A mulher e a lei

A caravana da mulher chega ao Sertão

Por Gleide Ângelo
Por Gleide Ângelo
Publicado em 04/12/2017 às 7:10
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''Muitas mulheres ainda sentem medo de denunciar porque o machismo é muito mais presente no Interior'' Foto: Heudes Régis/JC Imagem

No artigo de hoje falarei sobre um projeto da Polícia Civil de PE criado no Departamento de Polícia da Mulher - DPMUL, a Caravana da Mulher. Esse projeto foi idealizado com o objetivo de levar a toda a população do Estado de Pernambuco palestras de conscientização e orientação sobre os direitos da mulher que constam na Lei Maria da Penha. Ainda levamos à população toda a Rede de Enfrentamento à Violência. A Caravana da Mulher chega aos municípios com o Eurobus e cerca de 10 (dez) policiais do DPMUL, onde temos o Núcleo de Prevenção - NUPREN com Delegadas, Agentes de Polícia e Escrivães. O início da Caravana ocorreu no município de Olinda no dia 07/08/17, quando a Lei Maria da Penha completou 11 anos, e não paramos mais. Já visitamos diversos municípios da Região Metropolitana, Zona da Mata Norte, Mata Sul e Agreste. E, na semana passada, seguimos para o Sertão. Os eventos são em parceria com a Secretaria ou Coordenadoria da Mulher de cada município.

Seguimos para o Sertão no dia 27/11. Nossa primeira palestra foi no dia 28/11 no município de Salgueiro. No dia 29/11 a palestra foi no município de Serra Talhada. No dia 30/11 no município de Floresta e no dia 01/12 no município de Arcoverde. Em todas as palestras tinham a presença de homens e mulheres, porém ainda com a presença de poucos homens.

A Caravana foi realizada no Sertão porque observamos que ainda há poucos registros de boletins de ocorrência em alguns municípios. Muitas mulheres ainda sentem medo de denunciar porque o machismo é muito mais presente do que na Região Metropolitana. Nas palestras, também esclarecemos à população que o enfrentamento à Violência contra a Mulher não é apenas um problema de policia. Em muitos casos, a polícia é a última a saber que a mulher sofre violência, e quando é acionada, a mulher já está morta dentro de casa.

O enfrentamento à violência contra a mulher é responsabilidade de todos

Quando inicio a palestra, sempre narro fatos da vida real ocorrido na polícia para que as pessoas tenham a consciência de que as polícias civil e militar não podem combater essa violência sozinhas. A maior parte dos casos de violência doméstica e familiar ocorre dentro de casa, onde a policia não tem conhecimento. Mas, o vizinho sabe, os amigos sabem, a família sabe, e muitos não denunciam. Infelizmente ainda vivemos na cultura de que "em briga de marido e mulher ninguém mete a colher"; " ela está com ele porque gosta de apanhar". Essas frases são muito cruéis para uma mulher vítima de violência doméstica. Muitas delas estão sofrendo violência psicológica e precisam que alguém "meta a colher" para ajudá-la. E também digo nas palestras que mulher nenhuma gosta de apanhar, mulher gosta de ser amada e respeitada. O que ocorre é que ela está em uma relação nociva, isolada de todos, abalada emocionalmente, e não consegue sair sozinha desse ciclo cruel da violência.

É muito importante e construtivo ver as pessoas compreendendo a importância do seu papel nesse enfrentamento. Em todos os municípios do Estado de PE tem Secretaria da Mulher do Município ou Coordenadoria da Mulher. Além de Centros de Referência da Mulher, CRAS, CRES e Organizações Não Governamentais que defendem as Mulheres. Procuro mostrar as pessoas que muitos que estão ali, conhecem alguém que sofre algum dos 5 (cinco) tipos de Violência Doméstica e Familiar (Psicológica, Moral, Física, Patrimonial e Sexual). As pessoas balançam a cabeça concordando, e eu pergunto: o que você estão fazendo para ajudar?

