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Aproximação com a cultura oriental atrai recifenses para estudar japonês e mandarim

Lorena Barros
Lorena Barros
Publicado em 04/10/2015 às 17:32
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Matheus, 20, começou a aprender japonês sozinho, ainda na sexta série, e só começou a fazer um curso do idioma no ano passado / Foto: Acervo pessoal / Matheus Figueiras

Matheus, 20, começou a aprender japonês sozinho, ainda na sexta série, e só começou a fazer um curso do idioma no ano passado Foto: Acervo pessoal / Matheus Figueiras

Quando buscamos cursos de idiomas, é fácil encontrar opções de inglês e o espanhol, seja pela presença deles na cultura que consumimos ou pela semelhança sonora com o português. Mas, quando o idioma que queremos aprender não tem nenhuma semelhança fonética ou gramatical com a nossa língua, o que fazer? No Recife, a aproximação com a cultura oriental fez com que algumas pessoas começaram a aprender o japonês e o mandarim por conta própria; outros buscaram o auxílio dos poucos cursos especializados ou até mesmo viajaram para aprimorar o entendimento das línguas, que, à primeira vista, parecem bichos de sete cabeças.

O interesse pela cultura oriental, principalmente por animes como Kaiji e Nisha Rokubou, foi um dos motivos que fez Matheus Figueiras, de 20 anos, estudar japonês e fazer um intercâmbio para a cidade de Saitama, no Japão, em junho deste ano. O estudante, que voltou para o Recife em setembro passado, começou a aprender a língua ainda na sexta série, assistindo a animes e se familiarizando com as palavras mais utilizadas. “Comecei a me apaixonar pela língua de tanto que assistia a animes e escutava japonês todos os dias”, afirmou. Os estudos “oficiais” da língua, porém, só começaram em 2014, quando Matheus iniciou um curso do idioma.

Mesmo com o curso, ele encontrou dificuldades de comunicação ao chegar ao país: “Quando fui estudar no Japão, a maior dificuldade sem dúvidas foi a gramática, ainda é até hoje. Há milhares de formas que nós podemos usar um verbo... no início eu falava quase 100% das vezes em inglês; depois de 1 mês, já conseguia me comunicar em japonês com as pessoas, e, no segundo mês, já conseguia conversar”.

Hoje Matheus continua no Recife fazendo curso de japonês - acrescentou o mandarim - e nutre lembranças positivas do país que o acolheu. “Me impressionou a educação deles, são bastante esforçados para ajudar o próximo e não via violência em lugar nenhum, nem mesmo nos jornais/televisão. Voltarei para lá com certeza”.

Lucas contou com a ajuda dos japoneses para se comunicar nos primeiros meses em Tóquio

Lucas contou com a ajuda dos japoneses para se comunicar nos primeiros meses em TóquioFoto: Reprodução / Facebook

A dificuldade em praticar o idioma ao chegar no país também foi um problema apontado pelo estudante Lucas Oliveira, que está em Tóquio fazendo intercâmbio pelo Ciência Sem Fronteiras desde abril: “Quando eu cheguei, não sabia falar muita coisa de japonês, mas não foi muito problema pois na universidade os professores e a equipe da administração falavam em inglês e alunos veteranos me ajudaram bastante”. Lucas começou a estudar os dois alfabetos fonéticos da língua, chamados de hiragana e katakana, sozinho, antes da viagem, e hoje, após seis meses no Japão, já se comunica com mais facilidade no idioma. 

O estudante de engenharia da UFPE Caio d'Azevedo, de 19 anos, também tem aula de japonês, mas ainda não conheceu o país oriental. Para ele, a escolha do idioma nasceu do interesse pelo país. "Conheci o amigo de um amigo que era descendente de japoneses e contou algumas histórias do Japão, me interessei e tentei aprender o idioma". A princípio, Caio comprou um dicionário e foi aprendendo as noções iniciais da língua quando decidiu que era hora de buscar ajuda para se desenvolver melhor e se matriculou no Instituto Brasileiro de Lingua., no bairro da Boa Vista, no Centro do Recife. "Percebi que seria muito trabalhoso aprender sozinho e procurei um curso. Hoje o mais difícil para mim é associar os símbolos e as imagens rapidamente, já que um dos alfabetos [alfabeto kanji] tem mais de dois mil símbolos". Há quatro meses no curso, ele já afirma sentir avanços na aprendizagem do idioma.

