Trabalho na virada

Depois da virada é lotação máxima nos motéis

Wladmir Paulino
Wladmir Paulino
Publicado em 30/12/2015 às 16:32
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Maria Betânia prefere trabalhar na virada do ano / Foto: Wladmir Paulino/ NE10

Maria Betânia prefere trabalhar na virada do ano Foto: Wladmir Paulino/ NE10

Enquanto elas trabalham, outros têm prazer. Adivinhou rápido, são elas mesmas, as camareiras de motéis. Mas, numa festa como a virada do ano, é trabalho dobrado, pois, embora seja local de 'brincar' de maneira, digamos, privativa, tem gente que quer fazer de uma suíte uma extensão da queima de fogos.

Do alto de 11 anos trabalhando no setor em todas as funções, a hoje supervisora de motel Maria Betânia Lima, 40 anos, já viu muita coisa nesses anos de labuta. E o que mais chama a atenção é o rastro de sujeira deixado por muitos. Como é uma data em que muita gente bebe umas (muitas) e outras (bastante), não é de se estranhar que ela encontre quartos banhados de bebidas, vômito de quem exagerou e, algumas vezes, cacos de copos e garrafas.

"Ah, meu Deus do Céu, pense numa bagunça! Muitos vomitam, é bebida derramada no quarto..." Já teve gente que, de tão embriagada, não acertou o vaso sanitário e pôs os bofes para fora na banheira de hidromassagem mesmo. E nem dá para reclamar porque é contra as regras do negócio. Alguns estabelecimentos cobram uma taxa de limpeza quando percebem que a situação está muito feia. "Quando está muito sujo, tem que ser uma faxina completa e com duas camareiras", conta.

Se o 'prejuízo' higiênico fosse só isso, ainda há o rombo financeiro que muitos conseguem impor. Como? Deixa para Betânia contar: "Às vezes, vêm carros lotados, com dois, três casais. Se a gente não se ligar, entra todo mundo junto numa suíte e não pode". Também existe a turma que insiste em fazer da garagem uma pista de dança. "Já vi gente ligar o som muito alto na garagem e os outros hóspedes ligam para reclamar".

O roteiro funciona da seguinte forma: as pessoas passam a virada em casa, se abraçam, felicitam parentes, amigos e depois correm para o motel. "A partir de uma hora de manh,ã começam a chegar. Depois disso, lota".

Porém, diante de todo esse cenário, será que vale a pena trabalhar numa data em que as pessoas estão tão juntas? Para a supervisora, sim. Como ela e a família não são muito afeitas a festas, não há qualquer problema. Some-se a isso o fato de o marido também haver trabalhado no mesmo segmento e temos uma compreensão ainda maior. Aliás, os dois se conheceram no ambiente de trabalho.

"É melhor romper o ano no hotel e estar no dia 1º em casa. Porque a bagunça toda vem no dia 1. Já trabalhei em motel que tinha gente que pagava para outro trabalhar no Ano Novo, mas, para mim, nunca teve problema". E quem labuta também tem direito à festa. Num estabelecimento em que ela trabalhou, o patrão liberava até o champanhe. "A gente fazia a ceia de Ano Novo como todo mundo. Não deixa de ser uma família também; afinal, a gente fica mais tempo no trabalho do que em casa".

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