Praia

Tirar tubarão da água vai custar R$ 20 mil a turista em Noronha

Cássio Oliveira
Cássio Oliveira
Publicado em 07/02/2017 às 11:35
Leitura:

Além de ser mordida, a turista paraibana foi multada / Foto: Reprodução

Além de ser mordida, a turista paraibana foi multada Foto: Reprodução

O  Instituto Chico Mendes da Biodiversidade (ICMBio) decidiu multar em R$ 20 mil uma turista que foi mordida após pegar em suas mãos um filhote de tubarão-limão, na Praia do Sueste, localizada no Arquipélago de Fernando de Noronha, em Pernambuco. A multa por molestar o animal foi de R$ 5 mil para ela e seu marido, totalizando R$10 mil. Entretanto, o valor foi dobrado pelo caso ter acontecido em uma área de preservação ambiental.

A turista não será presa, nem mesmo expulsa do Arquipélago. Segundo o ICMBio, ela compareceu nesta terça ao Instituto, onde foi autuada, junto ao Ministério Público. A mulher também recebeu uma orientação sobre os perigos de entrar em contato com animais silvestres. Ela poderá recorrer da multa na Justiça. No ano de 2014, um turista de São Paulo também pegou um tubarão com a mão e foi multado em R$ 5 mil pelo ICMBio.

Em vídeo, a turista pega o filhote dentro da água com a mão e o animal reage mordendo o dedo dela. Daí o marido chega a forçar a boca do tubarão para livrar o dedo da mulher, que ficou preso. Segundo informações da assessoria de comunicação de Fernando de Noronha, a turista levou quatro pontos após ser levada ao Hospital São Lucas.

Em Fernando de Noronha, o caso mais recente de incidemte com tubarão aconteceu em dezembro de 2016, quando um turista de São Paulo foi mordido enquanto estava na Praia do Leão. Porém ele não teve lesões graves. O ataque mais grave ocorreu um ano antes, em Sueste, quando um turista paraense perdeu o antebraço após ser mordido enquanto prativava um mergulho de apneia.

O ICMBio lançou nota sobre o caso da turista

Com relação ao episódio ocorrido com o tubarão e um casal de turistas na praia do Sueste no dia 6 de fevereiro de 2017, o ICMBio informa a todos que a turista que teve contato direto com o tubarão foi atendida no hospital São Lucas com ferimento leves e no dia seguinte compareceu a sede do ICMBio em Fernando de Noronha.

Após investigação e esclarecimentos dados pelo casal de turistas, averiguamos que a perseguição e captura ocorreu com uma espécie ameaçada de extinção, o tubarão limão (Negaprion brevirostris), tendo esta atitude enquadrada no art. 24 do Decreto n°6.514/2008 que regulamenta a Lei de Crimes Ambientais (Lei. 9605/98), e que prevê multa de R$5.000,00. Já o artigo 93° do mesmo Decreto, determina que caso o episódio ocorra dentro de Unidade de Conservação, a multa é dobrada. Portanto, por ter ocorrido no interior do Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha, cada uma das pessoas envolvidas na ocorrência foram multadas em R$10.000,00.

O ICMBio informa que o arquipélago de Fernando de Noronha proporciona ao morador e o visitante uma oportunidade única de vivenciar um ambiente natural protegido onde as espécies vivem, interagem e completam seus ciclos naturais. Devemos observá-lo e contemplá-lo interferindo o mínimo possível. Isso é sinal de respeito aos outros seres vivos e garante a perpetuação deste ambiente e das espécies que vivem nele.

Conheça o tubarão-limão

O tubarão-limão

O tubarão-limãoFoto: Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha

O tubarão-limão pode ser encontrado principalmente nas porções tropicais e sub-tropicais da costa da América do Norte e da América do Sul no Oceano Atlântico, sendo encontrado desde o nordeste dos EUA até o Brasil passando pelo Caribe e Golfo do México, também pode ser encontrado na Baixa Califórnia, Golfo da Califórnia e Equador, bem como em algumas ilhas do Oceano Pacífico. Normalmente vivem em regiões costeiras em águas de profundidade moderada junto ao fundo de areia.

Os tubarões-limão reúnem-se para acasalar em locais especialmente escolhidos para efeito. As fêmeas dão à luz em águas pouco profundas, como os manguezais, exibindo filopatria de procriação. Os tubarões-limão bebés, com vida independente, sem necessidade de serem protegidos pelos progenitores, permanecem nas águas rasas que lhes servem de berçário por vários anos antes de se aventurarem em águas mais profundas. Nascem com cerca de 75 cm de comprimento, sendo presa fácil de outros tubarões adultos, que praticam o canibalismo.

Não foi um ataque de tubarão

Tubarões surgiram no mundo há mais 350 milhões de anos, antes mesmo da formação dos planetas e do Oceano Atlântico.

Tubarões surgiram no mundo há mais 350 milhões de anos, antes mesmo da formação dos planetas e do Oceano Atlântico.Foto: Leonardo Veras/Acervo Pessoal

Ao NE10, o engenheiro de pesca Leo Veras, fundador do Museu do Tubarão de Fernando de Noronha, explicou que não foi um ataque. "Ela pegou o animal para tirar uma foto e esse tipo de manipulação é muito arriscado. Pegou pelo rabo do bicho que, para tentar se defender, mordeu”, afirmou.

Ainda segundo o especialista, a espécie é bastante comum na região, principalmente neste período. “Ele frequenta a região costeira, principalmente os menores”, comenta. O caso serve de alerta para os turistas que frequentam Noronha e não devem mexer com os animais marinhos. “Não devem pegar, perseguir nem alimentar”, diz Leo.

O Sueste integra o Parque Nacional Marinho. “Inclusive há uma placa na entrada da praia que alerta sobre a proibição de pegar nos animais”, diz Leo Veras.

Estigmatizado como um animal terrível, é no arquipélago que o tubarão mostra que as coisas não são bem assim. Em praias como a do Sueste, do Porto de Santo Antônio, da Caieiras e do Sancho, é possível interagir com eles, principalmente com os da espécie limão (negaprion brevirostris), uma das 13 encontradas na ilha – além dela, as mais frequentes são o lixa (ginglymostoma cirratum) e o do recife (carcharhinus perezi).

Veja o vídeo da turista sendo mordida pelo tubarão

Mais lidas