Uma das professoras do local, Fernanda dos Santos disse notar aumento na busca pelo curso. “A maioria do pessoal que está interessado em estudar japonês é quem gosta da cultura e assiste muito anime, por exemplo”, disse. Fernanda morou por quatro anos no Japão, onde estudou teologia voltada para a cultura do país.

Para o Escritório Consular do Japão no Recife, o interesse pelo aprendizado da língua reflete a vontade dos estudantes de conhecer a cultura do país. "Com o aumento de pessoas que estudam japonês, as relações entre os países se estreitam, pois aprendem não só o idioma, mas conhecem muito sobre a cultura", afirmou Emi Sugahara, membro do consulado. 

Sugahara destacou ainda a oferta de bolsas do governo japonês a estudantes brasileiros. “O Governo do Japão, anualmente, oferece aos estudantes brasileiros bolsas de estudo MEXT (Ministério da Educação, Cultura, Esporte, Ciência e Tecnologia do Japão (Monbukagakusho) através da embaixada e dos consulados localizados no Brasil, para graduação, cursos profissionalizantes, escola técnica superior e pós-graduação". As inscrições para bolsas de intercâmbio começam sempre no mês de maio, e mais informações podem ser fornecidas pela

Além do Instituto Brasileiro de Línguas, cuja o valor médio da mensalidade é R$ 150, o Escritório Consular do Japão no Recife indica para o aprendizado da língua a Escola de Língua Japonesa da Associação Cultural Japonesa do Recife, localizada no bairro da Várzea, na Zona Oeste - a mensalidade é R$ 140.  

Enquanto para muitos o interesse pela língua oriental é despertado pela aproximação com a cultura midiática, para o tradutor Victor Leal, de 34 anos, que morou em Pequim entre 2005 e 2012, foi um misto da economia de viajar para a China com o interesse que tinha pelas artes marciais: “Com o dinheiro de três meses de mochilão na Europa, eu podia passar seis meses na China. Fiquei seis meses, depois fiquei mais seis meses, depois vim para o Recife para fazer minha monografia e um ano e quatro meses depois voltei para Pequim”.

Victor começou a aprender mandarim quando chegou à China, em 2005

Victor começou a aprender mandarim quando chegou à China, em 2005Foto: Acervo pessoal / Victor Leal

Ao chegar à capital chinesa, Victor se matriculou em um curso para iniciantes da Universidade de Línguas e Cultura, uma das muitas do país que oferecem aulas para estrangeiros. Assim como para outros que buscam aprender uma língua oriental, a princípio foi difícil para o tradutor, que hoje sabe falar seis línguas (português, inglês, alemão, francês, espanhol e mandarim), conseguir entender o novo idioma. “No começo, você vai aprendendo a escrever tipo ‘bêabá’, com 10 caracteres por dia para iniciantes. Nos primeiros dois ou três meses, você se sente um completo idiota, depois de um tempo você tem um ‘clique’ e o caractere deixa de ser um ‘desenho alienígena’ e passa a fazer sentido”, brincou.

Hoje aqueles que estiverem interessados em aprender mandarim podem procurar o Instituto Confúcio, que funciona na reitoria da Universidade de Pernambuco, no bairro de Santo Amaro, área central do Recife. O curso foi iniciado em 2013 e oferece os níveis elementar, intermediário, superior e um curso de chinês comercial. Os alunos da Universidade de Pernambuco não pagam pelo curso, mas aqueles de fora podem fazer as aulas, que ocorrem de segunda a sexta ou aos sábados, pagando R$ 680 pelo semestre.

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