Combustível

Discussão sobre corrupção adia decisão sobre gasolina

MARÍLIA BANHOLZER
MARÍLIA BANHOLZER
Publicado em 31/10/2014 às 19:40
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As denúncias de corrupção na Petrobras e a pressão por um aprofundamento nas investigações internas causaram nesta sexta-feira (31), a interrupção da reunião ordinária do Conselho de Administração da estatal. O encontro será retomado na próxima terça-feira (4) quando, finalmente, deve ser decidido se os preços da gasolina e do óleo diesel vão subir. O tema estava na pauta da reunião do conselho, que tem o Ministro da Fazenda, Guido Mantega, como presidente. Mas, segundo fontes, nada foi dito sobre aumentos. A discussão no colegiado se limitou à pressão feita pela PriceWaterhouseCoopers (PwC) para ampliar as investigações internas sobre denúncias que vieram à tona com a Operação Lava Jato, da Polícia Federal.

A indefinição sobre as auditorias expôs o clima de paralisia na petroleira, pressionada por uma situação financeira delicada e pelos escândalos que vieram a público com a Operação Lava Jato, da Polícia Federal. Auditora independente dos resultados financeiros da Petrobras desde 2012, a empresa exigiu da estatal maior esforço para esclarecer as denúncias. Como ultimato, a PwC se recusou a aprovar as contas da estatal do terceiro trimestre deste ano, e ainda ameaçou levar o caso aos órgãos reguladores e à justiça dos Estados Unidos.

SILÊNCIO - Procurada, a PwC disse não comentar situação de seus clientes. Entre os conselheiros, imperou o silêncio após a reunião. A ordem é não comentar qualquer tópico discutido durante as seis horas em que estiveram reunidos nos escritórios da companhia, no Rio e em Brasília.

Como resposta à pressão da auditora externa, a Petrobras anunciou na segunda-feira, 27, a contratação de dois escritórios de advocacia para apurar "natureza, extensão e impacto" das denúncias feitas por Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento na investigação da Lava Jato. No dia seguinte, a estatal entrou na Justiça com pedido para mais esclarecimentos de Costa, apresentando uma relação de questionamentos formulados pela auditoria interna da estatal.

As medidas não foram suficientes para a PwC rever sua posição, e a análise dos dados financeiros foi adiada. Até o momento, não há previsão para que o balanço da estatal seja avaliado pelo conselho, como prevê o regimento interno. O prazo legal para apresentação pública dos resultados é o dia 14 de novembro.

Antes, na próxima terça-feira, dia 4, uma reunião extraordinária do Conselho deve selar uma decisão sobre o reajuste do preço dos combustíveis. Hoje, a expectativa de confirmação do aumento levou as ações da companhia a subirem mais de 6% na BMF&Bovespa, logo após o término do encontro. Apesar de auxiliar as contas da companhia, o reajuste logo após as eleições é visto por analistas de mercado como um sinal de ingerência política no comando da estatal.

O tema envolvendo os questionamentos feitos pela PwC era o primeiro item da reunião, que foi suspensa antes que se chegasse a uma conclusão. A pauta do encontro também previa uma análise sobre o andamento das auditorias internas da Petrobrás sobre a refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, a refinaria Abreu e Lima (Rnest), em Pernambuco, e o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj). As três auditorias foram criadas há sete meses sem nunca ter apresentado qualquer conclusão.

Desde maio a estatal enfrenta desgastes em função dessas auditorias. O presidente do Conselho de Administração, o ministro da Fazenda Guido Mantega, decidiu destituir conselheiros independentes do Comitê de Auditoria, um órgão auxiliar responsável por coordenar as apurações internas.

Os cargos foram ocupados por dois conselheiros ligados ao governo, a ministra do planejamento Miriam Belchior e o presidente do BNDES, Luciano Coutinho. A saída do conselheiro gerou reclamações e processos na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), questionando a ingerência política sobre as investigações. As ações foram arquivadas.

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