A mulher e a lei

Você quer deixar de ser uma mulher que ama demais?

Por Gleide Ângelo
Por Gleide Ângelo
Publicado em 21/12/2015 às 8:58
Leitura:

"Devemos procurar aceitar que nem sempre a forma com que resolvemos nossos problemas é a ideal para todos" / Foto:internet

"Devemos procurar aceitar que nem sempre a forma com que resolvemos nossos problemas é a ideal para todos" Foto:internet

Hoje continuarei falando sobre o tema "Mulheres que amam demais". No artigo anterior, falei sobre as características / sintomas das mulheres que amam demais. Recebi muitas mensagens de mulheres que se identificaram com as características demonstradas e dizendo que precisavam de ajuda.

Nesta semana, fui conhecer o Mada (Mulheres que Amam Demais Anônimas). Compareci a uma reunião para saber o que é o Mada e qual a dinâmica desse grupo que ajuda tantas mulheres. O Mada foi criado a partir de estudos da terapeuta de casais a norte-americana Robin Norwood, que escreveu o livro “Mulheres que Amam Demais Anônimas”. Esse livro é a base científica para criação do Mada.

A primeira reunião do Mada no Brasil foi em 16/04/1994. O Mada é um programa de recuperação para mulheres que desejam se libertar da dependência de relacionamentos destrutivos. No Mada, existem os 12 (doze) passos. Mostrarei o primeiro passo, aquele em que a mulher decide se quer entrar no programa.

1º passo: “Admitimos que éramos impotentes perante os relacionamentos e que tínhamos perdido o controle de nossas vidas”.

Decidindo entrar no Mada, começam as reuniões. Uma das tradições é o anonimato. Por isso, a 12ª (décima-segunda) tradição do Mada é:

12ª tradição: “O anonimato é o alicerce espiritual de nossas tradições, lembrando-nos sempre de colocar os Princípios acima das personalidades”.

Por causa da tradição do anonimato, não poderei narrar as histórias que as mulheres falaram nas reuniões. Tudo o que foi dito, todas as dores e emoções ficam lá, e nada é falado ou divulgado ao mundo exterior. O anonimato é algo muito respeitado no Mada, por isso a mulher tem a segurança e confiança de abrir seu coração e derramar as suas emoções.  

Os textos constantes neste artigo são da apostila do Mada, que servem para o aprendizado e fortalecimento das mulheres que estão em processo de recuperação.

Um dos lemas do Mada: “Viver e deixar viver.”

“Uma das características da mulher que tem dependência de relacionamento é a necessidade de controlar os outros e achar que tem o poder de modificá-los.

Dessa forma, passamos pela vida esquecendo-se de cuidar de nós mesmas, do nosso bem-estar. Esse lema nos sugere que passemos a nos ocupar de nós mesmas, abandonando a direção e o controle de outra pessoa.

Devemos procurar aceitar que nem sempre a forma com que resolvemos nossos problemas é a ideal para todos. Se você der alguma sugestão e ela não for aceita, não significa que sua opinião não tenha valor. Não busque sua autoestima na aprovação e na opinião das pessoas. Quando as pessoas não aceitam nossas opiniões, muitas vezes nos sentimos magoadas, iradas, com o sentimento de termos sido rejeitadas.

À medida que passamos pelo processo de recuperação, passamos a nos valorizar e a cuidar melhor de nós mesmas. Algumas pessoas com as quais convivemos podem estranhar essas mudanças e até mesmo tentar nos provocar para voltarmos a exibir o comportamento controlador e desequilibrado a que estavam acostumadas. Procure não cair nessa armadilha.

Lembre-se de que é você quem está em recuperação. O fato de estarmos melhorando não implica que os outros também mudem. Talvez, em função dessas mudanças, o círculo de pessoas com as quais queremos conviver também mude. Respeitar a nós mesmas não significa “impor respeito” ao outro, mas saber se abster das pessoas que nos trazem desconforto.

Sabemos que, deixando os outros viverem as suas vidas e procurando cuidar melhor da nossa, podemos experimentar um grau maior de intimidade verdadeira com pessoas mais saudáveis e com pessoas que possam permitir esse convívio.

A intromissão na vida dos outros, aos quais muitos de nós procuramos impor, embora às vezes de forma inconsciente, a maneira pela qual achamos que devam agir, é mais uma das manifestações da natureza egocêntrica e prepotente do comportamento neurótico.

Esquecemo-nos facilmente que nossos semelhantes também têm, como nós, o direito de decidir sua própria vida. Igualmente nos esquecemos de que, por mais que queiramos, não conseguiremos modificar o modo de proceder de uma pessoa a não ser que ela mesma assim o deseje e decida fazer”.

