os pontos de alagamento tornam a comunidade alvo de infestação de insetos, como baratas e escorpiões. “A água da chuva já entrou na minha casa e destruiu meu sofá. Quando chove o povo acorda e vai pra rua tentar evitar prejuízos. Já teve criança que morreu depois de ser picada por escorpião”, contou o vidraceiro Gilson Santos, 36, que há duas décadas mora na Estrada de Aguazinha.

Sobre o calçamento das ruas da localidade, a Prefeitura de Olinda divulgou em janeiro deste ano que 80 ruas nos bairros de Aguazinha e Sapucaia receberiam esgotamento sanitário, pavimentação, drenagem e abastecimento de água. Além da construção de áreas de lazer e pontes. A requalificação da calha do riacho Lava Tripa, que cruza a região, também foi prometida. “Eles chegaram a alugar uma casa onde a empresa responsável pela obra guardaria os materiais de construção, mas eles até já entregaram o imóvel e não fizeram nada”, retrucou Gilson.


O lixo também é causador dos alagamentos no bairro de Aguazinha

Próximo de lá, em Peixinhos, o caos afeta crianças que estudam numa escola particular na Rua 25 de dezembro. Após as chuvas desta madrugada, por exemplo, os moradores e comerciantes da área precisaram contratar um trator que limpasse o canal que cruza o local. Supervisora da unidade de ensino há cinco anos, Janaína Ferreira, de 36 anos, disse que não precisa ser inverno para que todas sofram com alagamentos. Por diversas vezes, por sinal, as aulas tiveram que ser teve que suspensa porque os alunos não conseguem à escola.


Moradores fizeram cotinha para limpar canal, supostamente, negligenciado pela prefeitura

Morador de Peixinhos mostra IPTU pago e cobra providências

Morador de Peixinhos mostra IPTU pago e cobra providênciasFoto: Marília Banholzer/NE10

“A gente tem que lavar o pátio da escola porque a água traz o esgoto. Faz mal para as crianças e para os funcionários. A Prefeitura de Olinda aqui não existe. Se a gente não desentupir o canal ninguém trafega nessa rua. É o caos”, desabafou a educadora. Já o morador da Rua 25 de dezembro Francisco Henrique de Souza, que há 30 anos vê os transtornos causados pela chuva, cobra providências ao mostrar o carnê do IPTU pago. “Só se vê a hora de destruir tudo que a gente tem. A casa, o carro, os móveis. Tudo porque ninguém toma uma atitude”.

Em todas as localidades visitadas pela reportagem do NE10, o medo do que está por vir com a chegada do inverno impera. Ainda sem saber se será um período rigoroso ou com estiagem, os moradores das localidades com “nomes de água” se preocupam com os prejuízos que a chuva pode causar. “Ninguém sabe como vai ser o inverno, mas a gente sabe que vai esquentar muito a cabeça”, resumiu Manoel Ferreira, moradores de Afogados.

A Prefeitura de Olinda informou, em relação à limpeza do canal, localizado na Rua 25 de Dezembro, que a Secretaria de Serviços Públicos está realizando a limpeza geral dos principais canais da cidade e o canal citado já está na programação. Diante da solicitação dos moradores, uma equipe irá ao local, ainda nesta semana, para averiguar a situação informada e tomará as medidas necessárias para a limpeza. Já em relação a Relação a Rua Santo Amaro foi esclarecido que a pavimentação e a drenagem ainda serão realizadas.

Ainda foi prometido pela gestão que mais de 70 ruas nos bairros de Aguazinha e Sapucaia serão urbanizadas com os serviços de esgotamento sanitário, pavimentação, drenagem e abastecimento de água. A licitação foi concluída e a empresa que executará os serviços visitou a região. Um cronograma de obras está sendo elaborado.

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