E-readers, os leitos digitais, fazem a leitura das versões virtuais dos livros; faturamento com a venda dos livros digitais chegou a R$ 17 milhões em 2014 Foto:AFP
Segundo o último levantamento feito pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), foram comercializados mais de um milhão de livros virtuais em 2014. O faturamento com a venda dos livros digitais chegou a R$ 17 milhões, R$ 4 milhões a mais que em 2013. O número representa uma média de 33,6% a mais no faturamento no setor digital. Parece muito, não é? Mas a quantia corresponde a "apenas" 0,3% do faturamento total dos impressos. O cenário mostra que, apesar da recente popularização dos e-readers, leitores das versões digitais dos livros, há quem tenha resistência às novas tecnologias quando o assunto é leitura.
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Sempre curiosa pelo avanço das novas tecnologias, a servidora pública Benise Barros, 54, descobriu os e-readers em 2010 e, desde então, não consegue desgrudar dos leitores digitais, contrariando a ideia de que essas ferramentas tendem a agradar apenas os mais jovens. “Para mim, não tem desvantagem nenhuma; só vejo vantagens. Eu não compro mais livro de papel, só em casos excepcionais, como livros de poesia que eu gosto de abrir em folhas aleatórias ou livros de culinária, porque gosto de folhear as páginas. Mas, de resto, é só digital”, conta. Entre os benefícios dos novos aparelhos, a leitora enumera enfaticamente: “Primeiro, é poder ler com a luz apagada. Depois, ter como aumentar a fonte. Poder carregar vários livros sem peso algum. É muito mais prático na hora de viagens, por exemplo. Tem também a questão do dicionário: você não precisa parar a leitura para ir atrás do dicionário, o próprio e-reader tem. Isso, por mim, por exemplo, já valeria!”, defende.
Já a professora de língua portuguesa Paula Karina, 46, ainda prefere a interação, digamos assim, com os livros impressos. “Acho que a principal vantagem dos e-books ou qualquer outro recurso tecnológico dentro do sistema de tela é a questão da praticidade. Mas eu ainda prefiro, em termos de envolvimento, o livro físico. A interação com o livro começa muito antes da leitura. O contato físico é muito importante em várias questões humanas. O toque, o tipo de letra, a configuração da obra. O livro físico, por exemplo, me dá vontade de escrever também”, defende. A educadora ressalta, no entanto, que o essencial é sempre estimular o hábito da leitura, não importa a plataforma. “O importante mesmo é que a gente leia. Eu estou até sendo influenciada pelos meus alunos com as novas tecnologias, justamente por causa da praticidade. A questão desses recursos mais recentes também atrai e a gente precisa usá-los”, explica.
Principais e-readers no mercado brasileiro são o Kindle, da Amazon; Kobo, comercializado pela Livraria Cultura; e o Lev, vendido pela Livraria Saraiva
“É notório que essas ferramentas têm dado um maior acesso à leitura. Livros tradicionais, virtuais e outros tipos de textos têm feito com que o universo literário atinja mais pessoas. Isso é um fator positivo”, pontua a pedagoga Carmi Ferraz, doutora em Linguística Aplicada. O principal objetivo com a leitura, defende a especialista, não é o canal em que o livro é lido e, sim, o aprendizado com o conteúdo da obra. “A questão de qual o tipo de canal pelo qual o leitor vai se guiar é o que menos importa em se tratando da importância da leitura na rotina de crianças, jovens e adultos. O que deve ser levado em consideração é a forma como essa leitura é absorvida pelos leitores”, finaliza.