Os dez passos da recuperação
          
Depois de ter lido sobre a doença de amar demais e conhecendo mulheres parecidas em suas formas de se relacionar, talvez você tenha se convencido de que isso é uma doença.

Qual é, então, o tratamento apropriado? Como ela começa a deixar para trás aquela série infinita de conflitos com ele, e aprende a usar suas energias para criar uma existência rica e compensadora para si? E como ela se diferencia das muitas mulheres que não se recuperam, que nunca são capazes de libertar-se do atoleiro e da desgraça de um relacionamento insatisfatório?

Certamente não é a gravidade dos problemas que determina se uma mulher irá ou não se recuperar. Antes da recuperação, as mulheres que amam demais são semelhantes na personalidade apesar dos detalhes específicos de cada história pessoal. Mas uma mulher que superou o comportamento de amar demais é completamente diferente de quem é do que ela era antes da recuperação.

Robin Norwood tem observado que todas as mulheres que se recuperaram tomaram certas atitudes para conseguirem isso. Através da tentativa e do erro, seguiram, enfim, um programa de recuperação sugerido por ela. São etapas, um processo, não um ato e as mulheres que seguirem esse programa irão melhorar.

Tais etapas são simples, mas não são fáceis: São todas igualmente importantes e estão na ordem mais típica, cronologicamente:

1 - Procure ajuda;
2 - Faça da própria recuperação a prioridade principal da sua vida;
3 - Encontre um grupo de apoio formado por semelhantes que a compreendam;
4 - Desenvolva a espiritualidade através da prática diária;
5 - Pare de dirigi-lo e de controlá-lo;
6 - Aprenda a não se envolver em jogos;
7 - Enfrente corajosamente os próprios problemas e os próprios defeitos;
8 - Cultive em você quaisquer necessidades a serem desenvolvidas;
9 - Torne-se egoísta e
10 - Partilhe com outras pessoas o que você experimentou e aprendeu.

A motivação em minha recuperação

“A motivação é a garra que se tem para fazer algo. Uma pessoa está realmente motivada quando deseja chegar à sua recuperação. Está disposta a fazer todo o necessário para conquistá-la, para mantê-la e ir melhorando dia a dia.

Se estiver convencida que sua recuperação é muito importante, seguramente estará mais próxima de consegui-la, o que, por sua vez, reforçará sua motivação.

Este é o momento de questionar se sua recuperação é algo prioritário entre os objetivos de sua vida.
           
Se sua recuperação realmente o é, tenha a perseverança necessária para exercitar-se todos os dias porque é somente pela repetição de condutas positivas que sua maneira de agir poderá se transformar.

Se você não puder dedicar, em média, uma hora por semana para estar com o grupo, sua motivação é pobre.

Quem pode compreendê-la melhor é a companheira de grupo que está na mesma situação. O grupo é muito útil porque ali você pode pedir ajuda. Se a aceitar, e fizer algo que for sugerido, estará no caminho da recuperação.

O grupo proporciona as técnicas, o modo de utilizá-las, e mostra como elas já serviram a outras mulheres.

Se você não assiste às reuniões do grupo, poderá estar pensando “Eu, sozinha, vou conseguir” e se nega a aceitar a verdade. Você entra em negação e em segredo, ou seja, na falta de sinceridade consigo mesma. Oculta a verdade das outras pessoas porque essa verdade lhe causa vergonha.

Se você tem uma motivação maior, passa a desfrutar do bem-estar e da felicidade que se consegue através da recuperação. Quanto mais se avança por esse caminho, mais bem-estar e felicidade vai se obtendo. A ideia é a de não pensar mais que algum dia chegará a ser feliz, mas que, aos poucos, você vai se tornando feliz. Deverá ter muita paciência com você mesma.                 

E também a constância necessária para alcançar seus pequenos objetivos”.

Minha autoestima

“Às vezes deveríamos nos conceber uma permissão fundamental: a permissão de sermos nós mesmas. Nem todas temos esse problema, mas, algumas de nós, têm uma imagem de si tão idealizada, elevada e irreal, que nunca podem alcançá-la. Outras desperdiçam toda uma vida esforçando-se para chegar a ser o que outras pessoas esperam delas; portanto, estão lutando com todas suas forças para ganhar aprovação, o amor e a inveja dos outros. Caminham pela vida como “Sísifo”, sem chegar jamais a empurrar a pedra até lá em cima, sem aprender uma das lições mais importantes da vida: que os outros nunca podem nos dar nossa autoestima.

