Safra

Usinas devem mais do que arrecadam em um ano de vendas

Ana Maria Miranda
Ana Maria Miranda
Publicado em 21/10/2014 às 8:10
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Crise do setor começou a se agravar a partir de 2009, o que gerou uma onda de consolidação, com forte entrada de grupos estrangeiros / Foto: Reprodução/Internet

Crise do setor começou a se agravar a partir de 2009, o que gerou uma onda de consolidação, com forte entrada de grupos estrangeiros Foto: Reprodução/Internet

As usinas de açúcar e etanol do País devem encerrar esta safra, a 2014/2015 (de abril a março), devendo 110% de seu faturamento, de acordo com a União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica). A receita para o ciclo é estimado em cerca de R$ 70 bilhões. "As empresas vão fechar a safra devendo em torno de R$ 77 bilhões", disse ao jornal O Estado de S. Paulo Antonio de Pádua Rodrigues, diretor técnico da Única.

Altamente endividadas, como reflexo dos investimentos em expansão de novas unidades, sobretudo entre 2003 e 2008, quando o consumo de etanol no mercado interno foi impulsionado pelos carros flex (que usam etanol e gasolina), as usinas continuaram tomando dívida para renovação de seus canaviais, mecanização da colheita de cana, afirmaram especialistas do setor.

A crise do setor começou a se agravar a partir de 2009, o que gerou uma onda de consolidação, com forte entrada de grupos estrangeiros, a exemplo da francesa Louis Dreyfus, dona da Biosev, e a indiana Shree Runuka. Esses dois grupos também estão com alto grau de alavancagem. Aliada à má gestão de uma boa parte das empresas, o não reajuste dos preços da gasolina, que tirou a competitividade do etanol, afetou grande parte das usinas. Neste ano, a queda dos preços do açúcar piorou a situação das empresas.

Levantamento feito pelo banco Itaú BBA mostra que na safra passada, a 2013/2014, a dívida líquida de 65 grupos, que responderam pela moagem de 428 milhões de toneladas de cana (72% do total), atinge R$ 45 bilhões. Esse valor cresceu 15% sobre o ciclo anterior e deverá ser entre 8% e 10% maior nesta safra, afirmou Alexandre Figliolino, diretor do banco. O executivo divulgará esses dados hoje durante a conferência anual da consultoria Datagro.

"A dívida do setor até a safra 2013/2014 cresceu 19 vezes, se comparada com o ciclo 2002/2003", disse.

Os dados do banco contemplam as usinas do Centro-Sul, com base em 65 grupos sobre os quais o Itaú BBA teve acesso aos dados. Além do Itaú, os bancos Bradesco, Santander, Banco do Brasil e BNDES estão entre os maiores credores das usinas.

FIM DA SAFRA - Segundo Rodrigues, da Unica, há cerca de 375 usinas em operação este ano. De acordo com ele, 30 unidades correm o risco de não voltarem a moer no ano que vem por causa do alto endividamento. Quase 70 usinas pararam suas atividades desde 2008 e outras cerca de 70 estão em recuperação judicial.

Levantamento da Unica mostra que a colheita no Centro-Sul deve ficar entre 545 milhões a 550 milhões de toneladas, 40 milhões de toneladas a menos que o previsto inicialmente por causa da seca, sobretudo em São Paulo e Minas. O Nordeste deve colher entre 55 milhões a 60 milhões de toneladas. Já a consultoria Datagro prevê moagem de 550,2 milhões de toneladas de cana na safra 2014/15. Para o ciclo 2015/16, a estimativa fica entre 520 milhões a 560 milhões.

Até 30 de setembro, 10 usinas tinham encerrado a moagem por falta de matéria-prima. No mesmo período de 2013, duas tinham encerrado os trabalhos.

"O setor enfrentará uma das piores entressafras da história, com a antecipação do fim da moagem e falta de produto para comercializar durante esse período”, disse Figliolino.

O Grupo Virgolino de Oliveira (GVO), com quatro usinas no Centro-Sul, confirmou no domingo, conforme antecipou o Estado, que contratou o banco Moelis para renegociar suas dívidas, sobretudo bonds (títulos da dívida). Sua dívida externa soma cerca de US$ 735 milhões. "Outras companhias, como Aralco (em recuperação judicial), Tonon Bionergia e Usina São João (USJ) estariam renegociando bonds", afirmou uma fonte. Procurada, a USJ diz que não está renegociando títulos, cujos vencimentos são de longo prazo. Tonon e Aralco não retornaram os pedidos de entrevista.

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