Em queda

Ações da Petrobras têm maior tombo diário em três meses após balanço

Júlio Cirne
Júlio Cirne
Publicado em 28/01/2015 às 17:35
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As ações da Petrobras despencaram nessa quarta-feira (28) e empurraram a Bolsa brasileira para o vermelho, com avaliações negativas em relação ao balanço não auditado da companhia no terceiro trimestre de 2014. O documento foi divulgado na madrugada desta terça-feira (27), com mais de dois meses de atraso.

A queda fez com que o valor de mercado da petroleira passasse de R$ 128,7 bilhões na última terça para R$ 114,8 bilhões nesta quarta. Em 2010, a cifra era de R$ 380,2 bilhões, segundo dados da Bloomberg.

A principal queixa dos analistas foi que o balanço não contabilizou o dinheiro perdido em desvios investigados na Operação Lava Jato, da Polícia Federal, e nem a perda de valor recuperável de alguns dos ativos da Petrobras por efeito do escândalo de corrupção. O atraso na divulgação, prevista inicialmente para 14 de novembro, pretendia considerar tal ajuste.

Após subirem até 12% ao longo do dia, as ações preferenciais da Petrobras, mais negociadas e sem direito a voto, fecharam com desvalorização de 11,20%, para R$ 9,03. Já as ordinárias, com direito a voto, cederam 10,48%, para R$ 8,63. Ambas tiveram a maior perda diária desde 27 de outubro de 2014, quando as preferenciais caíram 12,33% e as ordinárias, 11,34%.

O desempenho empurrou o Ibovespa para baixo. O índice teve recuo de 1,85%, para 47.694 pontos. O volume financeiro foi de R$ 5,981 bilhões. Papéis de importantes setores, como bancos, siderurgia e mineração, também cederam, ajudando a sustentar a perda da Bolsa. A preocupação é que a crise na estatal prejudique o desempenho de outras empresas e afete o já enfraquecido desempenho econômico do país.

"A intenção da companhia de divulgar o balanço não auditado foi para atender as obrigações com os credores, mas se não tem baixa contábil, para que serve? O mercado trabalhava com uma baixa contábil entre US$ 5 bilhões podendo chegar à US$ 20 bilhões", diz Ricardo Kim, analista da XP Investimentos, em relatório.

"Só para se ter uma ideia, a Refinaria Abreu Lima teve um custo total de US$ 18,6 bilhões. O orçado inicialmente era em torno de US$ 3 bilhões, conteúdo local poderia ter encarecido, porém, uma refinaria deste porte não deveria custar mais do que US$ 6 bilhões, ou seja, só da Refinaria Abreu Lima poderia ter uma baixa contábil de US$ 12 bilhões", completa Kim. "A decisão da Petrobras mostra que ela está tendo dificuldade para chegar a esse cálculo [de quanto será a baixa contábil]. Isso só aumenta a incerteza do mercado, que está preocupado com o prazo em que isso será definido", diz Henrique Florentino, analista da Um Investimentos.

"Ainda estamos falando do terceiro trimestre de 2014, sendo que nesta quarta-feira (28) já começa a temporada de divulgação dos balanços do último trimestre do ano passado", afirma Florentino. "Deixando a baixa contábil de lado, operacionalmente a empresa não teve desempenho bom."

Eduardo Velho, economista-chefe da gestora Invx Global, avalia que "a não divulgação da baixa contábil pela Petrobras significa que há uma dificuldade em conseguir chegar a esse número, o que pode indicar que a perda será ainda maior do que o que o mercado estava estimando."

Para Luis Gustavo Pereira, analista da Guide Investimentos, o fato de o conselho da Petrobras não ter chegado a um consenso sobre a baixa contábil "não é só ruim para ela". Segundo ele, "menores investimentos dela afetam, e de forma expressiva, os investimentos do país como um todo -algo que deve continuar contribuindo para a revisão do crescimento do PIB nas próximas semanas", diz em relatório.

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