Fim de ano x crise

Natal vai ser regado a lembrancinhas e ceia simples, sem peru

Germana Macambira
Germana Macambira
Publicado em 23/11/2015 às 17:00
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As chamadas

As chamadas 'aves especiais' devem substituir o tradicional peru de Natal Foto: reprodução internet

E lá vem mais um Natal em que a pequena Júlia, de 9 anos, não vai ganhar o que já vem pedindo ao Papai Noel faz tempo. A mãe,Vanessa de Lima, está sem trabalhar e o pai, o professor Wanderson de Lima, tem sido o único provedor da família. Resultado: poucos itens ‘de luxo’, árvore montada com adereços guardados cuidadosamente de outras festas e a filha do casal passará longe do cobiçado smartphone desejado por ela há algum tempo.

Um Natal que, provavelmente, deve se assemelhar ao de boa parte da população. O que não significa deixar de celebrá-lo com festa e presentes, mas passam a ser um item obrigatório alternativas que não pesem (tanto) no bolso e, dessa forma, não agravem (mais) o orçamento massacrado pela crise financeira pela qual passa o País.

“Este ano está mais difícil do que os outros, embora a contenção de despesas para a festa já venha sendo adotada por nossa família desde 2012. Júlia vai ficar mais uma vez sem o celular que ela deseja e a minha esposa já está pensando em receitas que substituam o peru, por exemplo”, ressaltou Wanderson.

A criatividade é a grande aliada de quem não quer ‘passar em branco’ com a troca de presentes e com os comes e bebes tradicionais da ceia. “O incremento de opções para todos os bolsos é uma das saídas para atender ao consumidor nesta época do ano. O comércio de produtos ‘finos’ vai continuar, mas, sem dúvida, a ideia é alcançar o maior número possível de clientes com outras alternativas de compra”, comentou o supervisor administrativo do supermercado Atacadão, da unidade Camaragibe, José Lenildo .

Frangos especiais que substituem o peru, panetones mais simples no lugar dos recheados, espumantes que fazem as vezes de proseccos e champanhes e até cabrito assado podem incrementar a ceia sem comprometer tanto o orçamento de final de ano.  O cabrito, por exemplo, é uma alternativa que já foi adotada pelo jornalista, crítico gastronômico e apresentador do programa de culinária Frigideira, da TV Jornal, Bruno Albertim.

“É um prato que eu mesmo preparo em minha casa e tem a aprovação de todos. É uma opção em conta - o quilo pode sair, em média, por R$ 30. Um tempero mesclado com ervas e vinho e o prato principal da ceia de Natal está garantido”, comentou Albertim, que também aprova a substituição de produtos importados por temperos, digamos, mais locais. “O que pode encarecer muito é o uso de especiarias europeias, como as castanhas portuguesas, as conservas e o marrom glacê. Um ‘pitada’ nordestina também pode cair muito bem”, completou.

A afirmação é corroborada pelo gerente de bebidas da Casa dos Frios, Maurício Dias. De acordo com ele, os importados são itens que acompanham, de fato, o aumento do câmbio nos últimos meses. “A procura por geleias, queijos e azeites continua. No entanto as pessoas têm preferido produtos mais em conta e de qualidade semelhante.  Por exemplo, no caso dos vinhos - responsável por 65% da receita de bebidas da loja -, o cliente leva, às vezes, um rótulo padrão, menos sofisticado”, comentou.

DECORAÇÃO SUSTENTÁVEL - Uma garrafa pet daqui, uns copos descartáveis acolá aliados à criatividade podem fazer a diferença no bolso de quem não quer abrir mão da decoração das festas de final de ano, sem deixar de lado a beleza dos adornos. É o que garante a artesã Rosiane Viana, que aproveita toda e qualquer matéria-prima para produzir árvores de Natal, anjos, guirlandas e outras dezenas de artefatos tradicionalmente usados no fim de ano.

“Não dispenso nada que para os outros pode até parecer insignificante. Tudo pode ser transformado e muito bem aproveitado, basta ter criatividade. Sem falar da economia e do lado sustentável do trabalho”, comentou Rosiane.

