Discurso

No G20, Dilma destaca educação mas se atrapalha em números

Rafael Paranhos da Silva
Rafael Paranhos da Silva
Publicado em 16/11/2015 às 21:40
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Presidente citou dados que não estão reunidos de forma oficial no MEC e no INEP / Foto: Fotos Públicas

Presidente citou dados que não estão reunidos de forma oficial no MEC e no INEP Foto: Fotos Públicas

Nos discursos feitos na cúpula do G20, realizada na Turquia no último fim de semana, a presidente Dilma Rousseff destacou que a educação é uma das áreas fundamentais para o crescimento sustentável do País. Apesar disso, se atrapalhou ao citar alguns números, segundo a startup de verificação de dados Lupa, que fez a checagem das informações divulgadas pela presidente em seu discurso e no Twitter.

Neste domingo, a presidente disse que, em 2015, criou “mais de um milhão de vagas no ensino técnico” brasileiro. Mas não há documentos oficiais e públicos que confirmem este número, de acordo com a agência. A última edição da Sinopse Estatística da Educação Básica, levantamento que quantifica o número de vagas criadas neste segmento num determinado ano, se refere a 2014. Não há dados mais recentes. No mesmo discurso, Dilma afirmou que, em 2015, criou “906 mil vagas no ensino superior”. Também não há nenhum documento oficial no Ministério da Educação (MEC) que reúna esta informação. Na Sinopse Estatística do Ensino Superior, os números mais atualizados são de 2013. Por meio de sua assessoria de imprensa, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) explicou que o total de vagas citado por Dilma é fruto da soma de vagas abertas em programas como o Fies, o ProUni e o Sisu em 2015. O instituto afirma ainda que estes dados foram divulgados separadamente através de notas de imprensa, mas que não está computado em um único documento oficial. As notas a que o Inep se refere podem ser lidas aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

Ainda sobre educação, a presidente Dilma afirmou na Turquia que o país vai “investir forte no treinamento” de jovens para reduzir o desemprego nesta faixa etária. Um dos mecanismos para isto é o principal projeto do governo federal para o ensino técnico, o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec). Em 18 de junho do ano passado, ao anunciar a segunda etapa do programa, a presidente Dilma Rousseff disse que seriam ofertadas 12 milhões de vagas até 2018 (ouça a partir do minuto 11):

“Eu gostaria de dizer que nós defendemos uma segunda etapa do Pronatec que oferecerá 12 milhões de vagas em 220 cursos técnicos”.

Mas no Plano Plurianual (2016-2019) apresentado pelo Ministério do Planejamento no dia 31 de agosto deste ano o número de vagas oferecidas foi reduzido para 5 milhões.

O MEC informou à Lupa que, neste ano, o Pronatec estima abrir 1,3 milhão de vagas, quase dois terços do que foi oferecido em 2014. O próprio ministério não sabe precisar, no entanto, o número de matrículas realmente realizadas até agora.

A checagem das informações divulgadas pela presidente em seu discurso e no Twitter foi feita através de uma parceria da Lupa com O GLOBO. A iniciativa fez parte da Segunda Maratona Internacional de Fact-Checking do G20, que reuniu 14 plataformas jornalísticas especializadas nessa tarefa, entre elas Washington Post Factchecker (EUA), Pagella Politica (Itália), Africa Check (Nigéria) e Full Fact (Reino Unido).

*Lupa é a primeira agência de fact-checking do Brasil, uma startup de jornalismo independente.

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