Enfim, essa é uma dádiva que devemos dar a nós mesmas.

Atitude positiva: ao repetir meus comportamentos positivos, esses passam a ser firmes e fortes. Assim, acabo com meus sentimentos negativos que conduzem novamente ao fracasso.

Edison, quando estava inventando a luz elétrica, fracassou 99 vezes antes de triunfar, mas, em cada fracasso, aprendia o que teria que modificar, e, assim, chegou à grande descoberta. Para continuar desenvolvendo nossa autoestima, podemos responder por escrito as seguintes questões:

Comportamentos:

• Sou boa comigo mesma?
• Digo a mim mesma coisas agradáveis?
• Gosto de estar comigo mesma?
• Sou para mim uma pessoa digna de atenção?
• Coloco minha integridade em primeiro lugar?
• Penso em comprar para mim algum presente?
• Sei aceitar minhas qualidades? E meus defeitos?
• Me comparo frequentemente com as outras pessoas?
• Reconheço que tenho o direito de errar?
• Melhorar me satisfaz?
• Protejo minha serenidade

“Se queres ver todos os dias sua melhor amiga, não quebres seu espelho”.
 
Se você for:

Amar:
ame a si próprio ou a quem te ama.

Sofrer:
sofra por coisas verdadeiramente grandes, concretas e reais.

Chorar:
chore por ver a beleza do sol no novo dia ou pelas flores com seus espinhos ou pela chuva na relva.

Magoar:
magoe-se por não ter aprendido antes ou por já saber a lição e não ter aprendido.

Sorrir:
sorria primeiro para você, porque você merece, depois aos outros, sem desprezar.

Merecer:
mereça uma rosa, uma pedra, um camafeu, e um chute, se merecê-lo.

Agradar:
agrade a você antes, pois nem sempre querem o teu agrado.

Sonhar:
construa seu sonho, em terra firme, não no mangue, e que tenha base sólida.

Construir:
construa verdades, amizades, paz, para si e todos que te rodeiam.

Viver:
viva o dia de hoje, sempre um dia de cada vez, mas respeite o amanhã que, apesar de pertencer a Deus, nós é que o viveremos.

Aprender:
aprenda sempre consigo mesma e não só com os outros.

Depender:
dependa dos seus pés para andar, dependa das suas ideias para prosseguir, pois você sabe melhor do que ninguém o que você quer.

Concluindo esse artigo, insistimos em dizer que tudo começa no primeiro passo, a busca por ajuda. Existe a ajuda na esfera criminal, que se inicia na delegacia de polícia com o registro do Boletim de Ocorrência. E existe a ajuda emocional. O Mada é um desses alicerces que ajuda a mulher a se libertar dessa dependência emocional, que aos poucos destrói os sonhos e a vontade de viver das mulheres.

O amor demais por uma pessoa é fruto do amor de menos por si própria. E amor de menos é desamor, gerando uma baixa autoestima. Essa falta de amor por si própria atrai relacionamentos conflituosos e desgastantes. Às vezes, aparecem pessoas dispostas a amar a mulher com sinceridade, mas a baixa autoestima não lhe deixa enxergar esse amor; ela acha que ninguém é capaz de amá-la.

“O Mada está disposto a receber e ouvir as mulheres que sofrem por amor. Você não está mais só, Mada sempre estará de portas abertas para recebê-la. Em seu primeiro dia no Mada, você não encontrará a solução do problema, mas encontrará a esperança, a fé e o amor que as mulheres recuperadas, ou em vias de recuperação, lhe oferecerão, e que, com a experiência própria, irão ajudá-la para que você possa dizer: Não estou sozinha!".

Você não está sozinha!

No próximo artigo falarei sobre “Características de uma mulher que se recuperou de amar demais” e “As promessas de recuperação da dependência de relações”.

Reuniões do MADA:

Domingo, das 15h às 17h, na Paróquia Nossa Senhora de Fátima de Boa Viagem. (Rua Marquês de Valença, n° 350 – Boa Viagem – Recife/PE)

Quarta-feira, das 19h às 21h,
no Salão Paroquial da Igreja Católica do Pina (ao lado da igreja), localizada na Avenida Herculano Bandeira – Pina –Recife/PE

Telefones úteis

Ouvidoria da Mulher do Estado de Pernambuco - Cidadã Pernambucana -
0800 281 8187
Central de Atendimento à Mulher do Governo Federal - 180
Polícia - 190 (se a violência estiver ocorrendo)

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