Gasto

Sebo, bazar e troca-troca: estratégias para economizar nos livros didáticos

Ana Maria Miranda
Ana Maria Miranda
Publicado em 16/12/2015 às 15:56
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Praça do Sebo, na área central do Recife, reúne livros de diversas disciplinas e editoras / Foto: Ana Maria Miranda/NE10

Praça do Sebo, na área central do Recife, reúne livros de diversas disciplinas e editoras Foto: Ana Maria Miranda/NE10

Com ou sem crise econômica, é consenso entre os pais que o valor investido nos livros didáticos e paradidáticos é um gasto que pesa no bolso. Por causa disso, já é costume a pesquisa de preço e a compra em sebos. Agora, em meio à recessão, surge a opção de participar de bazares e outras ações em colégios.

Mãe de três filhos, a autônoma Mara Sandra, 42 anos, sempre comprou o material escolar em sebos. "São sempre muito bons, com 50% de desconto. É quase a mesma coisa [dos das livrarias]", opina. Com as crianças nos 4º, 6º e 7º anos, ela diz que os livros são sempre aproveitados, uma vez que os irmãos mais novos usam os dos mais velhos. Além disso, ela dá aulas de reforço e utiliza o material.

Vendedora Iraci Lourenço apaga escritos de livros para facilitar para os alunos

Vendedora Iraci Lourenço apaga escritos de livros para facilitar para os alunosFoto: Ana Maria Miranda/NE10

A Praça do Sebo, no bairro de Santo Antônio, na área central do Recife, reúne diversos vendedores de livros novos e usados que são uma boa opção para quem precisa comprar livros escolares. Iraci Lourenço, 42, vende livros a partir do 6º ano do ensino fundamental até o ensino médio. Visando a facilitar para o aluno que vai usar o material, ela costuma apagar os escritos de lápis nos livros que compra ou troca. No momento em que foi abordada pela reportagem, a vendedora segurava o livro Oficina de Redação, da editora Moderna. O preço era R$ 40, enquanto no site da Livraria Saraiva, por exemplo, o produto novo estava por R$ 115. "Já está aparecendo gente com lista de materiais, mas o movimento mesmo só começa em janeiro", revela Iraci.

A vendedora Carla Moreira, 29, nunca havia comprado em sebos e, em passeio pela Avenida Dantas Barreto - próxima à Praça do Sebo -, acabou entrando para fazer pesquisa de preço dos livros da filha Yasmin, de 7 anos. "Acabei esquecendo a lista, mas o livro estando em bom estado, não me importo [de comprar no sebo]", afirma.

Na loja Mundo dos Livros, que comercializa livros novos e seminovos na Praça do Sebo, os que nunca foram usados custam por volta de R$ 120 (caso pago em dinheiro); R$ 25 a menos do que o mesmo livro comprado em livrarias comuns.

Praça do Sebo, na área central do Recife, reúne lojas de livros novos e seminovos

Praça do Sebo, na área central do Recife, reúne lojas de livros novos e seminovosFoto: Ana Maria Miranda/NE10

Nesse comércio popular, o movimento de compras para a volta às aulas só deve aumentar no fim de janeiro e início de fevereiro, segundo os vendedores. Além da conhecida praça, também há quiosques com livros usados na Dantas Barreto, com preços médios de R$ 70 para os volumes mais novos, dependendo da edição e do estado do livro. Já os de edições antigas podem ser comprados em sebos por um valor bem mais barato. Na loja Recanto dos Alfarrabistas, por exemplo, é possível comprar edições por apenas R$ 10.

Como os sebos também compram e trocam livros, é possível que os próprios alunos repassem o material. Foi o caso de Gilsiane Dellys, 18 anos, que encerrou o ensino médio no ano passado e levou cerca de 10 livros na manhã desta quinta (16) para tentar vender. "Acho muito interessante fazer isso", opina.

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Sebos oferecem diversas opções de livros novos e usados - Ana Maria Miranda/NE10
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Mãe de Yasmin, 7 anos, foi fazer pesquisa de preço para material didático - Ana Maria Miranda/NE10
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Mãe de três filhos, Mara sempre comprou livros do colégio em sebos - Ana Maria Miranda/NE10
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Livro Oficina de Redação, do 6º ano, é vendido por mais da metade do preço no sebo - Ana Maria Miranda/NE10
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Saldão em sebo oferece preço de R$ 10 em livros didáticos - Ana Maria Miranda/NE10


REPASSE NA ESCOLA - Com a crise econômica, se espalha a ideia de promover bazares, que podem contribuir na economia na hora de comprar o material. Pensando nisso, a funcionária pública Izabel Mello, 37, reuniu no Facebook um grupo de mães do Colégio Damas, na Zona Norte do Recife, para negociar livros paradidáticos. Intitulado "Bazar de Paradidáticos Recife", o grupo serve para compartilhar fotos e fazer ofertas sobre os livros.

Criado na semana passada, a comunidade já reúne mais de 60 pessoas, agora também com famílias de alunos de outras escolas. "Eu já fiz troca com algumas mães e gostei; então tive essa ideia de ajudar outras mães", afirma Izabel, que tem um filho no infantil I e uma filha no 3º ano do ensino fundamental. Os livros - que quase não são usados por não serem consumíveis (sem exercícios que façam o aluno escrever neles) - custam 50% menos do que o preço das livrarias.

Outra opção de compartilhamento de materiais pode vir de uma atitude da própria escola, como acontece no Colégio Apoio, no bairro Parnamirim, também na Zona Norte. Antes com doações pontuais entre pais, mães e funcionários da instituição de ensino, este ano o colégio decidiu fazer uma ação maior com o objetivo de ter mais adesão. Durante esta semana, os responsáveis podem entregar livros e fardamento que não serão mais usados por seus filhos.

"Pedimos que os materiais estejam em boas condições. Nós temos a preocupação de passar pelo menos três anos com o mesmo autor [para que seja possível o repasse]", afirma a diretora pedagógica e financeira do Colégio Apoio, Terezinha Cysneiros. De acordo com ela, as doações serão organizadas por série e tamanho para que haja a troca ou doação nas próximas segunda e terça-feiras (21 e 22). Os filhos de funcionários do colégio também podem ser contemplados pelas doações de material. Segundo Terezinha, não há como afirmar qual será o resultado da ação, uma vez que esse formato é novo. Porém, o colégio espera que dê certo para que os materiais sejam aproveitados.

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