Persistência

Contra o câncer, o que importa é a vontade de viver

Malu Silveira
Malu Silveira
Publicado em 01/10/2015 às 17:10
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Mato-grossense Graziele Vanni, de 35 anos, diagnosticada com câncer no começo de 2015, surpreende a todos com seu otimismo diante da doença  / Foto: Beto Fotos / Reprodução

Mato-grossense Graziele Vanni, de 35 anos, diagnosticada com câncer no começo de 2015, surpreende a todos com seu otimismo diante da doença Foto: Beto Fotos / Reprodução

Rotina embaralhada, sonhos interrompidos e felicidade à prova: esta é uma história que fala, principalmente, sobre a vontade de viver. Quando Graziele Vanni foi diagnosticada, em março deste ano, com câncer de mama, nem em seus pensamentos mais distantes a administradora de 35 anos imaginava passar por essa situação. Normal, nenhuma de nós imagina. Por isso, esse também é um relato de uma caminhada que não existiria se não fosse a Fé – em Deus, no amor e na cura.

A história de Graziele, assim como a de tantas outras, trata de superação. E na forma como enxergamos os problemas - não só os pequenos, mas os grandes também. O jeito que a mato-grossense enfrenta a batalha contra o câncer surpreende todos à sua volta, tanto que seu nome foi sugerido pelo internauta Alef Luka à reportagem do NE10 durante Periscope (aplicativo de transmissão ao vivo) realizado na manhã desta quinta-feira (1º).   

“Na hora eu estava com meu esposo e minha filha de oito anos. Desabei e chorei muito. Mas aí pensei que eu tinha duas opções. A primeira era me entregar à doença, e eu já sabia para onde esse caminho levaria, que é à morte. A segunda era aproveitar a oportunidade que Deus me deu, de enfrentar essa doença e lutar por minha vida”, lembra Graziele, que teve que se afastar do trabalho em Diamantino, no interior do Mato Grosso, e se mudar com a filha para a casa dos pais, em Cuiabá, para começar o tratamento na rede particular de saúde. 

Na foto, Graziele com a irmã; apoio da família foi fundamental, segundo a administradora

Na foto, Graziele com a irmã; apoio da família foi fundamental, segundo a administradora Foto: Beto Fotos / Reprodução

Diagnosticada com carcinoma invasivo, um dos tipos mais comuns de câncer de mama e que pode se espalhar para outras partes do corpo, Graziele fez sua primeira cirurgia ainda em março. Em um procedimento que durou mais de seis horas, a administradora passou pela mastectomia total da mama esquerda. Mas uma complicação na mama direita a levou de volta ao centro cirúrgico menos de dois dias depois da primeira cirurgia. “No momento que eu fui para o centro cirúrgico, eu rezava e pedia a Deus para segurar minha mão. Na minha cabeça eu tinha que ter força para superar tudo isso”, conta.

Logo em seguida, Graziele começou a quimioterapia. O tratamento ainda não terminou. E se engana quem pensa que a força da administradora foi diminuindo a cada sessão. “Eu fiquei sabendo de várias informações sobre as reações, mas escutei todas e absorvi somente aquelas que iam fazer bem para mim. Eu tenho que seguir meu caminho, sabe? Quero, lá na frente, enxergar a vitória. Tanto que não tive muitas reações e acredito muito que meu pensamento positivo, minha fé em Deus e a alimentação me ajudaram muito”, comemora.

Família de Graziele raspou o cabelo em apoio à luta da jovem administradora contra o câncer (Foto: acervo pessoal)

O apoio da família e dos amigos, conta Graziele, foi e vem sendo fundamental. Um momento particular durante a trajetória da mato-grossense dá a dimensão de como o apoio daqueles que mais amamos nos dá forças para não desistir e nunca deixar de seguir em frente, não importa o que aconteça. “Eu sempre fui muito vaidosa. Cuidava de mim, do cabelo, adorava me maquiar. Eu tinha o cabelo comprido na cintura e justamente neste ano, que eu mais queria deixar ele crescer, foi quando fiquei careca. Fui cortando aos poucos, até que raspei tudo”, relembra. Na época, toda a família acompanhou Graziele ao salão. Levaram cartaz, churrasco e, sobretudo, amor. “Estavam todos comigo neste dia. Todo mundo raspou o cabelo. Esse tinha tudo para ser um dia triste, mas foi o dia mais feliz da minha vida. Foi uma prova de amor que eu jamais imaginei que teria na minha vida. De lá para cá, eu sempre tentei ser positiva. Tento buscar a autoestima em mim e sempre pensar lá na frente”, explica. A filhinha de 8 anos, Flávia Luiza, não chegou a raspar o cabelo, mas cortou bem curtinho. 

Quando questionada pela reportagem qual mensagem deixaria para aquelas que passam pela mesma – ou outras – situações, Graziele não tem dúvidas: dar valor ao que e quem realmente importa. “A vida é uma correria e, às vezes, a gente dá valor a algumas coisas que não importam. Eu tinha uma vida muito corrida e não fiz várias coisas que poderia ter feito. É a família, é um amigo que você não conversa. A gente tem que viver a vida, independente dos problemas que venham a aparecer. Amar os outros, curtir a família, os amigos. Ser forte, guerreira e não deixar de fazer o que amamos. E que a gente jamais desista de viver, é isso que me dá força”, ressalta. Essa foi uma história que falou de força, persistência e, principalmente, otimismo diante da vida e tudo que ela nos joga quando não tivemos a oportunidade de aprender a lição.

EXPECTATIVA - Com um histórico da doença na família, a dona de casa Rubinete da Silva Brito, de 52 anos, entrou em processo de remissão após quase dois anos lutando contra o câncer de mama. Desde o começo, a forma de lidar com a situação deixou a caminhada da recifense, que fez todo o tratamento no Hospital de Câncer de Pernambuco (HCP), menos pesada. "Eu tenho um Deus maior dentro de mim, que me dá forças para essas coisas. Algumas pessoas se perguntam porque isso acontece com elas. Mas a gente tem que passar mesmo, nada é por acaso", defende. 

Rubinete passou pela quimioterapia e a radioterapia, tratamentos agressivos que, muitas vezes, debilitam fisica e emocionalmente o paciente. O que a fez enfrentar sem muita dificuldade todos os procedimentos foi a alegria e a vontade de seguir em frente. "Os sintomas da quimioterapia eram horríveis. Quando eu ia ficando boa, já passava por outra sessão e não dava nem tempo de me recuperar. Quando o médico chegou para mim e falou que era a última sessão, eu fiquei muito alegre, mas perguntei pelas minhas amigas que também estavam em tratamento. Aí ele disse: Rubinete, elas continuam. Que tenham muita força igual a você", lembra. 

A recifense Rubinete da Silva Brito encarou a doença com o apoio da família; na foto, com o filho que acaba de se formar em publicidade (Foto: acervo pessoal) 

Apesar do desconforto com a medicação que ainda toma atualmente, não tem tempo ruim para a dona de casa, que também encontrou na família apoio para continuar a batalha contra a doença. "Eu estou aqui na luta, com fé em Deus que vai dar tudo certo. Hoje mesmo eu estou feliz da vida, mesmo com tudo que passei. Amanhã é o baile de formatura do meu filho (Gabriel, de 25 anos). Estou animada e mesmo com o pé enfaixado (devido a uma torsão), não estou nem aí. Vou me divertir", comemora. 

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