74% dos brasileiros usarão o dinheiro para pagar débitos. Em 2014, foram 68% Foto: Rafael Neddermeyer/ Fotos Públicas
Em vez de peru de Natal e presentes na árvore, grande parte dos 84 milhões de trabalhadores brasileiros que receberão o 13º salário este ano devem usar o dinheiro para pagar dívidas. Pelo menos é o que aconselham os economistas, já que o endividamento das famílias cresceu bastante nos últimos meses.
“Considerando o atual cenário econômico, com a inflação próxima dos 10% e o aumento desemprego, o trabalhador deve ter uma postura mais conservadora em relação aos gastos. Deve priorizar o pagamento de dívidas, principalmente as do cartão de crédito e do cheque especial”, afirma o economista Fábio Silva, membro do Conselho Regional de Economia de Pernambuco.
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Segundo pesquisa da Anefac, boa parte dos R$ 173 bilhões que serão injetados na economia do País com o pagamento do 13º deve mesmo ser utilizado para quitar dívidas. Das 1.037 pessoas entrevistadas, 74% usarão o dinheiro para pagar débitos. Em 2014, foram 68% . Os recifenses estão entre os mais endividados (confira no quadro abaixo).
Com três mensalidades do colégio da filha em atraso, uma conta de água vencida e juros do cartão de crédito a pagar, o consultor de suporte técnico Carlos Leandro Batista, 28 anos, já sabe o que fazer com o dinheiro. “80% do meu 13º estão comprometidos com as dívidas. O ano está muito difícil, tudo está bem mais caro. Antes conseguia poupar algum dinheiro e hoje sofro para pagar as contas. Não sei onde vamos parar”, disse Carlos Leandro, que mora em São Lourenço da Mata, em Camaragibe, no Grande Recife.
A percepção de Carlos Leandro de que o dinheiro “encurtou” é explicada pela desvalorização da moeda brasileira. “Com o aumento da inflação, o dinheiro perde poder de compra. Se a pessoa tinha R$ 100 no início do ano, atualmente, esse valor corresponde a R$ 90,91”, explica o analista financeiro e professor da Faculdade dos Guararapes (FG), Roberto Ferreira. Ele lembra que, além de pagar dívidas, o trabalhador deve poupar dinheiro para as despesas do início do ano, como pagamento de IPTU, IPVA e compra de material escolar.
80% do 13º de Carlos Leandro serão para pagar dívidasFoto: cortesia
HORA DE INVESTIR – Para os brasileiros que, apesar da crise, continuam “no azul”, a dica do economista Fábio Silva é investir. “Para quem tem folga no orçamento, é um bom momento para investir por conta da elevação da taxa de juros, o que gera um maior retorno na aplicação. Fundo de investimentos e títulos públicos são as melhores opções”, afirma.
Com a meta de comprar um apartamento, a publicitária Beatriz Luna, 32 anos, não vai gastar nenhum real do seu 13º. “Há três anos consegui controlar minhas contas e nunca mais usei o décimo para dívida. Agora é só poupar”, afirma.