Rosiane Viana opta por enfeites sustentáveis para o Natal

Rosiane Viana opta por enfeites sustentáveis para o NatalFoto: reprodução Facebook

Uma mesa farta de enfeites natalinos pode sair a um custo de R$ 50, em média. Com direito à guirlanda à base de canudos, anjos, estrelas, Papai Noel e outros objetos confeccionados com garrafas pet, papel higiênico e jornal. “Com cem canudos, é possível fazer duas guirlandas. Cada pacote com cem unidades sai a, mais ou menos, R$ 2,70”, comentou a artesã, que vai ministrar, inclusive, uma oficina de reciclagem, no próximo sábado (28), na loja da Engefrio da Av. Abdias de Carvalho. “O bom é que dá para produzir para si mesma, para presentear e para ganhar dinheiro”, concluiu a artesã.

LEMBRACINHAS QUE VIRAM PRESENTES - “Não é de hoje que frequento o comércio do bairro de São José e é muito claro o quanto, este ano, a procura por enfeites e presentes tem sido muito maior. É muita gente circulando naquelas ruas”, atestou Rosiane .

 Que as pessoas não querem deixar de presentear é um fato. Assim como essas mesmas pessoas estão em busca de economia. “Sugeri para Júlia que, este ano, ela faça uma lista com pelo menos três opções de presentes. E, dependendo do que vier, provavelmente vou no item de menor valor”. Talvez a ‘fala’ do administrador Wanderson seja a praxe de uma maioria de pais que não quer decepcionar os filhos no Natal, mas, ao mesmo tempo, assume a dificuldade financeira. Um fato que não está sendo ignorado pelo comércio dos grandes centros.

O comércio e a Feira de Caruaru são opções de compras para este Natal

O comércio e a Feira de Caruaru são opções de compras para este NatalFoto: reprodução internet

Não vai ser muito diferente com o assessor contábil Paulo Roberto Leite, que este ano vai optar pelo artesanato e pelas roupas da Feira de Caruaru. De lá ele pretende trazer presentes ‘mais em conta’ para toda a família e, ainda por cima, vestir a família para as festas. “São netos, sobrinhos, esposa e dois afilhados que estão em minha lista. Não sei bem ainda o que cada um vai ganhar, mas tenho certeza de que vou sair no lucro e vou agradar cada um”. 

Mas ainda é preciso que o clima natalino comece a pairar, principalmente, no comércio do Recife. De acordo com o superintendente da Câmara dos Dirigentes Lojistas do Recife (CDL), Hugo Phillippsen, o pagamento do 13º salário no final do mês, pode incrementar as vendas que ainda não aconteceram.

“O consumidor está retraído e deve se manter cauteloso nas compras de fim de ano. Cientes disso, as lojas têm que oferecer uma maior variedade de produtos e com preços melhores, mesmo que, para isso, a margem de lucro seja sacrificada”, explicou. 

Em outros anos o Centro do Recife já estava recebendo, em grande quantidade, os ‘papais-noeis’ típicos da época. “Começamos a abrir aos domingos e isso pode contribuir, também, para aumentar o movimento, porque já devíamos estar com aquele clima de intenção de compras. Se tivermos o mesmo percentual de 7% a 8% que tivemos o ano passado, em relação a 2013, já vai ser um bom negócio”, ressaltou o superintendente.

BLACK FRIDAY - A ação de vendas criada nos Estados Unidos passou a integrar, também, o comércio físico e virtual no Brasil. Durante todo o dia da próxima sexta-feira (27), a proposta é oferecer descontos em produtos que, em ‘dias normais’ seriam vendidos pelo preço ‘cheio’. De acordo com Hugo Phillippsen o dia pode ser produtivo, também, para alavancar as vendas no comércio do Recife.

“Deixou de ser uma campanha integralmente virtual. As ruas praticam a ideia e as pessoas até preferem sair para conhecer o produto de perto. O clima é de liquidação e isso pode favorecer as vendas e facilitar a vida de quem quer comprar e quer gastar pouco”.

 

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