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Expedição ajudará a entender migração de tubarões na costa pernambucana

Mariana Dantas
Mariana Dantas
Publicado em 22/07/2014 às 18:37
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A meta da expedição é capturar e realizar a marcação em pelo menos  20 tubarões-tigre no Nordeste brasileiro / Foto: Luiz Pessoa/NE10

A meta da expedição é capturar e realizar a marcação em pelo menos 20 tubarões-tigre no Nordeste brasileiro Foto: Luiz Pessoa/NE10

Pela primeira vez será possível acompanhar, em tempo real, a migração dos tubarões-tigre no Brasil e estudar a sua relação com os ataques registrados na costa pernambucana. A bordo de um navio-laboratório de 37 metros, uma expedição formada por cientistas brasileiros e pesquisadores da Organização Não Governamental (ONG) Ocearch irá capturar, marcar e soltar tubarões em áreas do Recife, Natal, Alagoas e Fernando de Noronha, no Nordeste do País. A expedição acontece a partir desta quarta-feira (23) e segue até o dia 14 de agosto, em alto-mar, a cerca de 30 km da costa. A operação está orçada em 700 mil dólares e tem financiamento privado.

"As localidades escolhidas para marcação dos tubarões são estratégicas. Já sabemos que os tubarões-tigre que se aproximam da costa pernambucana utilizam as correntes Sul-Norte, vindos de Alagoas e seguindo para o Rio Grande do Norte. Porém não temos informações sobre sua origem, ciclo de vida e destino. Conhecendo melhor a migração dos animais, podemos promover medidas de prevenção de ataques mais eficientes e menos impactantes do ponto de vista ecológico", explica o professor do curso de engenharia da pesca da Universidade Federal Rural de Pernambuco, Fabio Hazin. Ele coordena o grupo formado por 12 cientistas da UFRPE, UFPE, das universidades do Pará, Bahia e do estado da Flórida, nos Estados Unidos.

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Fábio Hazin explicou ainda que, através do monitoramento via satélite, será possível saber se, depois de cruzarem o Cabo Calcanhar, no Rio Grande do Norte, os tubarões-tigre seguem em direção ao Caribe ou às ilhas oceânicas, como Fernando de Noronha. A movimentação dos predadores marcados durante a expedição poderá ser acompanhada através do site da Ocearch por um período de até dez anos.

Além dos 12 cientistas, o navio-laboratório da Ocearch conta ainda com 40 tripulantes, comandados pelo líder da expedição Chris Fischer. "É uma honra colaborar com os brasileiros através de dados tão importantes para o meio ambiente e também para a segurança pública", diz Fischer. Esta será a 20ª expedição da Ocearch, que teve início em 2007 e que já etiquetou mais de cem tubarões em várias partes do mundo, incluindo a África do Sul, Ilhas Galápagos e a Costa Leste dos Estados Unidos.

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Pesquisador do Ocearch faz marcação em tubarão branco durante expedição. Foto: Divulgação

Para a expedição que tem início nesta quarta, a meta do grupo é marcar pelo menos vinte animais. "Esse número pode ser maior", afirma Fischer, acrescentando que os tubarões são capturados individualmente, com um anzol especial arredondado, que não machuca. "Não utilizamos tranquilizantes e nem redes; apenas um pano preto para cobrir os olhos do animal. Tudo é muito rápido, dura em média 15 minutos".

O pesquisador Fábio Hazin coordena a equipe de cientistas

O pesquisador Fábio Hazin coordena a equipe de cientistasFoto: Luiz Pessoa/NE10

Após capturados, os tubarões são levados para dentro do navio através de uma plataforma. Em seguida, os pesquisadores aplicam o chip de marcação em sua barbatana e realizam outros procedimentos como coleta de sangue, retirada de parasitas e de pequenos pedaços do músculo e da barbatana que ajudarão a obter informações sobre a reprodução, alimentação e dados genéticos do animal.

SINUELO - O pesquisador Fabio Hazin explica que o trabalho realizado na costa pernambucana pelo barco de pesquisa Sinuelo, da UFRPE, não será interrompido devido à expedição da Ocearch. "São áreas de atuação diferentes. O navio da Ocearch estará no alto-mar; já o Sinuelo continua fazendo o monitoramento próximo à costa pernambucana", diz. Para capturar os animais, os pesquisadores pernambucanos utilizam o espinhel ou drumline, uma linha com vários anzóis. Após receber o sinal que o animal mordeu a isca, o barco vai até o local para analisar o animal e fazer as marcações. O procedimento dura algumas horas e cerca de 25% dos animais não resistem aos ferimentos.

ATAQUES - Desde 1992 já foram registrados 59 ataques de tubarão em Pernambuco, com 24 mortes. O último ataque de tubarão ocorreu há exatamente um ano, na Praia de Boa Viagem, e causou a morte da turista paulista Bruna da Silva Gobbi, 18 anos - um protesto foi realizado nesta terça na praia para marcar um ano do ataque.

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