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Cinegrafista registra queixa contra manifestante; ativistas criticam imprensa

Mariana Campello
Mariana Campello
Publicado em 25/07/2014 às 22:37
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O repórter cinematográfico Tiago Ramos, que presta serviços ao SBT, registrou queixa na tarde desta sexta-feira (25) na 5ª Delegacia de Polícia da Lapa por tentativa de roubo durante o tumulto de quinta-feira (24) entre jornalistas e manifestantes, que aguardavam a saída de ativistas presos no Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu. No boletim de ocorrência, Tiago alegou que um manifestante tentou roubar sua câmera.

O cinegrafista freelancer relatou que torceu o tornozelo ao tentar se defender e proteger o equipamento. O seguro não cobre danos ocasionados por vandalismo. Na manhã de hoje, Tiago Ramos procurou atendimento médico em um hospital de Campo Grande, na zona oeste.  “Na saída da Elisa Quadros [conhecida como Sininho], na tentativa de nos impedir de filmar, colocaram a mão e  tentaram agredir quem estava com as câmeras. Houve uma tentativa de defesa [dos jornalistas] para que conseguíssemos fazer o nosso trabalho. Um rapaz tentou roubar minha câmera. Quando ele deu o primeiro soco na câmera, a lente saiu, e eu a segurei em uma mão e a câmera na outra. Foi quando ele puxou a câmera e eu fui arrastado por eles, sendo salvo por colegas de profissão”, explicou Tiago Ramos.

A confusão ocorreu quando manifestantes tentaram impedir que repórteres fizessem imagens dos três ativistas deixando a prisão. Na saída de Camila Jourdan, alguns manifestantes discutiram com os jornalistas. No entanto, houve troca de chutes, socos e empurrões quando Sininho deixou a penitenciária. Amigos e parentes ficaram em volta da jovem para que não fossem feitos registros e jornalistas tentaram furar o bloqueio para obter as imagens. Durante o tumulto, outros repórteres foram agredidos, entre eles André Mello, fotógrafo do jornal O Dia.

Segundo Tiago Ramos, havia sido acertado previamente que os jornalistas fariam as imagens do outro lado da rua e que os manifestantes também ficariam afastados, o que acabou não ocorrendo. “Quando foi chegando a hora deles saírem, o grupo atravessou a rua, ficou do lado esquerdo e isso impossibilitou que fizéssemos qualquer tipo de imagem", disse o repórter cinematográfico.

Em encontro, ocorrido mais cedo no Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro, pais de alguns dos ativistas presos, suspeitos de participação em atos violentos em manifestações de rua, criticaram os meios de comunicação e atuação do Estado.

Advogado de três ativistas e pai do estudante Igor Pereira D'Icarahy, que foi solto ontem (24), Marino D'Icarahy disse que " a imprensa é a própria execução sumária". "Nossos filhos não são algozes de nada são vítimas de vocês”, disse aos jornalistas.

A mãe do estudante de pedagogia, Leonardo Fortini Baroni Pereira, Cristina Baroni criticou a mídia por se referir aos ativistas como vândalos e membros de quadrilha. “Esses jovens abriram mão de suas vidas pessoais, abriram mão do próprio umbigo para lutar pelo umbigo de todos nós”, defendeu Cristina Baroni. Rose Quadros, mãe de Elisa Quadros, disse que a imprensa está demonizando a filha. “Ela [Sininho] e os demais ativistas estão tomando esse lugar que deveria ser de todos. A atuação dela sempre foi de estar alerta, organizando movimentos sociais. As acusações contra ela são ridículas, mas têm um propósito, que é criminalizar os movimentos sociais".

O debate acirrou-se quando foi mencionado o tumulto de ontem envolvendo ativistas e jornalistas. De acordo com os pais que estiveram no local, a imprensa foi truculenta na abordagem aos ativistas. "Peguei no ar um suposto jornalista que, por duas vezes, tentou acertar a cabeça de um menino com o tripé de uma câmera", declarou Marino D'Icarahy. "Eles me empurraram e só não caí, porque me segurei em alguém", disse Rose Quadros.

A presidenta do sindicato, Paula Máiran, destacou que um jornalista ficou ferido na boca, no braço e no tornozelo durante o episódio dessa quinta-feira. De acordo com a presidenta, desde maio, mais de 90 jornalistas foram agredidos no exercício da profissão. “Em muitos casos por policiais, mas também por manifestantes”, disse. Na avaliação de Paula Máiran, a categoria tem que dialogar e reivindicar dentro dos padrões éticos de relações humanas. “O maior agressor é o Estado. Seja quem for o nosso agressor, não podemos partir justamente para a violência e para ações arbitrárias, exercendo algo que extrapola os nossos direitos. Temos que dar exemplo, inclusive, de como reivindicar que sejamos respeitados”, declarou.

Em alguns momentos, houve bate-boca entre jornalistas e parentes dos ativistas presentes ao encontro no sindicato. Repórteres declararam que os ativistas generalizam os profissionais de imprensa, além de fazerem agressões verbais e físicas. Os ativistas alegaram que as respostas que dão aos jornais são deturpadas ou parcialmente publicadas.

 

O representante do Instituto de Defensores de Direitos Humanos (IDDH), Thiago Melo, disse que o Estado têm cometido prisões arbitrárias, coerções e violações contra movimentos sociais. "O inquérito cita 73 movimentos sociais como pertencentes a uma organização armada e criminosa. E o IDDH, que é uma entidade modesta de advogados ativistas, é chamado de nave-mãe da organização por defender o direito desses manifestantes”.

A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) manifestou repúdio às agressões sofridas pelo cinegrafista. Em nota, a associação pediu que as autoridades apurem o que ocorreu, além de punir os responsáveis, para garantir a liberdade de expressão e amplo acesso dos cidadãos à informação. A entidade também questionou a ação dos ativistas, afirmando se preocupar por aqueles “que clamam por liberdade e se dizem atuar em nome dela, mas buscam ações para impedir a livre atuação da imprensa na investigação de fatos de interesse público”.

A Ordem dos Advogados do Brasil, seção Rio de Janeiro, também repudiou as agressões aos jornalistas e lembrou que, desde o ano passado, vem condenando atos de violência, independentemente da origem ou vítima. “A liberdade de imprensa é um marco pelo qual a OAB sempre lutou. Foi graças à livre expressão que o país obteve conquistas significativas para o florescimento, a manutenção e a evolução da democracia brasileira”, disse a nota.

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