Violência

Vítima de bala perdida pretendia se mudar para longe de presídios

Isabelle Figueirôa
Isabelle Figueirôa
Publicado em 28/09/2015 às 12:26
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"Somos gente de bem e estamos à mercê de bandidos", disse, emocionada, Silvany Alves (esquerda), irmã da vítima / Foto: Isabelle Figueirôa/ NE10

"Somos gente de bem e estamos à mercê de bandidos", disse, emocionada, Silvany Alves (esquerda), irmã da vítima Foto: Isabelle Figueirôa/ NE10

Recentemente, a dona de casa Silvany Alves, de 29 anos, descobriu que estava grávida. A boa nova veio cerca de um mês antes de um outra notícia que seria uma das mais trágicas de sua vida: a morte do irmão. O mecânico Ricardo Alves, 31, foi atingido por balas perdidas na manhã desse domingo (27) durante mais um tumulto entre presos e policiais do Complexo Prisional do Curado, na Zona Oeste do Recife.

Diferente de outros familiares que foram ao velório, Silvany não teve condições de ir ao Cemitério Parque das Flores na manhã desta segunda-feira (28) e preferiu ficar em casa, um cômodo ao lado de onde morava o irmão. "Eu estava dormindo quando ouvi a gritaria. Ficou tudo banhado em sangue", recorda, bastante emocionada. 

Ricardo Alves faria 32 nesta sexta-feira, 2 de outubro

Ricardo Alves faria 32 nesta sexta-feira, 2 de outubroFoto: reprodução / arquivo pessoal

"Somos gente de bem e estamos à mercê de bandidos", completou Silvany,  acrescentando que diariamente vê pessoas jogando armas, celulares e drogas para o Complexo Prisional, o maior de Pernambuco e que apresenta superlotação (tem capacidade para 1.819, mas abriga 6.965 presos de acordo com números da Secretaria de Justiça de 24 último). Da casa dos irmãos, no Alto da Bela Vista - ambos moravam lá há cerca de 30 anos -, é possível ver todo o complexo.

No Parque das Flores, a sogra de Ricardo, a comerciante Cristiane Maria, 37 anos, afirmou que a filha, a jovem Crislayne Stefani, 18, não comia desde ontem - quando aconteceu a tragédia com o marido. "Ela está como se estivesse dopada, em estado de choque. Eles eram muito apaixonados e fariam um ano de casados no dia 21 de novembro", relembrou. Outra data que torna a tragédia mais dramática é o aniversário da vítima, que faria 32 anos na próxima sexta-feira (2).



Desde que a filha se casou e foi morar próximo ao Complexo Prisional do Curado, Cristiane temia que algum mal acontecesse. De acordo com o marido dela e sogro de Ricardo - que não quis se identificar -, o mecânico tinha planos de se mudar do local. "Ele até já tinha ido ver uma casinha no Curado [onde moravam os sogros], mas, quando chegou, já tinham alugado", explicou.

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