São Paulo

Bombeiro civil morre em incêndio no Museu da Língua Portuguesa

Marina Padilha
Marina Padilha
Publicado em 21/12/2015 às 17:53
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Um bombeiro morreu ao tentar conter o início das chamas do Museu da Língua Portuguesa em São Paulo / Foto: Corpo de Bombeiros de SP

Um bombeiro morreu ao tentar conter o início das chamas do Museu da Língua Portuguesa em São Paulo Foto: Corpo de Bombeiros de SP

Um incêndio de grandes proporções atinge o Museu da Língua Portuguesa, na região central de São Paulo, na tarde desta segunda-feira (21). Um bombeiro civil morreu ao tentar conter o início das chamas, que só foram controladas às 18h30. A Estação da Luz, que fica ao lado do museu, não teria sido atingida. Durante quase três horas, era possível ver pequenas explosões no telhado e as labaredas chegaram a cinco metro de altura.

"O incêndio começou no primeiro andar (do museu) e passou rapidamente para o segundo por quanta da estrutura do prédio que é basicamente madeira", afirmou o comandante dos Bombeiros, Valdir Pavão.

De acordo com o arquiteto Pedro Mendes da Rocha, filho de Paulo Mendes da Rocha, um dos responsáveis pelo projeto do museu, o telhado em madeira e zinco favorece a propagação das chamas. Ele explica que o prédio foi reforçado com estruturas de concreto aramado para tentar minimizar o risco de incêndio por conta da grande quantidade de madeira por se tratar de um prédio centenário.

"É uma tragédia que se repete. Em 1947, esse mesmo prédio foi consumido pelas chamas. A torre do relógio serviu como chaminé. Não imaginávamos que isso fosse voltar acontecer", lamentou o arquiteto.

O Museu da Língua Portuguesa fica na Praça da Luz e, às segundas-feiras, fica fechado ao público. Segundo a Secretaria de Estado da Cultura, a sede administrativa fica em outro endereço, por isso é provável que não houvesse pessoas no museu. Por volta das 18h, uma pessoa ainda não identificada subiu no telhado do prédio e caminhou em direção as chamas.

Ao lado do prédio, fica a Estação da Luz, importante ponto de intercessão entre metrô e trem no centro de São Paulo. O incêndio afetou a circulação dos trens da Linha 7, que está paralisada entre as estações Luz e Barra Funda, e da linha 11, entra a Luz e a estação Brás.

Segundo a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), a ala do prédio destinada ao funcionamento da estação de trem não foi atingida pelo fogo. Ela foi fechada, entretanto, a pedido dos bombeiros, por questão de segurança devido à fumaça tóxica.

ACERVO DIGITAL - Em entrevista à "Globonews", na tarde desta segunda-feira, a coordenadora de conteúdos e roteiro do museu, Isa Grinspum Ferraz, classificou o incêndio como uma "tragédia".

"(O museu) foi fruto do trabalho de muitos anos de uma equipe multidisciplinar de altíssimo nível, que trabalhou junta para criar uma coisa completamente nova. Ele mudou o paradigma dos museus no Brasil e mesmo fora do Brasil, ele era uma referência internacional", resumiu a coordenadora.

Ferraz disse considerar o espaço "revolucionário", não apenas pela "tecnologia e pelo formato", mas pela forma de "encarar a língua portuguesa no Brasil para um público amplo". "Era um museu democrático", disse.

Inaugurado em março de 2006, o museu é um dos mais visitados do Brasil e da América do Sul. Ele foi concebido e implantado pela Fundação Roberto Marinho, instituição ligada ao Grupo Globo, graças a convênio com o governo de São Paulo, responsável pela gestão. Ferraz afirmou que existem cópias de segurança da maior parte do acervo digital do museu.

"Tem que ver em que estado está, para saber o interesse tanto da fundação (Roberto Marinho) quanto do estado de São Paulo de rever isso. No mínimo, toda a pesquisa e os roteiros a gente tem. Precisamos aguardar um pouco para ver como isso vai andar", afirmou.

OUTRO INCÊNDIO EM 1946 - O edifício da Estação da Luz já havia passado por um incêndio de proporções parecidas na madrugada do dia 6 de novembro de 1946, quando o relógio da Luz foi completamente destruído pelo fogo, bem como toda a estrutura dianteira do edifício. A escassez de água atrapalhou o trabalho de salvamento naquela manhã, e os bombeiros chegaram a recorrer às águas do lago da Estação da Luz para abastecer as mangueiras. O fogo irrompeu na seção de Contabilidade da Estação por volta das 2h e rapidamente se alastrou, só sendo controlado às 7h. Dois bombeiros ficaram feridos. A Estação só seria inteiramente reconstruída em 1950.

TECNOLOGIA DE PONTA - O projeto de implantação do museu e restauração do prédio da Estação da Luz custou aproximadamente R$ 37 milhões, segundo dados oficiais. O projeto arquitetônico é de Pedro Mendes da Rocha e Paulo Mendes da Rocha.

O espaço era considerado um dos mais modernos da cidade de São Paulo, por apresentar forma expositiva com uso de tecnologia de ponta e recursos interativos para a apresentação de conteúdos.

Além de uma exposição do acervo permanente, o museu apresentava desde 20 de outubro a exposição "O tempo e eu e você", sobre um dos maiores pesquisadores do folclore e da cultura popular brasileira, Luís Câmara Cascudo. A exposição seria exibida até fevereiro de 2016.

Uma segunda mostra tinha sido aberta há uma semana, com 100 charges, caricaturas e quadrinhos selecionados do Salão Internacional de Humor de Piracicaba.

"Pelo que vemos das imagens da televisão, tudo deve ter sido destruído. Mas eram reproduções, os originais não estão lá", afirma o cartunista Eduardo Grosso, funcionário da Secretaria Municipal da Ação Cultural de Piracicaba que participa da comissão organizadora do Salão de Humor.

A exposição foi inaugurada no último dia 15 e ficaria em cartaz até 28 de fevereiro.

"É lamentável isso ter acontecido. Ao menos, o Museu da Língua tem um padrão de não guardar acervo. O que deve se perder são os equipamentos, que têm um custo alto, mas podem ser substituídos", completou. 

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