A mulher e a lei

Coluna de Gleide Ângelo: Não mudei apenas de ano. Mudei de atitude

Por Gleide Ângelo
Por Gleide Ângelo
Publicado em 02/01/2017 às 7:29
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Gleide relata a história de uma mulher que teve coragem de dar um basta  / Foto: Heudes Régis/JC Imagem

Gleide relata a história de uma mulher que teve coragem de dar um basta Foto: Heudes Régis/JC Imagem

Caros leitores, 

No artigo de hoje (02/01) falarei sobre uma mulher que teve determinação e coragem de mudar de vida. Uma mulher que passou dez anos sendo aprisionada pelo companheiro, e no final do ano de 2016 tomou a atitude de deixar o agressor. O importante é que ela não esperou que o ano de 2017 chegasse para que as coisas melhorassem, ela tinha a consciência de que deveria tomar uma atitude para que a vida mudasse, e tomou. Na realidade, ela sabia que a simples mudança de ano, não mudaria em nada a sua triste realidade. 

Esse foi o caso de Katarina (nome fictício), advogada que me enviou diversas mensagens ao longo do ano dizendo que estava casada há dez anos e que não tinha nenhum tipo de relacionamento amoroso com o marido há dois anos. Ela sempre narrava que queria se separar, mas o marido não aceitava. Inclusive ele colocou câmeras de segurança na casa e ficava monitorando as imagens pelo aparelho celular. Katarina me disse que não podia nem telefonar de sua casa porque o marido ficava vendo nas câmeras e depois ela tinha que dizer para quem estava ligando e o que estava conversando. 

Diante de uma história tão absurda e do medo que Katarina tinha do marido agressor, sempre a orientei a procurar a delegacia da mulher e registrar um boletim de ocorrência, pedindo as medidas protetivas. Mas, Katarina sempre repetia que se fosse a uma delegacia para denunciar, o marido a matava. Eu dizia a ela que era justamente o contrário, ele a mataria se ela não denunciasse. E assim o tempo foi passando e Katarina deixou de enviar mensagens. 

No início do mês de dezembro de 2016, recebi uma mensagem de Katarina com uma foto. A fotografia era de uma mulher com o rosto lesionado, com os olhos roxos e marcas no pescoço. Na mensagem Katarina me dizia que aquela foto era dela, e que ela tinha acabado de ser espancada pelo marido que ainda apertou o pescoço dela para matá-la, tudo isso na frente do filho de oito anos de idade. Ela disse que só não morreu porque conseguiu dar um chute nele e começou a gritar pedindo socorro. O casal estava no litoral sul, hospedado em um Resort de luxo. Quando ela começou a gritar pedindo socorro, um hóspede arrombou a porta do quarto e conseguiu salvá-la.

Na mensagem, ela disse que o gerente do hotel queira ligar para a polícia, mas ela não deixou, disse ao gerente que queria apenas ir embora com o filho, mas que não queria fazer nada contra o marido agressor. Em seguida, ela pegou rapidamente as malas e pegou uma condução até o município mais próximo onde passou a noite com o filho. Pedi o telefone de Katarina e liguei para ela. Conversei muito com ela e lhe disse que pelo fato de ser advogada, ela sabia dos direitos que tinha e que deveria registrar um BO e fazer o exame de corpo de delito no IML. 

Na conversa lembrei a Katarina do medo que ela sempre teve de denunciar, dizendo que o marido a mataria. E agora ela viu que correu o risco de morrer, justamente porque nunca denunciou. Com o medo dela, o agressor se tornou cada vez mais violento e chegou ao ponto de dar murros em seu rosto e tentar mata-la. Ela chorava muito ao telefone e estava sozinha com o filho no litoral sul, escondida em outro hotel, mas não quis dizer onde estava. Telefonei para a mãe de Katarina e expliquei da importância do apoio da família naquele momento e que o único caminho a seguir era ir a uma delegacia para registrar o BO e fazer o exame de corpo de delito no IML. 

No dia seguinte Katarina voltou ao Recife com o filho e tomou a decisão de denunciar o agressor. Ela foi com a mãe à delegacia e ao IML, fez as medidas protetivas e pediu o afastamento do agressor do lar. O pedido foi deferido judicialmente e Katarina se afastou definitivamente do agressor. Ela me mandou uma mensagem dizendo que agora tinha a certeza de que se continuasse com ele, seria morta. 

Infelizmente essa é uma historia que acontece todos os dias com as mulheres que sofrem violência doméstica. Continuam em relacionamentos doentios com homens dominadores e violentos, sofrendo ameaças e com medo de deixa-los. Com isso, a violência vai progredindo e quando sofre tentativa de feminicídio, elas conseguem enxergar que realmente o agressor tem coragem de mata-las. Com o medo de morrer e com a pressão dos amigos e familiares, elas conseguem ter força para tomar uma atitude de deixar e ir a uma delegacia. 

Porém, você que está sofrendo qualquer tipo de violência doméstica não é necessário chegar perto da morte para tomar uma atitude. Às vezes, pode ser tarde de mais e o crime se consumar. Já falei em outros artigos sobre as características do agressor. Se o seu companheiro te humilha, ameaça, te afasta dos amigos e familiares, te isola, ele é um dominador e não quer o teu crescimento. Quando há um amor verdadeiro, o homem incentiva e acompanha a mulher na busca de seus objetivos. 

Então, preste atenção na sua vida e observe se você está vivendo um relacionamento saudável ou se está aprisionada e isolada do mundo. Katarina me mandou uma mensagem ao romper do ano novo me agradecendo por ter ajudado ela a encontrar o caminho da liberdade. Por isso que te digo, o caminho da liberdade é mais simples do que você pensa. Você é dona da sua vida, e não a coloque nas mãos e no controle de ninguém. Não deixe que um agressor destrua todos os seus sonhos e objetivos. Aproveite o novo ano e se liberte de tudo o que te faz mal. Não é o ano novo que irá mudar a sua vida. Só a sua decisão e mudança de atitude fará com que esse ano novo te traga coisas novas. Lute e busque a sua liberdade de viver e escolher o melhor caminho a seguir. Não tenha medo, tenho força, coragem e fé, você é capaz.   

VOCÊ NÃO ESTÁ SOZINHA!                                     

EM QUAIS ÓRGÃOS BUSCAR AJUDA VIOLENCIA CONTRA A MUHER:

» Centro de Referência Clarice Lispector – (81) 3355.3008/ 3009/ 3010

» Centro de Referência da Mulher Maristela Just - (81) 3468-2485

» Centro de Referência da Mulher Márcia Dangremon - 0800.281.2008

» Centro de Referência Maria Purcina Siqueira Souto de Atendimento à Mulher – (81) 3524.9107

» Central de atendimento Cidadã pernambucana 0800.281.8187

» Central de Atendimento à Mulher do Governo Federal - 180

» Polícia - 190 (se a violência estiver ocorrendo)

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