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Mostra de Circo do Recife resgata magia do picadeiro

Germana Macambira
Germana Macambira
Publicado em 24/09/2015 às 15:00
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Mostra de Circo do Recife faz homenagem a um dos nomes mais representativos da arte circenses, Alakazan / Foto: Renata Pires/divulgação

Mostra de Circo do Recife faz homenagem a um dos nomes mais representativos da arte circenses, Alakazan Foto: Renata Pires/divulgação

“ (...)Hoje tem marmelada? Tem sim sinhô! Hoje tem goiabada? Tem sim sinhô!!!! E o palhaço, o que é? É ladrão de mulhé.”

‘Respeitável público’ leitor, levante a mão quem nunca ouviu essas frases sob uma lona de circo à espera de espetáculos de malabares, trapézios, palhaçadas e outras tantas peripécias típicas do universo do circo?

Talvez nem o próprio Carlos Galhardo - cantor argentino que fazia sucesso com as marchinhas de Carnaval, na Era do Rádio - imaginasse que esses versos se perpetuariam décadas depois nos picadeiros, encantando o público que lotava as arquibancadas - ou por que não os chamados ‘puleiros’ dos circos de outrora.

Sim, de outrora, porque cada vez menos é possível contemplar a chegada dos caminhões, carregados de magia, se alocando nas periferias dos grandes centros para armar as suas lonas coloridas e, assim, chamar o público para o espetáculo. 

Até o próximo domingo (27), a 6ª Mostra de Circo do Recife - que acontece no Sítio da Trindade, em Casa Amarela - resgata um pouco esses saudosos tempos do circo com apresentações gratuitas dessa arte e com uma homenagem a um dos nomes mais representativos da arte circenses, Alakazan.

O artista pernambucano Wilson Ribeiro da Silva é natural de Surubim, Agreste pernambucano, e descobriu o circo desde os dez anos de idade. No auge dos seus mais de 70 anos de vida, ele participa da exibição do documentário Circo Mágico Alakazam, no domingo (27), idealizado pelo também artista Gilberto Trindade. 

Sob a lona, Alakazam fez de tudo um pouco: foi mágico, malabarista, trapezista, apresentandor e fundador, na década de 1970, da companhia que dá nome ao documentário.

“Não tem como falar do circo sem se remeter ao mestre dos picadeiros. A homenagem é justa e merecida. Há algum tempo eu vinha cultivando esse desejo de contar um pouco de sua história e essa edição da mostra, certamente, vai ser mais especial com a exibição do documentário”, ressaltou Gilberto, à frente do Circo da Trindade, no espaço Studio Danças, nas Graças.

MOSTRA - Além de Alakazam, o presidente da Associação dos Proprietários de Artistas Circenses do Estado de Pernambuco (Apacepe), Maviael Ribeiro, é outro homenageado da 6ª Mostra de Circo do Recife, promovida pela Prefeitura do Recife, através da Secretaria de Cultura e Fundação de Cultura da cidade.

Os espetáculos acontecem sempre no horário, às 16h e ÀS 19h, com acesso gratuito ao público.

HISTÓRIA - O cenário atual do circo não é mais tão tradicional assim. Desde as civilizações antigas da Grécia, China e Egito, por exemplo, passando pelos ciganos e chegando aos espetáculos mais recentes, muitas mudanças passaram a compor a arte circense, com outras vertentes dessa arte. Rir dos palhaços trapalhões, ficar encantado com o risco de um trapezista cair dos metros de distância do chão ou aguardar, com ansiedade, o número de mágica que vai, literalmente, tirar um coelho da cartola, talvez não faça mais parte da rotina dos fãs mais exigentes pelos circos de outrora.

A ‘necessidade’ de encontrar outros meios surgiu ao longo dos anos mas a essência do universo do circo ainda pode ser percebida na contemporaneidade dos picadeiros. “Um trapézio não pode deixar de existir em uma apresentação. E é dele que extraímos outras ideias para acompanhar outras gerações que procuram a diversão de um espetáculo e, ao mesmo tempo, se propõe a conhecer um outro lado voltado para a saúde, por exemplo”, esclarece Gilberto Trindade, sobre os tecidos acrobáticos que é um dos desdobramentos das acrobacias aéreas do circo. “A performance é oriunda dos antigos trapézios. As manobras são tão difíceis quanto. Apenas o resultado faz bem ao corpo”, salienta Trindade que, no espaço das Graças, ministra oficinas que envolvem diversos aparelhos circenses.

 

Corroboram com a fala do artista a tecnologia evidente nos espetáculos do Cirque du Soleil ou em outros que acoplam suas lonas e, sob elas, ambientam o espaço com ar refrigerado - a exemplo do Le Cirque, companhia francesa que esteve recentemente no Recife. Seja de uma forma ou de outra o espetáculo continua encantando multidões e se perpetuando como uma das artes milenares que, provavelmente, não tem dia nem hora para sair de cena. “As dificuldades são muitas e nessas horas o amor pela arte é o que sustenta manter essa herança do circo em atividade. Ora com adaptações, ora com a essência de um trapézio peculiar, o que importa é encantar. Uma tarefa que se torna fácil aos olhos de qualquer um que pare para contemplar o nosso trabalho”, finalizou Gilberto Trindade.

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