"Eu achei um absurdo esse julgamento. Esses 21 anos foram muito pouco", desabafa o pai de Jéssica Foto: Elvis de Lima/NE10
Insatisfeito com a condenação do trio conhecido como "canibais de Garanhuns", o pai de Jéssica Camila da Silva Pereira, 17 anos, morta em 2008, esperava mais da Justiça. A pena dos condenados varia entre 19 e 21 anos de reclusão, mas para o pai da vítima foi muito branda. Emanuel de Araújo, 54 anos, disse que não perdoa os assassinos e quer, inclusive, que o sobrenome de Jorge, um dos "canibais", seja retirado judicialmente do nome da filha de Jéssica, sua neta.
Na última sexta-feira (14), os réus Jorge Negromonte, Isabel Cristina e Bruna Cristina foram condenados pela Justiça de Pernambuco, pelos crimes de homicídio, vilipêndio (agressão ao cadáver) e ocultação do corpo. "Eu achei um absurdo esse julgamento. Esses 21 anos foram muito pouco. Eu não perdoo eles. Mataram a minha filha. Essa é uma ferida que não vai sarar nunca", desabafa Emanuel. O avô também queria ter ficado com a guarda da menina, mas a Justiça não autorizou por ele não ter condições financeiras suficientes. Atualmente, a criança vive com uma tia de segundo grau. Tanto o pai de Jéssica, como a tia da menina, assistiram o julgamento pela televisão para evitar o assédio da imprensa e da população no Fórum de Olinda.
Jéssica foi morta aos 17 anos, quando sua filha tinha apenas 1. Hoje, a criança já está com 8 anos e não consegue esquecer o crime que presenciou. A guarda da menina está com Cosma de Araújo, 65 anos. Agressividade e desobediência são características marcantes de V. T., apesar dela ir uma vez por semana para o psicólogo. Mesmo doente, Cosma insiste em criar a criança.
Na escola, os colegas da menina sabem de toda a história e também fazem bullying com a criançaFoto: Elvis de Lima/NE10
Ainda segundo a tia de Jéssica, ela sempre se comunicava com a sobrinha. "Nós sempre nos falávamos por telefone. Inclusive já desconfiava que tinha alguma coisa errada. Já pensava que tinham mesmo matado minha sobrinha. Mas ninguém acreditava em mim. Cheguei até a procurá-la no IML", lamenta a aposentada.
OLINDA - Na rua onde os três condenados moraram por dois anos, na quinta etapa de Rio Doce, em Olinda, os vizinhos acompanharam o julgamento pela televisão. Para eles, a pena não foi suficiente para tanta crueldade. A vizinha que mora ao lado da casa onde o crime ocorreu, que não quis se identificar, comenta o alívio com a condenação: "fiquei satisfeita que eles foram condenados e a justiça foi feita, mas os três podiam ter pego mais anos de prisão. Espero que quando eles sejam julgados pelos crimes de Garanhuns a pena seja maior".
Maria Lúcia acredita que seria a próxima vítima do trioFoto: Amanda Duarte/ NE10
GARANHUNS - A cidade de Garanhuns, no Agreste de Pernambuco, aguarda o julgamento do "trio de canibais" pela morte de Giselly Helena da Silva, 21 anos, e Alexandra da Silva Falcão, 20, após a condenação de Jorge, Isabel e Bruna pela morte de Jéssica, em Olinda, Grande Recife.
De acordo com o jornalista Eduardo Peixoto, da Rádio Jornal Garanhuns, a condenação do trio pelo crime na Região Metropolitana do Recife não teve tanta repercussão: "O clima ficou tranquilo, porque o pessoal está esperando o julgamento pelos crimes cometidos aqui. Não teve tanta movimentação; espera-se que as pessoas se interessem mais quando acontecer o julgamento em Garanhus".
Os restos mortais das jovens Giselly e Alexandra foram encontrados em abril de 2012 no quintal da casa do trio, no bairro de Liberdade. Elas estavam desaparecidas desde fevereiro e março, respectivamente. Em entrevista na época, o delegado Wesley Fernandes informou que os réus confessaram haver usado a carne das vítimas para rechear salgados que eram vendidos pela cidade. Fato que foi negado durante o julgamento em Olinda.