A mulher e a lei

Violência silenciosa: agressão dos filhos contra as mães

Por Gleide Ângelo
Por Gleide Ângelo
Publicado em 11/04/2016 às 7:01
Leitura:

 / Foto: Heudes Régis/JC Imagem

Foto: Heudes Régis/JC Imagem

Caros leitores,

No artigo de hoje falarei sobre um tema que choca bastante a sociedade: os filhos que agridem as próprias mães.  Muita gente acha que a Lei Maria da Penha é aplicada apenas nas relações afetivas entre companheiro/companheira. Mas a violência dos filhos contra as mães também está contida nessa Lei.  O Desembargador Nagib Slaib, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, decidiu: “o legislador, ao editar a Lei Maria da Penha, teve em conta a mulher numa perspectiva de gênero e em condições de hipossuficiência ou inferioridade física e econômica em relações patriarcais”. Em outras palavras, “o escopo da lei é a proteção da mulher em situação de fragilidade e vulnerabilidade diante do homem ou de outra mulher, desde que caracterizado o vínculo de relação doméstica, familiar ou de afetividade”. Então a relação da mãe com o filho é julgada pela Lei Maria da Penha.

OS NÚMEROS DA VIOLÊNCIA

No Brasil, os números da violência de filhos contra pais também são relevantes, de acordo com dados compilados pelo Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde, adquiridos a partir dos registros catalogados por profissionais em postos de saúde da rede pública.

- Em 2012, foram 4.289 casos registrados de violência de filhos contra pais;

- Em 2013, 5.559 casos;

- Em 2014, 4.454 casos;

Um total de 14.302 agressões de filhos contra progenitores em apenas três anos. De acordo com os dados organizados e analisados por Julio Jacobo Waiselfisz, coordenador da Área de Estudos da Violência da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (FLACSO), 70,4% das vítimas da violência dos filhos foram as mães e 29%, os pais.

Nessa pesquisa, a violência que mais incide é a física, mas também estão presentes a violência psicológica ou moral e a negligência/abandono.

CAUSAS DA VIOLÊNCIA

No artigo “Filhos que batem nos pais”, a psicóloga Vanessa Damásio relata que os maiores agressores são do gênero masculino e estão na faixa de 15 a 17 anos. Segundo a autora, “esta violência evidencia-se tanto de forma física como psicológica, desde ameaças e insultos a agressões físicas de intensidade distinta. Este tipo de violência ascendente, reflete-se também na oposição e rejeição de todas as regras e limites estabelecidos pelos pais, fugas de casa, abandono dos estudos, com o intuito de magoá-los, controlá-los e sobrepô-los.

“No geral, os pais vão aguentando esta situação, desculpando os filhos devido à sua idade, à sua personalidade, ou até pela vergonha de sentirem o seu fracasso como pais, até que as agressões vão-se intensificando, chegando a um ponto insuportável. A sensação de impotência e vergonha torna-se crescente e os pais chegam ao ponto de passar também eles à agressão física e/ou psicológica do filho, como forma de defesa e por não verem outras saídas possíveis. Nesse sentido, o conflito familiar torna-se caótico e as relações giram em torno da violência, num ciclo que se retroalimenta”.

“Alguns destes agressores foram educados no sentido do preenchimento imediato de todos os seus desejos, sem exigências e responsabilidades, acabando por crescer com a ideia de que são únicos e especiais, não tendo assim consciência de regras morais que regulam a convivência. Os outros passam a ser meros instrumentos para a satisfação dos seus desejos e quando estes são recusados, partem para a agressão. Negam a existência de pautas de comportamento externas à deles, não aceitam outros pontos de vista e não sentem o dever de cumprir”, conclui a psicóloga.

Nos plantões policiais, principalmente onde se envolve adolescentes, é comum ver o desespero das mães quando os filhos são apreendidos. Em local de crime, a dor de uma mãe ao ver o seu filho morto é algo que não dá para mensurar. As pessoas podem até indagar que aquele morto é um perigoso homicida e traficante de drogas. Mas, para aquela mãe, ele é apenas o seu filho.

As mães que são agredidas fisicamente ou moralmente pelos filhos, devem denunciar. Há recorrentes casos de filhos envolvidos com drogas, que vendem tudo o que têm dentro de casa e ainda agridem as mães, quando elas não têm dinheiro para lhe dar. Nesses casos, se as mães não denunciarem, serão eternamente reféns dos vícios dos filhos e sofrerão graves consequências, inclusive colocando a vida delas em risco. Por isso, se você estiver passando por esse problema com seu filho, não sofra calada, procure ajuda. Se no local que você mora tiver Delegacia da Mulher, vá e registre um Boletim de Ocorrência. Se não tiver, procure a Delegacia do seu município e registre uma denúncia. Tenha uma certeza: você não tem como mudar as escolhas do seu filho, mas tem como mudar e transformar a sua vida.

Denuncie, você não está sozinha!

EM QUAIS ÓRGÃOS BUSCAR AJUDA:

- Centro de Referência Clarice Lispector – (81)3355.3008/ 3009/ 3010

- Centro de Referência da Mulher Maristela Just - (81) 3468-2485

- Centro de Referência da Mulher Márcia Dangremon - 0800.281.2008

- Centro de Referência Maria Purcina Siqueira Souto de Atendimento à Mulher – (81) 3524.9107

- Central de Atendimento à Mulher do Governo Federal - 180

- Polícia – 190 (se a violência estiver ocorrendo)

Mais lidas