Oportunidade

Com pequenos negócios, empreendedores conseguem faturar em plena crise

Priscila Miranda
Priscila Miranda
Publicado em 25/05/2016 às 15:05
Leitura:

Empresário Victor Barros montou, há menos de seis meses, loja para vender coxinhas e já vai abrir segunda unidade / Foto: Victor Barros/Cortesia

Empresário Victor Barros montou, há menos de seis meses, loja para vender coxinhas e já vai abrir segunda unidade Foto: Victor Barros/Cortesia

A falta de postos de trabalho no Brasil em diversas áreas, devido à crise econômica, parece ter estimulado muitas pessoas a investirem no próprio negócio, mesmo que pequeno, para fugir do desemprego. De acordo com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), o número de microempreendedores individuais (MEI) — pessoas que trabalham por conta própria e que se legalizam como pequenos empresários — saltou de zero, em julho de 2009, para 5.680.614 em dezembro de 2015, alcançando uma média de 100 registros por hora. Só em Pernambuco, são 162.600 pessoas com esse perfil de negócio, com um aumento de 52,5% de cadastros entre 2013 e 2015, período em que a crise econômica começou a crescer no País.

A gente observa um perfil de empreendedor mais estruturado, que vem de classe média/alta, com estudo, e que está transformando a economiaAna Cláudia Arruda, gestora do observatório empresarial do Sebrae-PE

“Em função das próprias características, é um tipo de empreendedor muito mais fácil de entrar e sair do mercado, pois conta com menos investimento. A gente observa um perfil de empreendedor mais estruturado, que vem de classe média/alta, com estudo, e que está transformando a economia”, afirma Ana Cláudia Arruda, gestora do observatório empresarial do Sebrae-PE.

Entre as áreas que estão aquecidas para se “apostar”, Ana comenta que mercados como o da beleza (salão de beleza, clínicas estéticas), alimentação (lanchonetes e food trucks) e bem-estar (SPAs e academias) são mais tradicionais e têm retorno mais garantido. Com relação às areas de investimento, a gestora afirma que, mesmo em época de crise, o consumidor não deixa de investir em cuidados com a saúde e alimentação. 

Mesmo assim, é preciso conhecer bem antes de investir. “Em qualquer momento econômico, o grau de cuidado é o mesmo, porque o microempreendedor está lidando com recursos financeiros escassos, vindos muitas vezes do próprio bolso e que são difíceis de serem acumulados. Então, toda tomada de decisão precisa ser cautelosa”, avalia. 

A microempreendedora Heloisa Pereira precisou esperar alguns anos para colocar em prática o sonho de ter o próprio negócio. Abriu um restaurante em 2014, porém o comércio não deu certo. Após sair do emprego de supervisora de vendas, criou coragem e começou a produzir e comercializar, em novembro do ano passado, cocadas. “Montei a Cocada na Kenga e investi nela, vi que daria certo. Trabalho só, em casa. Vou buscar as quengas de coco na feira, um rapaz me fornece o coco ralado, cozinho tudo, embalo e vendo", afirma a empreendedora. O investimento inicial foi de cerca de R$ 15, apenas para comprar os ingredientes e fazer as primeiras cocadas, que foram vendidas para as amigas próximas. Hoje ela vende kits com o doce para restaurantes e outros estabelecimentos comerciais.

DA COZINHA À VENDA - Sem funcionários, Heloisa faz tudo sozinha para garantir o sucesso da Cocada na Kenga Foto: Priscila Miranda/NE10

O esforço tem garantido a Heloisa uma venda de 500 a 600 unidades por mês. “A ideia é entrar na área de turismo e hotéis. Também quero montar a empresa de fabricação de cocada. A gente tem que ter força de vontade de vencer, nada é fácil. Mesmo o mercado estando em crise, podemos superar”, diz.

Para se formalizar como um microempreendedor individual, o interessado deve se dirigir ao Sebrae portando a documentação necessária - número do CPF, carteira de identidade (RG), comprovante de endereço (residência ou do local onde irá funcionar o negócio), número do título do eleitor ou a última declaração do imposto de renda, caso exista. “A pessoa já sai daqui com o número do CNPJ e todos os direitos garantidos pela Previdência Social. Além disso, nós também orientamos o empreendedor para que ele adeque o negócio à sua realidade financeira. Não é preciso ter capital alto para começar. Muitas pessoas iniciam seu projeto com pouco dinheiro, mas vão conseguindo se capitalizar com o tempo, a partir das compras e vendas que realizam de maneira inteligente”, afirma o analista de orientação empresarial do Sebrae Valdir Cavalcanti. 

EMPREENDEDOR INDIVIDUAL X MICROEMPRESA – O consultor alerta que, tendo consciência do quanto será investido no projeto, a pessoa deverá delimitar o tamanho do negócio que irá começar. Quem deseja se tornar um microempreendedor individual, por exemplo, precisa saber que os retornos são limitados. “Durante o ano todo, ele só pode faturar no máximo R$ 60 mil, o que dá uma média de R$ 5 mil por mês. Passando desse valor, de acordo com a Lei do MEI, o negócio passa a ser automaticamente uma microempresa, que pode faturar até R$ 360 mil”, comenta. Outra facilidade do microempreendedor individual é o não recolhimento do imposto de renda [compare com as especificidades de microempresa abaixo]. “Há uma taxa mensal de R$ 44 que já inclui o imposto estadual, municipal e o recolhimento do INSS”, afirma Valdir. 

Um exemplo de microempresa que tem dado certo é a franquia recifense Coxinha no Pote. Em janeiro, o empresário Victor Barros, junto com o pai, montou uma loja da marca no centro de Camaragibe, Região Metropolitana do Recife, especializada na venda do salgado. Eles investiram quase R$ 100 mil. “A gente já tem outra empresa na área de distribuição, setor industrial, mas tivemos a ideia de abrir outro pequeno negócio. Apesar de toda a crise, percebemos que o setor alimentício sente menos o impacto”, afirma o empresário.

Faturando de maneira mais que positiva nesses quase seis primeiros meses de abertura do estabelecimento, Victor já vai abrir uma nova unidade, no final de junho, na cidade de Paulista, também no Grande Recife. “Temos conseguido bons resultados. Claro que mediante muita divulgação do produto, planejamento, organização e desenvolvimento do negócio”, avalia.

Mais lidas