Economista dá dicas

Na crise, profissionais optam por permuta; saiba se vale a pena

Mariana Dantas
Mariana Dantas
Publicado em 25/10/2016 às 17:04
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O publicitário Hélio Vieira já realizou várias permutas, mas prioriza a negociação em dinheiro / Foto: Bete Dantas/cortesia

O publicitário Hélio Vieira já realizou várias permutas, mas prioriza a negociação em dinheiro Foto: Bete Dantas/cortesia

Um dos maiores desafios das famílias brasileiras é conseguir driblar a crise econômica, mesmo com pouco dinheiro no bolso. Afinal, como manter o mesmo padrão de vida, ou até as atividades não essenciais como as relacionadas ao lazer, se o dinheiro aperta no bolso? A saída que muitos encontram para evitar cortes drásticos no orçamento é optar pelo sistema mais antigo do comércio: o escambo, hoje mais conhecido no mercado como permuta. É a troca de serviços ou serviços por produtos, sem a utilização do dinheiro.  

No mês passado, o fotógrafo de ambientes Tiago Silva, 36 anos, decidiu aceitar a proposta de um antigo cliente, que possui imóveis de veraneio em Porto de Galinhas, no Litoral Sul pernambucano, e trocou seu serviço por diárias em um flat. “Já fiz vários trabalhos com ele e resolvi aceitar. Procurei saber quanto custava a diária e comparei o valor com o meu serviço. Fechamos em dois fins de semana e minha família aproveitou bastante”, conta Tiago. Ele diz que a permuta não é a sua prioridade, e sim os contratos com pagamento em dinheiro, mas foi uma oportunidade de oferecer momentos de lazer para a sua família.  

Segundo o analista financeiro e professor de economia da Faculdade Guararapes, Roberto Ferreira, as negociações por escambo (ou permuta) costumam aumentar em períodos de retração econômica. “O escambo ainda existe por vários motivos. Em lugares de difícil acesso e, consequentemente, com dificuldade de circulação de moeda; por ideologia, como acontecem em algumas comunidades; ou por questões de ordem econômica. Como o Brasil está em crise e com falta de emprego, é normal que esse tipo de negociação aumente aqui”, explica o economista. 

Tiago Silva gostou da permuta que fez e disse que toparia fazer outras

Para a economia do País, Roberto Ferreira explica que o escambo não é saudável. “O escambo não tem o mesmo poder econômico da moeda, que é uma unidade de troca, uma medida de valor e também de reserva de recursos. É por isso que essa prática não pode ser adotada como prioridade porque a economia não se desenvolve”, explica.

Com mais de 25 anos de profissão, o publicitário Hélio Vieira, 45 anos, já realizou várias permutas ao longo da carreira, mas sempre priorizou a negociação em dinheiro. “Trabalho em agência e, às vezes, faço permutas em trabalhos de freelancer. Recentemente troquei meu serviço por mensalidades em uma academia de pilates. A minha mulher se interessou e topei. Antes de aceitar a proposta, procuro ver qual a minha necessidade e por isso nunca tive problemas”, conta Hélio. 

 

O publicitário lembra que uma vez o dono de uma loja de informática ofereceu uma permuta de trabalho durante um ano, com pagamento em produtos. “O que eu iria fazer com tantos equipamentos de informática? Teria que me preocupar em vender as mercadorias, por isso não aceitei. Mas topei fazer a permuta por um mês, que foi o suficiente para trocar o computador da minha casa”, conta. 

Quando a permuta não dá certo...

Depois de algumas experiências frustrantes, a diretoria da Escola Lápis de Cor, em Candeias, Jaboatão dos Guararapes, decidiu não aceitar mais propostas de permutas oferecidas pelos pais dos alunos. “É uma situação muito delicada. Nem sempre precisamos dos serviços oferecidos e também é difícil mensurar o valor da negociação”, explica a diretora adjunta, Silvia da Fonte.

A diretora conta que há alguns anos, o pai de um aluno que fazia placas de sinalização ofereceu renovar toda as placas da escola por descontos na mensalidade. “No início do ano letivo, ele apresentou a proposta e nós aprovamos. Mas as placas só foram entregues no mês de dezembro e bem abaixo da qualidade prometida. Ficamos muito insatisfeitos e no ano seguinte, em vez de voltar a pagar a mensalidade, o pai retirou o filho da escola. Sem falar em outras experiências bem ruins”, afirmou.

Para tentar evitar esse tipo de problema, o economista Roberto Ferreira alerta que, mesmo em negociação por permuta, é importante fazer o contrato formal com o que foi acordado, protegendo os dois lados envolvidos. O documento também serve como garantia de que a prestação de serviço será realizada. 

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