Acidente

Instrutor morre no Rio ao arriscar salto inédito de wingsuit

Marcella César de Albuquerque Falcão
Marcella César de Albuquerque Falcão
Publicado em 26/07/2015 às 19:55
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Gonçalves decidiu saltar com seu wingsuit da mesma altura na Pedra da Gávea que ele havia saltado dois dias antes, porém, em outra face da montanha, de frente para o mar / Foto: Internet

Gonçalves decidiu saltar com seu wingsuit da mesma altura na Pedra da Gávea que ele havia saltado dois dias antes, porém, em outra face da montanha, de frente para o mar Foto: Internet

Dois dias antes de morrer, na quarta-feira (22), o paulista Fernando Monteiro Gonçalves, 36, postou um vídeo de seu mais recente salto da Pedra da Gávea, no Rio.

A quase 850 metros de altitude, ele se atirava do penhasco e seguia voando, a poucos metros do paredão rochoso, com o auxílio de um wingsuit -traje especial que ajuda o atleta a planar e reduz a velocidade na queda livre. Um minuto e 20 segundos depois, pousava na praia, em São Conrado, zona sul carioca.

Na última sexta-feira (24), data de sua morte, ele voltou ao local e escolheu outra rota. A reportagem apurou que Gonçalves decidiu saltar com seu wingsuit da mesma altura na Pedra da Gávea, porém, em outra face da montanha, de frente para o mar. Até então, ninguém havia arriscado um salto com wingsuit a partir daquele ponto.

O principal perigo que teria pela frente: antes de alcançar o abismo e voar acima do mar, ele precisaria superar um segundo trecho considerável de montanha, cerca de 50 metros abaixo do ponto de partida.

Por quase três horas, ele analisou o relevo local para saber se o tempo de queda livre seria suficiente para atravessar esta outra parte.

Seguiu o procedimento feito por atletas da modalidade em áreas desconhecidas: jogou pedras para cronometrar o tempo de queda livre até a área de impacto e chegou a fazer rapel (procedimento de descida da escalada) para observar de outros ângulos a distância entre os dois pontos da montanha.

Com a experiência adquirida em 21 anos como instrutor de paraquedismo, calculou que ia conseguir. Posicionou os pés na ponta da rocha. E saltou.

O corpo de Gonçalves foi encontrado pelo Corpo de Bombeiros exatamente neste trecho de montanha abaixo do ponto de partida.

A tragédia repercutiu de imediato entre os atletas deste esporte de ação, incluindo os estrangeiros.

Gonçalves era um dos principais atletas do mundo em saltos com wingsuit. No Brasil, são menos de 50 praticantes.

Antes de desembarcar no Rio na segunda-feira (21), ele passou pela Noruega para disputar uma seletiva da World Wingsuit League, a liga mundial da modalidade, que reuniu 34 competidores de vários países.

"Fernando era um dos melhores do mundo no que fazia. Atletas de vários países iam para a Califórnia para ter aula com ele", disse Paloma Oliveira, 22, atleta de BASE-jumping (modalidade em que o praticante de salta de paraquedas de um ponto fixo, como uma montanha, mas sem o uso de traje especial.

Gonçalves morava há uma década em San Diego, nos Estados Unidos, e trabalhava como instrutor em uma escola voltada para esportes de ação com uso de paraquedas.

"O Fernando foi um dos primeiros a fazer este salto de wingsuit na Pedra da Gávea (em 2012), que virou um point internacional. As pessoas vêm de todas as partes do mundo para saltar aqui", explicou o militar e paraquedista

Fernando Brito, 41, que também passou a praticar os voos com wingsuit.

Em maio de 2013, Gonçalves perdeu um amigo próximo, o brasileiro Fernando Motta, que morreu em um acidente com wingsuit em Utah, nos Estados Unidos.

Na época, ao falar sobre a tragédia, Fernando Gonçalves comentou em uma rede social por que valia a pena seguir em esporte tão perigoso: "É difícil mesmo, para as pessoas que não são apaixonadas pelo esporte, entender o motivo pelo qual fazemos isso! Espero que um dia você experimente o gosto de voar."

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