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Motoristas do Uber reclamam de queda no faturamento após um ano na RMR

MARÍLIA BANHOLZER
MARÍLIA BANHOLZER
Publicado em 10/03/2017 às 17:39
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Motoristas do Grande Recife dizem que faturamento caiu drasticamente nos últimos meses / Foto: Aschley Melo/JC Imagem

Motoristas do Grande Recife dizem que faturamento caiu drasticamente nos últimos meses Foto: Aschley Melo/JC Imagem

Com a promessa de oferecer "um bom dinheiro", a plataforma da Uber atrai milhares de motoristas para sua equipe todos os dias no Brasil [e no mundo]. São mais de 50 mil parceiros do serviço que rodam em mais de 40 cidades brasileiras diariamente. No entanto, em meio ao crescimento vertiginoso dos números, motoristas estão reclamando que a empresa tem adicionado novos integrantes de maneira desordenada o que acaba aumentando a concorrência entre eles mesmos, reduzindo os ganhos ao trabalhar para o aplicativo.

Em Pernambuco, o grande número de motoristas que estão sendo inseridos no serviço tem incomodado alguns parceiros e até feito outros desistirem de trabalhar pela plataforma por acreditarem que os ganhos não compensam mais o volume de trabalho. Após um ano de funcionamento do app no Grande Recife, há ainda quem acredite que a concorrência é normal e aposte nas estratégias diferenciadas para garantir um bom faturamento.



A reportagem do NE10 questionou no Facebook se os motoristas sentiam a queda no faturamento e recebeu diversos depoimentos sobre o tema. Imagem: reprodução do Facebook

Cleverson chegou a ganhar R$ 8 mil por mês com a Uber

Cleverson chegou a ganhar R$ 8 mil por mês com a UberFoto: acervo pessoal

Cleverson Luiz foi um dos primeiros a fazer parte do serviço de transporte particular quando a plataforma chegou no Recife, em março do ano passado. Na época, estava desempregado e pensando em deixar o País em busca de outras oportunidades. Com a chegada da Uber, ele decidiu testar e se viu apurando cerca de R$ 8 mil no primeiro mês trabalhando oito horas por dia. "Tinha pouco motorista para muita demanda. Não se ficava um minuto sem corrida. Era deixar um passageiro e pegar outro. Foi um início excelente, até mesmo porque a Uber dava muitos incentivos, como as promoções", relembrou.

Hoje, na visão de Cleverson, a história está bem diferente. "Nesse um ano eu fui percebendo o movimento cair. Começou com a Uber cortando os incentivos, depois o número de motoristas filiados aumentou muito. Agora eu tenho que trabalhar 10 ou 12 horas por dia para fazer R$ 600 por semana", contou o motorista da Uber. Para tentar mudar de ares e arrecadar um pouco mais de dinheiro, Cleverson tentou rodar em João Pessoa, onde a oferta de motoristas é menor e acabou sendo surpreendido por outros recifenses que tiveram a mesma ideia.

Embora siga trabalhando como motorista da Uber, Cleverson alega que está procurando voltar para sua área de atuação no mercado de trabalho. Para ele, é necessário buscar outra fonte de renda, já que os ganhos reduziram drasticamente. "A Uber precisa parar de colocar novos motoristas. Está ficando inviável. Além disso, hoje os carros cadastrados estão saindo do padrão proposto pelo aplicativo. Tem muito Uber com carro quebrado, sujo, o negócio está meio desorganizado", ressaltou Cleverson.


Cleverson mostrou seus extratos de três semanas diferentes, sendo uma no primeiro mês - março, outra entre novembro e dezembro, e mais uma do último mês de fevereiro. Imagem: cortesia

A proposta de bons ganhos financeiros também atraiu o estudante universitário Thiago Ferreira que ficou desempregado no meio do ano passado. Temendo as confusões envolvendo motorista de UBer e taxistas preferiu aguardar um pouco antes de entrar no time do aplicativo. Mas a experiência de dois meses na plataforma não foi como esperava. Em janeiro deste ano, Thiago decidiu trocar de carro para se adequar às exigências da Uber e começou a rodar nas ruas do Grande Recife. Na última segunda-feira (6) ele desistiu e desvinculou seu veículo na ferramenta. "Na Uber você sai por expulsão [quando comete alguma falha grave] ou por falta de uso. Agora que desvinculei meu carro vou esperar a saída por falta de uso", comentou.

"Eu tinha um Ford Ka 2013, duas portas, e, mesmo desempregado, entrei num financiamento para pegar um Sandero 2015, quatro portas. Apostei na Uber, mas agora se não arranjar um emprego logo vou ter devolver o carro", lamentou Thiago que esperava faturar pelo menos R$ 1.800 por mês, depois de custear os gastos com gasolina, manutenção, seguro e as próprias taxas da Uber. Nos dois meses trabalhando como motorista da ferramenta ele tem apurado - após pagar os gastos 'fixos' - cerca de R$ 1.000, mesmo rodando até 14h por dia pelas ruas do Grande Recife.

