Os maiores roedores

A natureza resiste: grupo de capivaras é visto no Rio Capibaribe

Julliana de Melo
Julliana de Melo
Publicado em 01/08/2014 às 17:09
Leitura:

Cinco capivaras foram vistas no fim da tarde dessa quinta-feira, no bairro da Torre / Foto: Katiane Prazim/ComuniQ

Cinco capivaras foram vistas no fim da tarde dessa quinta-feira, no bairro da Torre Foto: Katiane Prazim/ComuniQ

Elas deveriam reinar absolutas no rio cujo nome inspiraram. Mas há anos sofrem com redução do espaço do seu habitat, a poluição e a caça indiscriminada. E mesmo assim resistem e ainda encantam os sortudos que conseguem avistá-las nadando nas águas do Rio Capibaribe. No fim da tarde desta quinta-feira (31), um grupo de cinco capivaras foi visto nas proximidades da ponte da Torre, na Zona Norte do Recife.

A analista de sistemas Katiane Prazim, 51 anos, foi uma das que flagraram o "passeio" dos animais, considerados os maiores roedores do mundo. "Eu estava voltando do Museu do Estado por volta das 18h, com minha família, e atravessava a ponte a pé. Quando vimos, achamos que eram patos, mas nos aproximamos e constatamos que eram capivaras", conta. Katiane é recifense, mas mora em São Paulo e está de férias na cidade. Ela compartilhou a imagem que fez dos animais no ComuniQ, ferramenta colaborativa do Sistema Jornal do Commercio.

Quem acha que o grupo visto pela analista de sistema é numeroso, engana-se. De acordo com o biólogo Edson Leal, coordenador do Laboratório de Ecologia e Biodiversidade do Instituto Tecnológico de Pernambuco (Itep), as capivaras andam em bandos de até 40 animais. Mas no Rio Capibaribe, quando avistadas, geralmente estão sozinhas ou em pares. "É uma boa surpresa encontrar cinco capivaras juntas no Capibaribe, mas esse número ainda é baixo e retrata bem a condição que esses animais enfrentam hoje para sobreviver", disse o biólogo.

No Rio Capibaribe, os animais costumam ficar nas áreas que possuem vegetação

No Rio Capibaribe, os animais costumam ficar nas áreas que possuem vegetaçãoFoto: Diego Nigro/JC Imagem


Edson Leal lembra que a espécie já foi tão abundante em Pernambuco que o Rio Capibaribe recebeu este nome em homenagem a ela – significa Rio das Capivaras (Caapiuar-y-be ou Capibara-ybe) em tupi. "Com a redução das áreas florestadas e a crescente urbanização, hoje as capivaras estão extintas em vários municípios do Estado cortados pelo Rio Capibaribe", disse. A nascente do rio, que tem 240 quilômetros de extensão e corta 42 municípios, fica em Poção, no Agreste.

Apesar de não existir um levantamento populacional da espécie em Pernambuco, de acordo com Edson Leal, as capivaras são vistas com maior frequência nas áreas que possuem vegetação de mangue ou nativa. Seus predadores naturais são felinos, serpentes e jacarés. "Sabemos que existe a presença de jacarés-de-papo-amarelo no Rio Capibaribe e podemos considerá-los como um predador em potencial da capivara. Mas o seu risco de extinção está relacionado com a ação humana", explica o biólogo. Além de sofrer com danos ambientais, a capivara é alvo de caçadores que apreciam a sua carne e aproveitam o couro.

Para escapar de tantos "inimigos", o mamífero semi-aquático possui membranas interdigitais que facilitam a natação e conseguem ficar até cinco minutos submersos. A vegetação também serve de esconderijo.

DANOS AMBIENTAIS - Em Pernambuco, as capivaras começaram a sofrer com a ação do homem no século 16, com a exploração da cana-de-açúcar e a construção dos engenhos. Em seguida, olarias se instalaram nas margens dos rios e começaram a escavar a área para produção de tijolos e telhas. Depois teve início o desenvolvimento urbano, reduzindo as áreas de matas e manguezais para dar espaço aos edifícios e obras viárias.

Mais lidas