Debate

A corrupção nossa do dia a dia

Mayra Cavalcanti
Mayra Cavalcanti
Publicado em 09/12/2015 às 14:54
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A linha que separa o 'certo' do 'errado' é tênue. Imprimir um documento pessoal no trabalho pode parecer besteira para alguns e ser errado para outros. Ultrapassar esta linha nem sempre configura um crime, mas pode caracterizar uma atitude incorreta e, muitas vezes, corrupta.

Por que não estacionar o carro na vaga destinada aos idosos se é "rapidinho"? Ou devolver um troco que veio maior do que deveria se as coisas andam tão caras e você sem dinheiro? São perguntas que nos fazemos ao nos depararmos com situações tentadoras, que vão nos beneficiar de alguma forma, mas aparentemente não prejudicarão ninguém.

De acordo com Marcos de Araújo Silva, pesquisador de pós-doutorado do Departamento de Sociologia da UFPE, a ideia de que a corrupção faz parte do DNA da cultura brasileira é preconceituosa. "A corrupção no País é uma questão conjuntural. A sociedade brasileira é muito hierarquizada e quando as pessoas veem que alguns setores ficam 'impunes', elas se sentem estimuladas a praticar atos corruptos", comenta.

Pela primeira vez, a corrupção apareceu como principal problema do Brasil em pesquisa Datafolha divulgada no mês passado, apontado por 34% dos entrevistados. Na sequência vinham a saúde (16%), o desemprego (10%), educação e violência (ambos com 8%) e economia (5%). Além disso, 70% da população brasileira acredita que a corrupção no setor público é algo 'gravíssimo', segundo outra pesquisa da Transparência Internacional.

Para o sociólogo, o problema começa quando a sociedade passa a ter uma visão positiva da corrupção. "Existe a ideia na população de que quem não aproveita as 'oportunidades' é burra. Mas muitas delas não foram instruídos de que aquilo é errado", acrescenta. A socióloga Zuleica Dantas não acredita que a corrupção faça parte do cotidiano do brasileiro.

"Isto é um estereótipo, de que existe o 'jeitinho brasileiro'. As pessoas podem cometer pequenas infrações no dia a dia e isto é normal. As leis foram criadas e a possibilidade de não serem cumpridas existe, mas não acredito que o que acontece no Brasil seja fora do normal', explica.

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