Continuo dizendo como cada um de nós pode ajudar: converse com sua vizinha, com sua amiga, com sua familiar, com alguém que sofre violência domestica e ofereça ajuda. Fale para ela que existe uma Rede de Enfrentamento à Violência. Leve ela a uma delegacia de polícia ou a Secretaria da Mulher do Município. Também existe equipe psicossocial no Centro de Referência, no CRAS, no CRES. Pegue a mulher pelas mãos e ajude. Tudo o que essa mulher precisa é de ajuda, de apoio para romper esse ciclo da violência e conhecer a liberdade que ficou para trás.

Todos que comparecem a palestra ficam sabendo do papel de cada Instituição na Rede de Enfrentamento e do papel da sociedade para desconstruir essa cultura machista, patriarcal, tão perversa para as mulheres. Sempre ao final, observo muitas mulheres que estão ali com os olhos lacrimejando, simplesmente porque se identificaram com tudo o que ouviram, e são vítimas de violência doméstica. As lágrimas são pedidos de socorro, que são negados por pessoas que poderiam ajudar, mas se omitem. E quando aquela mulher que é espancada todos os dias é vítima de feminicídio, elas dizem: a polícia não fez nada. E eu respondo, não fez porque não tomou conhecimento, mas você sabia, o vizinho sabia, muitos sabiam, e nunca denunciaram à polícia.

MULHERES VÍTIMAS DE FEMINICÍDIO

Em Pernambuco, de Janeiro a Outubro/17 tivemos 27.027 Boletins Registrados de Violência Doméstica e Familiar. Desses BOs, tivemos 02 (duas) mulheres vítimas de feminicídio. Isso significa que 27.025 mulheres que registraram BOs estão vivas e conseguiram romper o ciclo da violência. A maior parte dos Boletins de Ocorrência é dos crimes de Ameaça, Injuria e Difamação. Podemos concluir que as mulheres não estão mais esperando serem lesionadas, espancadas para procurar a polícia. Isso é um grande avanço.

Outra conclusão que chegamos é que das mulheres vítimas de feminicídio, apenas duas haviam procurado a polícia. Quase que a totalidade, nunca denunciou à delegacia porque têm medo ou estão sofrendo violência psicológica. É nesse momento que chamo a atenção da sociedade para ajudar essas mulheres a buscar ajuda. Faça com que a denúncia chegue a polícia. Existem diversos números ao final desse artigo que você pode ligar. Não se cale diante da dor de uma mulher que sofre violência. Vamos educar nossos filhos em uma cultura de igualdade, onde os homens respeitem as mulheres. Tudo isso é uma construção que devemos fazer para transformar essa cultura machista em uma cultura de paz, de igualdade.

Amiga, se você é vítima de violência doméstica e familiar, não tenha medo, procure ajuda. Se não tem forças para ir a uma delegacia de polícia, peça ajuda a familiares, amigos, vizinhos. Só não sofra calada, não morra calada. A polícia tem como te ajudar. Alem das Medidas Protetivas, existem diversos programas de proteção como a Patrulha Maria da Penha, o Disque 190 Mulher, as Casas Abrigo. Faça com que a denuncia chegue à polícia. Você precisa conhecer qual a sua prisão para encontrar a liberdade, e eu te digo, a sua prisão é o agressor. Busque sua liberdade, denuncie !

VOCÊ NÃO ESTÁ SOZINHA!

EM QUAIS ÓRGÃOS BUSCAR AJUDA - VIOLENCIA CONTRA A MULHER:

» Centro de Referência Clarice Lispector – (81) 3355.3008/ 3009/ 3010
» Centro de Referência da Mulher Maristela Just - (81) 3468-2485
» Centro de Referência da Mulher Márcia Dangremon - 0800.281.2008
» Centro de Referência Maria Purcina Siqueira Souto de Atendimento à Mulher – (81) 3524.9107
» Central de atendimento Cidadã pernambucana 0800.281.8187
» Central de Atendimento à Mulher do Governo Federal - 180
» Polícia - 190 (se a violência estiver ocorrendo) - 190 MULHER

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