Cuidar melhor do lixo não é um desafio apenas para os brasileiros - no País, apenas 3% do lixo produzido vai para reciclagem. Em todo o mundo, cidadãos e governantes se esforçam para dar um destino adequado aos resíduos sólidos. Um dos melhores exemplos é o município sueco Borás, que reaproveita 99% do seu lixo. No Japão, existem vários incentivos para que a população cuide bem do lixo que produz.
Em Umuarama, no Paraná, o lixo reciclável é trocado por alimentos naturais Foto: Prefeitura de Umuarama;divulgação
SÃO PAULO - Há doze anos, moradores da Vila Nova Esperança, em São Paulo, plantaram uma horta comunitária num terreno que servia de lixão. Tudo que sai da horta é compartilhado na comunidade. O plantio periódico é feito em mutirões de até 50 pessoas e a proteção das hortaliças é feita com materiais reutilizados, como garrafas PET. Mas a comunidade colhe bem mais que verduras e hortaliças: colhe contribuições e parcerias. Em 2014, a companhia de saneamento do Estado de São Paulo cedeu um terreno vizinho para que o cultivo seja ampliado junto com a construção de uma creche e um campinho de futebol.
ALEMANHA - Escambo, doação, venda de coisas usadas. Num mundo sustentável só não vale aumentar a quantidade de lixo nas ruas e nos lixões. Quase toda cidade da Alemanha, seja grande ou pequena, tem uma comunidade virtual da rede Free Your Stuff, ou livre-se de suas coisas, em tradução livre.
O fenômeno não é uma exclusividade alemã: já existem grupos de Free Your Stuff em cidades como Nova Iorque e Barcelona. Mas, na Alemanha, observa-se uma verdadeira febre: Berlim, Bonn, Colônia, Hamburgo, Munique, Stuttgart, Leipzig, Nurembergue, Dresden, Frankfurt, Düsseldorf… É rara a cidade alemã que não tenha o seu FYS.
JAPÃO - O Japão é um dos países que mais recicla lixo no mundo. Dados revelam que 77% dos materiais plásticos são reciclados. A reutilização de garrafas PET chega a 72% (até 1995, não passava de 3%) e a de latas está em torno de 88%. Com 128 milhões de pessoas e pouco espaço para aterros, principalmente em metrópoles como Tóquio, o país incinera 80% do lixo que produz.
Na Copa de 2014, os japoneses deram uma importante lição de cidadania. Depois do jogo contra a Costa do Marfim, na Arena Pernambuco, no Recife, eles recolheram o lixo. Foto: Diego Nigro/JC Imagem
Nas estações de metrô de Tóqui, as PETs valem descontos nas passagens. Depositando cerca de 15 garrafas, é possível usar todas as linhas de metrô da cidade.
NOVA IORQUE - A estudante norte-americana Lauren Singer tem um blog sobre sustentabilidade que é um sucesso. Nele, ela documenta sua jornada rumo a uma rotina sem lixo e dá dica aos leitores sobre como assumir um estilo de vida mais leve, simples, saudável e sustentável.
Sua jornada começou em 2012 e, desde então, é impressionante ver a quantidade de lixo que ela produz. Para isso, ela incorporou uma série de hábitos: usa sacola retornável, recusa recibos em papel, está sempre com uma garrafa de água reutilizável, compra a granel e produz em casa os produtos de higiene pessoal e limpeza.
SUÉCIA - No município de Borás, na Suécia, 99% do lixo é reaproveitado. O sucesso da cidade depende de uma atitude bem simples: a separação dos resíduos sólidos nas próprias residências. Em Borás, a população dá um destino específico para cada tipo de lixo. O reciclável é entregue em pontos de coleta montados em supermercados. Já o lixo orgânico vai para sacos pretos, recolhidos pela prefeitura para geração de biogás. O restante vai para sacolas brancas que são incineradas e viram eletricidade. Com a economia, houve redução nas contas de luz e nas tarifas do transporte público.
ESTÔNIA - Na Estônia, um grupo de voluntários se uniu para coletar o lixo acumulado nas florestas do País, que ocupam metade do território do país europeu. A campanha Let's do it! aconteceu em maio de 2008 e reuniu mais de 500 parceiros para preparar a ação. ONGs, políticos, formadores de opinião, mídia e governo se engajaram no projeto. Mais de 600 voluntários fizeram o mapeamento das áreas a serem percorridas. No grande dia, mais de 50 mil pessoas apareceram para contribuir com o movimento. Para retirar as mais de dez toneladas de lixo, o governo teria demorado três anos e gasto mais de 22,5 milhões de euros. Para o mutirão, foi preciso apenas cinco horas e meio milhão de euros.
NORUEGA - A geração de energia foi a maneira encontrada pela capital norueguesa, Oslo, para reduzir os aterros sanitários. Após a triagem dos resíduos, tudo que não pode ser reciclado vai para as usinas de incineração. A eletricidade produzida com o material que sobra da reciclagem alimenta os sistemas de aquecimento dos prédios públicos e os tanques de combustível do transporte coletivo. Para dar conta da demanda, Oslo chega a importar lixo de cidades da Inglaterra e da Irlanda.