A mulher e a lei

Saiba como identificar a violência doméstica psicológica

Por Gleide Ângelo
Por Gleide Ângelo
Publicado em 15/02/2016 às 10:50
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Violência psicológica não deixa lesões físicas, mas deixa marcas profundas na alma da mulher / Foto: Heudes Régis/ JC Imagem

Violência psicológica não deixa lesões físicas, mas deixa marcas profundas na alma da mulher Foto: Heudes Régis/ JC Imagem

Caros leitores,

Recebi uma mensagem de uma mulher contando episódios de sua vida conjugal. Depois da narrativa, ela me perguntou: isso o que ele faz comigo é algum crime? Diante dessa história, hoje vamos conversar sobre a violência psicológica, algo que não deixa lesões físicas, mas deixa marcas profundas na alma da mulher. Neste artigo, vou chamar a mulher pelo nome fictício de JOANA. Na história real de JOANA, ela narra a seguinte situação:

“Tenho 35 anos e parei os estudos no 2º ano do ensino médio, quando engravidei do meu 1º filho. Hoje tenho 3 filhos e não tenho uma profissão, cuido da casa, do marido e dos filhos. Quando acordo às 6h da manhã, o meu marido diz que sou preguiçosa, que não trabalho, por isso deveria acordar mais cedo para fazer as tarefas domésticas. Qualquer roupa que eu coloco, ele diz que a roupa é bonita, mas eu estou gorda e a roupa fica feia em mim. Como não terminei os estudos, sempre fiz planos para voltar a estudar e ter uma carreira profissional. Mas, toda vez que digo isso ao meu marido, ele diz que eu estou ficando louca, que não tenho condições de entrar no mercado de trabalho, que já estou velha e que não tenho chances de concorrer com os jovens que estão se formando. Então, sempre desisto dos meus sonhos, e continuo cuidando da casa, do marido e dos filhos. No fundo, acho que ele tem razão, estou velha demais para concorrer com esses jovens.”

Quando analisamos o relato de JOANA e, em seguida a pergunta dela, se a atitude do marido constitui algum crime, observamos que no fundo ela sabe que tem algo de errado em sua vida, mas ela não sabe identificar onde está o erro.

A violência psicológica é sutil e, muitas vezes, imperceptível para o agressor e para a vítimaGleide Ângelo
Geralmente, a vítima tende a justificar o comportamento de seu agressor, o que a torna, de certa forma, conivente com ele. Observamos muitas falas como estas: “Ele estava nervoso, não fez porque quis”; “Ele tinha bebido um pouco; se estivesse sóbrio não o faria”; “Ele tinha razão de ficar chateado, pois o meu vestido não estava bom”; “Eu deveria estar pronta. Pelo meu atraso, ele ficou irritado e fez o que fez...”. Estas são formas que as mulheres vítimas da violência psicológica usam para legitimar as atitudes do agressor, contribuindo para que a violência se instale e avance ainda mais.

O QUE É A VIOLÊNCIA PISCOLÓGICA?

Na Lei Maria da Penha, no artigo 7º, inciso II dispõe que: “a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação.

QUAL A DIFERENÇA ENTRE A VIOLÊNCIA FÍSICA E PSICOLÓGICA?

A principal diferença entre violência física e psicológica é que a violência física envolve atos de agressão corporal à vítima, enquanto a psicológica decorre de palavras, gestos, olhares a ela dirigidos, sem necessariamente ocorrer o contato físico.

Para a Organização Mundial de Saúde (1998), “a violência psicológica ou mental inclui: ofensa verbal de forma repetida, reclusão ou privação de recursos materiais, financeiros e pessoais. Para algumas mulheres, as ofensas constantes e a tirania constituem uma agressão emocional tão grave quanto às físicas, porque abalam a autoestima, segurança e confiança em si mesma. Um único episódio de violência física pode intensificar o impacto e significado da violência psicológica. Para as mulheres, o pior da violência psicológica não é a violência em si, mas a tortura mental e convivência com o medo e terror. Por isso, este tipo de violência deve ser analisado como um grave problema de saúde pública e, como tal, merece espaço de discussão, ampliação da prevenção e criação de políticas públicas específicas para o seu enfrentamento".

Então, depois de sabermos o significado da violência psicológica, podemos concluir que JOANA sofre de violência doméstica psicológica. O problema, é que muitas vezes ela se apresenta de forma tão sutil, que muitas mulheres não coseguem identificar. Nesses casos, dificilmente, a vítima procura ajuda externa. A mulher tende a aceitar e justificar as atitudes do agressor, protelando a exposição de suas angústias até que uma situação de violência física, muitas vezes grave, ocorra.

Geralmente, a primeira violência é a psicológica, que progride para as outras violências. Para que uma mulher seja agredida e continue convivendo com o agressor, é porque ela já foi agredida psicologicamente de uma forma tão cruel, que a sua autoestima está aniquilada e ela se permite ser violentada fisicamente. Por isso, é importante identificar a violência psicológica no início, pois se torna mais fácil quando a violência doméstica psicológica ainda não evoluiu para a violência física sendo, portanto, mais fácil de frear sua evolução.

Mulheres, se você se identificou com a história de JOANA, e percebeu que está sofrendo violência psicológica, DENUNCIE, procure uma delegacia de polícia e não permita que a violência evolua. Há também os Centros de Referências da Mulher. No Recife, existe o Centro de Referência Clarice Lispector que é formado por uma equipe multidisciplinar de psicólogas, assistentes sociais, advogadas e educadoras sociais, os casos são acompanhados e referenciados para rede municipal de proteção à mulher.

Procure ajuda e siga em frente, se fortaleça porque a solução já existe, sua felicidade depende do seu primeiro passo, deixe de sobreviver, e passe a viver.

VOCÊ NÃO ESTÁ SOZINHA!

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