A opinião de Thiago Ferreira também é de que o grande número de motoristas que entram para o time da Uber todos os dias tem gerado uma grande concorrência. Mas ele também pontua outras questões que o fizeram decidir deixar a Uber: insegurança e falhas do aplicativo no repasse financeiro das corridas feitas. "A gente fica muito exposto porque não há qualquer registros dos passageiros. A cobrança do CPF no momento da chamada já ajudaria muito. Mas também tem as falhas do app que a gente precisa ficar conferindo corrida por corrida pra ver se está recebendo o valor correto por elas. Isso é muito desgastante depois de um dia inteiro de trabalho", reclamou Thiago Ferreira.

A concorrência após a entrada de muitos motoristas estaria causando a baixa no rendimento. Foto: reprodução do aplicativo

Embora as reclamações de redução drástica dos faturamentos sejam frequentes, o produtor de vídeo Gilberto Jerônimo da Silva acredita que "o problema" pode estar nos motoristas, e não no número de motoristas vinculados ao aplicativo. Ele faz parte do time desde a primeira semana de Uber no Recife e reconhece que houve uma baixa no apurado mensal, mas nada que o faça pensar em deixar o serviço. "Sem dúvida, no começo se ganhou muito dinheiro. A Uber trazia muitos incentivos. Mas hoje ainda dá para fazer um bom dinheiro. É preciso apenas traçar algumas estratégias, saber rodar nos locais certos e nas horas certas", comentou ele que trabalhava sempre das 18h às 23h e está sempre ligado nas festas e grandes eventos que chega à cidade.

"Tudo na Uber é muito relativo. Você tem que estar ligado e ter uma meta diária, mas já houve dias de eu tirar somente R$ 30, mas no dia seguinte fazer quase o dobro da minha meta. Então um dia compensa o outro", ressaltou Gilberto que ainda completou: "o problema é que o desemprego faz as pessoas encontrarem na Uber um jeito de trabalhar, mas eu acho que a ferramenta é muito mais para fazer um extra no final do mês. Tenho muitos amigos trabalhando exclusivamente com a Uber que reclamam, mas é a única fonte de renda que eles têm hoje", resumiu.

Gilberto segue satisfeito com os ganhos através do app

Gilberto segue satisfeito com os ganhos através do appFoto: acervo pessoal

Satisfeito com seus ganhos com a Uber, Gilberto só sente falta de uma fiscalização maior quanto aos carros que estão se cadastrando que, segundo ele, estão fugindo dos padrões de qualidade, e da insegurança. "Eu já fui assaltando duas vezes. A gente tem grupos de Whatsapp só pros motoristas que são parceiros e a gente se ajuda. Já conseguimos até mesmo evitar um colega fosse assaltado por um passageiro. Seria bom que o aplicativo criasse um mecanismo que nos desse um pouco mais de segurança para trabalhar", opinou Gilberto Jerônimo.

Nesta sexta-feira (10), inclusive, motoristas da plataforma se uniram em protesto após três motoristas morrerem 'por engano' em apenas uma semana no Grande Recife. No sábado (4), Rodrigo Paudarco Bahia, de 32 anos, foi morto a tiros na Avenida Central, em frente à Estação de Metrô da Mangueira, na Zona Oeste do Recife. Nessa quinta, Daniel da Silva Santos, 32, que além de condutor pelo aplicativo também cursava ciências contábeis, foi assassinado no bairro de Águas Compridas, em Olinda. Nesta sexta, a terceira vítima seguida foi Maycon Renan Duarte Brito, 28, que foi morto após ser atingido por um disparo de arma de fogo enquanto dirigia no Ibura, Zona Sul do Recife. Os três motoristas assassinados estavam transportando ex-presidiários.

Uber reafirma vantagens financeiras do app

Procurada pela reportagem, a Uber informou que não passa informações como número de usuários e motoristas por estado, apenas o geral: hoje a empresa atuam em mais de 40 cidades brasileiras, conta com cerca de 50 mil motoristas cadastrados e atende cerca de 9 milhões de usuários. A empresa também não comentou se o faturamento diminuiu em tempos de crise, e reservou-se a enviar uma nota oficial explicando que o objetivo do aplicativo é deixar o motorista vinculado ocioso pelo menor tempo possível.

"A Uber trabalha todos os dias para que a plataforma seja benéfica para usuários e motoristas parceiros. Nossa tecnologia permite que motoristas parceiros realizem mais viagens por hora e fiquem menos tempo rodando entre uma viagem e outra. Isso combinado proporciona aumento dos rendimentos.

Para maximizar os ganhos dos motoristas parceiros, a Uber tem algumas iniciativas. Dentre elas está o programa Momentum, que consiste em uma parceria com empresas que oferecem desconto aos motoristas parceiros em diversos itens como seguros, manutenção do veículo e combustíveis. Além disso, no próprio aplicativo e em tempo real, os motoristas parceiros têm acesso às regiões com alta demanda. Quando o preço dinâmico está ativo, viagens iniciadas nessas regiões podem aumentar os ganhos. Por fim, compartilhamos semanalmente os dias e horários com mais demanda, para facilitar o planejamento dos motoristas parceiros que quiserem gerar mais renda."

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