Fenômeno da natureza

Homens jovens são principais vítimas de raios no Brasil

MARÍLIA BANHOLZER
MARÍLIA BANHOLZER
Publicado em 23/10/2015 às 16:15
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País tem 57,8 milhões de ocorrências de raio por ano / Foto: divulgação INPE

País tem 57,8 milhões de ocorrências de raio por ano Foto: divulgação INPE

A máxima de que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar talvez não seja válida no Brasil, país líder mundial em queda de raios - com 57,8 milhões de ocorrências por ano. Intrigantes, dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) destacam que, nos últimos 14 anos, 1.789 pessoas morreram vítima de incidentes com descargas elétricas vindas do céu. Desse total, a maioria (82%) era do sexo masculino. As principais vítimas, inclusive, têm idade entre 15 e 24 anos e a maior parte dos acidentes acontece em áreas de atividade rural.

Essa situação "chocante" é explicada pelo fato de o território brasileiro ser o maior da zona tropical do mundo, com elevadas temperaturas e pluviosidade. No País, o local onde mais cai raios no Brasil é o Amazonas, com 11 milhões de registros por ano, seguido pelo Pará, com 7,8 milhões, e Mato Grosso, com 6,81 milhões de casos. No meio desse campo minado de raios, o Nordeste brasileiro é a região onde menos há incidência de raios no País. Sergipe, por exemplo, é o estado que tem a menor concentração e o menor número absoluto de raios. Em Pernambuco, por exemplo, o último incidente com raios registrado foi a morte de um agricultor de 70 anos, morador do município de Paranatama, no Agreste do Estado.



O meteorologista Ednaldo Correia de Araújo, chefe da Seção de Previsão do Tempo do Inmet Recife, explica que diversos fatores influenciam para a região Nordeste ter menor incidência de raios. Em resumo, do lado de cá do mapa, as nuvens são menos profundas e sofrem poucas interferências de frentes frias. O especialista ainda citou a existência de hidroelétricas e poços de petróleo na região Norte e Sudeste, que atraem esse tipo de fenômeno da natureza.

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“São Paulo e Rio de Janeiro são verdadeiros campos minados por causa do tempo quente e a incidência de chuvas; a união desses fatores gera os raios. No Nordeste, esse fenômeno é mais comum no interior onde há grande áreas descampadas e onde as nuvens são mais carregadas”, comentou Ednaldo Araújo.

O especialista ainda alerta que as pessoas devem ficar mais atentas nesta época do ano em que os termômetros marcam altas temperaturas. “Tem locais onde está marcando mais de 40ºC. Aí, quando vem uma frente fria, esses dois fatores se chocam e cresce muito a incidência de raios. Devemos ainda ficar atentos que os raios podem partir do céu ou do solo, mas os mais perigosos são aqueles que vêm de cima para baixo por causa de sua intensidade”, alertou o meteorologista Ednaldo Araújo.



Embora a região seja menos propensa à incidência de raios, alguns cuidados devem ser tomados, principalmente neste momento em que o clima fica mais quente. Isso porque é no Verão que ocorrem tempestades frequentemente acompanhadas de raios e trovões, aumentando as chances de acidentes causados por descargas elétricas entre as nuvens e o solo.

A verdade é que existem muitos mitos em relação a como se proteger de raios, como cobrir espelhos ou não pegar em objetos metálicos - como talheres. O certo é que, se houver uma tempestade com raios, alguns cuidados são importantes, como evitar a rua e outros ambientes abertos. Telefones sem fio ou celulares ligados à rede elétrica também são um perigo. Caso a pessoa já esteja fora de casa, os melhores abrigos são automóveis (desde que não sejam conversíveis) ou ônibus.

Perigosos e até fatais, os raios são produzidos entre o contato de nuvens de chuva ou entre uma dessas nuvens e a terra. A descarga é visível a olho nu, com trajetórias sinuosas conhecidas por relâmpago. Curioso, esse fenômeno natural é do livro “Brasil: Que raio de história”, lançado nesta sexta-feira (23), na Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, em Brasília. A edição traz dados sobre as mortes por raios no Brasil nos últimos 15 anos e estará disponível nas livrarias neste mês de novembro.

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